Dia 330

Ó gato, gato. Caramba, parece que tenho um agrafador ao fundo da cama. 
Não me voltas a morder os dedos dos pés, hã?
E eu não volto a confundir-te com o saco de água quente. 
Combinado? Combinado.
(Projecto 365)

Dia 329

As árvores falam. Comunicam com quem as consegue entender.
Aprender a linguagem das árvores é quase como aprender uma língua estrangeira.

Temos de pôr de parte as regras gramaticais da nossa língua para aprender as regras da nova língua. É um pouco assim que se passa com as árvores.

Para conseguir escutá-las, temos de começar por tomar consciência que somos pequeninos e que as árvores são grandes.

Que o mundo não é nosso, mas delas.

Temos de olhar para cima com respeito, e ver como as árvores se inclinam sobre nós a observar.

A nossa audição, agora desperta, vai ouvir a voz subtil das árvores, o bater de folhas que a aragem da noite faz cantar e sussurrar baixinho. Deixamos que esse sussurro entre em nós de tal forma que nos sentimos uma parte do Todo, um ramo da árvore.

No dia em que conseguires sentir isto, já dominas a linguagem das árvores.
Guarda bem os segredos que as árvores te contarem.
(Projecto 365)

Dia 327

Isto devia estar num Museu. 
É uma borracha que me ofereceram quando eu tinha uns... 6 anos.
Esteve sempre guardada, embrulhada no plástico protector.
E foi preciso chegar aos trinta e tal anos para me decidir a desembrulhar o plástico e usar a borracha do Pierrot. Caramba, que deprimente!
Faça o que eu digo, e não o que fiz: não guarde nada. 
Não ache que as coisas são boas demais para si. Use tudo o que tem!
Não seja uma mulher/homem de trinta e tal anos com uma borracha do Pierrot no estojo!
(Projecto 365)

Dia 326

 Não é quem acredita em magia que vive numa ilusão. É ao contrário.
Se, para si, 'magia' é só uma palavra bonita que se vê nos livros, é porque vive pela metade.
É como uma laranja que se corta ao meio. A magia é a metade mais doce e saborosa.
(Projecto 365)

Dia 324

Dorme bem, meu doce Peter Pan. Quando fechas os olhos, a tua cama transforma-se num tapete voador, que rasga os céus estrelados e viaja para a terra das Fadas e dos Elfos.
Já estás a aprender a ler. Para o ano já vais conseguir ler o que a mamã escreve.
Por isso, este post é uma mensagem que envio para o futuro, como um papel enrolado dentro de uma garrafa atirada ao mar: Amo-te, filho. Meu menino de veludo.
 (Projecto 365)

Dia 323

Só assim consigo escrever. Embriagando-me com os meus próprios pensamentos, engolindo em golfadas as emoções, soluçando vírgulas e respirando parágrafos. 
(Projecto 365)

Dia 322

A chuva fria escorre pelo chão das ruas escuras e solitárias. Parece que os Deuses estiveram à espera que todos chegassem a casa para poderem lavar o mundo, que estava cansado. Precisava de ser refrescado, ganhar um novo fôlego.

E assim foi. Abriram as comportas dos céus e enviaram a Água durante a noite.

Que lavou as ruas, purificou o Ar e alimentou a Terra. Para depois evaporar novamente com o Fogo escaldante do Sol.

Na manhã seguinte, cheirava a terra molhada e as folhas verdes das plantas reluziam. As pessoas cumprimentavam-se com genuína simpatia.

O senhor do talho cortava bifes mais generosos, o cão da D. Hermengarda não mordia o rabo do carteiro [vocês sabem lá o que dói levar uma dentada de cão no rabo!] porque estava entretido com um osso.

Os casalinhos de namorados desenhavam corações nos troncos das árvores e o Sr. Antunes dava pulos de alegria porque a verruga do queixo que o arreliou anos a fio caiu durante e noite. ahahahaha

O mundo acordou feliz, porque os Elementos estiveram em harmonia.
E o martelo de Thor, que estava prestes a destruir tudo, ficou guardado.
(Projecto 365)

Dia 321


Atravessas a ponte?

Nesta margem é seguro porque já sabes o que existe.
Na outra, espera-te o desconhecido.
O rio sussurra baixinho por entre os seixos, "anda... anda...".

Arriscas?
Se não arriscares, nunca saberás o que há do outro lado. E o rio vai rir-se de ti enquanto houver água para correr.

Olha que os rios sabem muito.
Ah, anda lá!

Pé ante pé. Isso. Eu dou-te a mão.
Não ligues aos joelhos trémulos.
Segue em frente. Só mais dois passos.
Está quase. Abre os olhos agora, chegaste ao outro lado.
Foste muito corajoso. Tens agora o mundo inteiro do outro lado do rio. Só para ti. Disfruta.
(Projecto 365)

Dia 320

As ovelhas são queridas, com o seu casaquinho de lã sempre vestido e o característico caminhar pachorrento pelos campos em busca de erva fresca.
Obedecem sempre ao pastor, como boas ovelhinhas que são. Diz-se que, se uma cai de um precipício, as outras lançam-se em seguida, pois não são muito inteligentes.
Pronto. Então é por isso que sempre fui uma ovelha ranhosa e tresmalhada.
Porque vou sempre por um caminho diferente e não sigo pastores.
Está explicado.
(Projecto 365)

Dia 319

  
Tirar as sementes de uma romã. Ora, vamos lá:
Corta-se ao meio. Depois, vira-se a metade da romã para baixo e bate-se com firmeza com uma colher de pau. Repetir o procedimento com a outra metade. Feito!
Na foto, uma metade de romã sem as sementes.
(Projecto 365)

Dia 318

De acordo com a Wikipédia, "o Tango mescla o drama, a paixão, a sexualidade e a agressividade.
O ritmo é sincopado, tem um compasso binário.

A síncope é de uma nota tocada no tempo fraco que se prolonga até um tempo forte, o que movimenta a música e desloca acentuação do ritmo."

É preciso duas pessoas para dançar o Tango.
E este vestido de veludo que está ali no cantinho do meu roupeiro. Hmm hmmm.
(Projecto 365)

Dia 317



Velhos hábitos que nunca mudam.

Marcar o livro que estou a ler com uma pena.
Prender a pena atrás da orelha quando estou a ler.
Recolocar a pena no livro quando termino de ler.
(Projecto 365)

O Amor

O Amor.

A brisa levanta algumas folhas secas, que descrevem espirais estonteantes no ar como se dançassem a música que as Fadas tocam. A Natureza mostra-se estranha e misteriosa. 
Não se ouve um pássaro, apenas um som longínquo que se assemelha ao marchar incessante de um exército de gigantes. Este som cadenciado aproxima-se cada vez mais. 

É uma tempestade terrível. E eis que os Deuses lançam relâmpagos que partem o espelho dos céus e mergulham nas profundezas da Terra, queimando tudo até ao âmago. 
O ciclone que anuncia o fim do mundo varre toda a superfície da Terra, arrancando as árvores pela raiz e desfazendo os mais sólidos rochedos em pó. 

As vozes dos pequeninos e insignificantes mortais que lançam pragas e maldições aos Deuses não se ouvem ante a grandiosidade do momento.

Os oceanos em fúria erguem-se numa única onda colossal que lambe os desertos sugando até ao último grão de areia. Os ventos ateiam os fogos que tudo devoram. 
A Água colide com o Fogo e todos os Elementos fundem-se num só. 

Toda a estrutura do planeta Terra é abanada em sucessivas explosões orgásmicas que se propagam pelo espaço e abalam a serenidade da Lua, fazem tremer os anéis de Neptuno, e todo o Universo, assim como os Universos seguintes, entram em colapso.

E chega o silêncio. A mão divina desenha a pincel um novo mundo com novas cores, novas texturas, novos cheiros. O ar fresco e puro invade os pulmões da Terra. 

A areia espalha-se criando novos desertos e a água salgada enche novos oceanos. 
Novas árvores brotam da terra fértil e o chão relvado transforma-se em veludo onde deslizam num tango interminável as duas Almas para quem os Deuses orquestraram tudo. 
O Amor é... uma catástrofe da Natureza.

Dia 314

A noite é uma mulher de cabelos de veludo negro, com perfume de musgo e olhos de obsidiana.

Caminha majestosamente e sem fazer barulho, enquanto cobre as ruas com o seu manto.

É bela aos olhos de alguns, mas tenebrosa para outros.

Durante o seu reinado de trevas, abrem-se os portais dos mundos e criaturas estranhas observam-nos atentamente enquanto dormimos. Se abrirmos os olhos naquele momento de vigília que às vezes se interpõe entre um sonho e outro, conseguimos vê-las. Experimente. Se tiver coragem...
(Projecto 365)

Dia 313

O meu primeiro bolo azul.
Verdade seja dita: depois de assado, as fatias pareciam esponjas de lavar a loiça. 
Mas sabia bem. :)
(Projecto 365)

Dia 312

A lição das árvores.

Não podemos lutar contra os ciclos. Quando vem aquele frio que nos gela e queima ao mesmo tempo, não adianta agarrarmo-nos às folhas verdes na esperança de que o Verão não parta.
Até porque elas amarelecem.

Por isso, deixemo-las cair. Libertemo-las. Não tenhamos medo do vazio, da feiúra e do desalento.

Porque enquanto as folhas secas estalam sob os pés das crianças que correm e riem pelos jardins, a seiva continua a correr lentamente nos ramos das árvores. Não morreram.
Só estão à espera da Primavera.
(Projecto 365)

Dia 310

Canetas de feltro.
Sempre gostei, sempre gostarei.
Quando era pequena, recebi uma vez um estojo com 100 canetas de feltro no Natal.
Ora. Não me importava de receber outra vez. :)
(Projecto 365)

Dia 306

Porque uma mulher deve defender-se.
Umas usam frigideiras, outras usam vassouras.
Eu uso a minha vassoura para voar.

Por isso, para me defender dos malfeitores e correr com as Testemunhas de Jeová que tocam à campainha nos Domingos de manhã e com os vendedores de enciclopédias, uso esta terrível arma letal, que adquiri no mercado negro: um batedor de tapetes! Ah!
(Projecto 365)

[Nota: Se você for Testemunha de Jeová, isto é uma brincadeira, hã? - (Nunca se sabe)]