O Príncipe do Egipto


[A vida é uma fascinante e surpreendente teia de aranha que não tem começo nem fim, onde todos eventualmente nos (re)encontramos nos pontos em que os fios se tocam...]


Há vários anos atrás, uma mulher ficou com a sua vida virada do avesso. As tempestades foram implacáveis, e os marinheiros do seu navio, fracos e influenciáveis, iludidos pelo canto cruel e enganador das sereias, desertaram, deixando-a sozinha a lutar contra as forças do mar negro e revolto.

Os ventos levaram-na para outras paragens; um porto onde trabalhavam pessoas de várias nacionalidades diferentes. Lá, conheceu o Príncipe do Egipto.

O Príncipe do Egipto era sábio, educado, generoso e humilde. Era genuinamente assim, para todos sem distinção. Um homem de família e de valores, como aqueles que os livros descrevem. Foram muitas as vezes em que ela se sentou a almoçar com o Príncipe do Egipto, e ele, na sua infinita bondade, partilhou o seu almoço, cozinhado pela sua amada esposa.

Um dia, o vento mudou de direcção, e chegou a hora de ela partir para onde as estrelas apontavam.

A viagem pelos mares levou-a para lá do vento Norte, até uma terra de paz e de luz, onde pôde lançar âncora e construir uma nova vida, abençoada pelos Deuses, e onde apenas permitia entrada àqueles que tinham amor e lealdade a oferecer. Os anos passaram com a doçura e a bonomia dos ventos estivais.

Os marinheiros que outrora tinham ido embora, tentaram voltar para o navio quando as velas resplandecentes pelo Sol o tornaram de novo atractivo, e útil para os seus intentos.
Mas o navio não tinha lugar para desertores.

E os fios da teia do destino fizeram outro cruzamento inesperado; ela voltou a encontrar o Príncipe do Egipto, que a tinha ajudado no tempo em que usava um manto de farrapos em vez do manto de luz. Foi grande a sua alegria por ter a oportunidade de agradecer.

Contudo, o Príncipe encontrava-se triste e preocupado; a sua amada mulher estava doente.
A mulher do manto de luz pediu ao Príncipe do Egipto que trouxesse a sua amada para a sua terra, onde tudo faria para a ajudar, retribuindo a ajuda que um dia recebeu.

Nada é deixado ao acaso no Universo. Todos acabamos, de uma forma ou de outra, por colher o fruto das nossas acções. Que estas sejam as mais nobres.
Aprendamos com o Príncipe do Egipto.

Para lá do vento Norte,

Hazel

Acordar tão cedo que ainda é ontem


4:56, e eu a pé. Não por alguma urgência imparável intestinal, mas porque as 4 horas de sono que dormi hoje foram o suficiente. Ponto de exclamação. Os meus olhos abriram como janelas para o mundo, sem a névoa pesada que os volta a fechar quando tenho sono.
Então, calcei as pantufas e lancei-me ao dia.

Fui à janela olhar para o céu. Ainda escuro, salpicado de estrelas. Não há carros a passar, apenas o vento frio, o galo de alguma casa ao longe que anuncia a chegada do dia, e o ponteiro dos segundos do relógio da cozinha, que marcha num compasso perfeito e implacável como um soldado que nunca se cansa.

Talvez me tenha tornado sonâmbula, e ande para aqui de pijama e tranças pela casa julgando-me acordada. Preparo um chá de frutos vermelhos, e bebo-o devagarinho, para ter a certeza que isto não é um sonho.

Rio-me sozinha, pensado que é mais sensato não ir à casa-de-banho - vai que estou mesmo a sonhar? Não, estou acordada. É a sério... Que bênção, um dia enorme pela frente!

Vou preparar tudo para me sentar a meditar no local exacto onde o Sol me vai banhar quando o dia nascer.

De pijama às riscas,

As Lições do Bosque


"Terra, ensina-me a quietude, como a relva é silenciosa pela luz.
Terra, ensina-me a sofrer, como as velhas pedras sofrem com a memória.
Terra, ensina-me a humildade, como as flores são humildes nos seus primórdios.

Terra, ensina-me a acarinhar, como a mãe que envolve o seu bebé.
Terra, ensina-me a coragem, como a árvore que se eleva solitária.
Terra, ensina-me a limitação, como a formiga que rasteja no solo.

Terra, ensina-me a liberdade, como a águia que paira no céu.
Terra, ensina-me a resignação, como as folhas que morrem no Outono.
Terra, ensina-me a regeneração, como a semente que brota na Primavera.

Terra, ensina-me a esquecer-me de mim, como a neve que derrete esquece a sua vida.
Terra, ensina-me a lembrar-me da bondade, como os campos áridos choram com a chuva."

"UTE" Philip Novak
A escutar as árvores,

Hazel

O homem-árvore


"Como uma árvore, o rei da floresta, assim é o homem exactamente.
Os seus pêlos são as folhas, a sua pele, a casca exterior.

O sangue escorre da sua pele como a seiva da casca da árvore.
Do homem ferido, jorra como a seiva da árvore em que batemos.

As carnes são ramos. Os tendões são o alburno, o que é firme.
Os ossos são o cerne da madeira. E a medula é como a medula.

A árvore abatida cresce de novo da sua raiz, renovada.
Mas o mortal que a morte abate, de que raiz crescerá de novo?

"Do esperma!" Não digais isso: este só é gerado por um vivo.
Como uma árvore crescendo de uma semente, morto, vemo-lo renascer.

Se a arrancamos com as suas raízes, a árvore nunca mais revive.
Mas o mortal que a morte abate, de que raiz crescerá de novo?

Ele nasceu, não nasce. Quem poderia fazê-lo renascer?
Conhecimento, beatitude, sagrado, recompensa de quem dá, refúgio além, de quem fica assim, de quem conhece isso."

Brhad - Aranyaka - Upanixades
Na Paz do Bosque,

Hazel

Ladrões de Tempo


Alguém anda a roubar o tempo.

Vou descobrir quem são esses ladrões de tempo trapaceiros e prendê-los aos ponteiros do relógio, para que se lembrem que o tempo é um assunto sério, que não deve ser apressado nem atrasado.

Sem tempo,

Hazel