O casamento da Elvira

terça-feira, junho 19, 2012


Antigamente, namorava-se à janela. Ou por carta! O primeiro beijo dava-se de fugida, após longo tempo de namoro sempre sob o controle apertado dos mais velhos.

Que os vizinhos nunca o soubessem!
Depois de beijada, uma moça já não tinha o mesmo valor, pois já tinha "sido mexida".

Até que a mão da Elvira era pedida em casamento, sempre com grande formalismo.
O enxoval, reunido desde criança pela família, era lavado para tirar o cheiro da naftalina e preparado para a nova etapa da sua vida junto de um homem que, na realidade, mal conhecia.

Elvira ia nervosa com tantos olhares virados para si no grande dia e gelava de pânico com a perspectiva dos lençóis sujos de sangue que seriam orgulhosamente ostentados pela mãe às pessoas como prova da perda da sua virgindade na noite-de-núpcias (em último recurso, havia sempre o molho de tomate, conforme lhe tinham ensinado as amigas casadas, para safar-se das críticas das velhas alcoviteiras).

[Tudo isto era tão sério e tão pouco sexy]
Foi, como mandava a tradição, vestida de branco e com um bouquet de flores de laranjeira, símbolo de pureza e castidade.

Na realidade, as flores de laranjeira estavam ali com um propósito muito mais específico e útil do que apenas mostrar que Elvira era uma moça virgem.
O neroli, nome pelo qual é conhecida a laranja amarga, produz flores brancas (a flor de laranjeira) cujo perfume tem propriedades calmantes.

O objectivo das flores de laranjeira seria acalmar os nervos pré-noite-de-núpcias da pobre Elvira, que viria a divorciar-se anos depois, quando concluiu que afinal não tinha nada em comum com aquele rapaz com quem namorava à janela.
Bem, na realidade, até tinha: ambos gostavam de homens!

Hoje, a Elvira, senhora com mais de sessenta anos e de espírito de vinte, é activista dos direitos das mulheres, queimou o soutien na última manifestação e não perde oportunidade de viajar para destinos paradisíacos acompanhada das suas amigas tresloucadas.

O rapaz com quem namorava à janela, actualmente vive muito feliz com os seus três gatos e o seu companheiro, um enfermeiro mais jovem que conheceu quando colocou um piercing nas suas zonas privadas e correu mal. Auch!

Os poucos que restam vivos da família nunca lhes perdoaram tamanha devassidão!
E a laranjeira, que continua a dar flor, tem um lindo baloiço onde os netos da Elvira costumam brincar durante as férias de Verão.

NOTA: Esta história é pura ficção!

Beijos de neroli,

Hazel

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8 COMENTÁRIOS

  1. pois ate pode ser ficção, mas é bonita e talvez mais verdadeira do que muitas outras!
    beijinhos da costa alentejana, Xana

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  2. Ficção inspirada na mais pura realidade!
    Beijitos

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  3. Gosto tanto de tuas histórias!!
    *))

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  4. Ficção, mas linda eu achei romantica.Quantas Elviras não existem por ai. Bjss Hazel

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  5. Olá Hazel! Já me fez rir! Pura ficção mas ao mesmo tempo, muito real!Bjs

    Sonia

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  6. Olá querida Hazel!Estás muito inspirada, há sempre muita verdade no que tu escreves , mesmo sendo para rir..
    Tenho saudades, beijinhos para todos.Lídia

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  7. Espera lá. Eu tenho 63 anos e NUNCA NAMOREI NA JANELA. Aos 18 anos cursava a Universidade e frequentava barzinho e quejandos. Vivi o auge do movimento hippie e era livre, leve e solta. Feliz até a raiz dos cabelos e na minha época, já ninguém era obrigada a se casar virgem. Será que é porque sou brasileira?

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