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O país anda à bofetada. As pessoas de Trás-os-Montes que querem desdentar Nuno Markl e José Cid. O anterior Ministro da Cultura com as prometidas carícias faciais em grande velocidade. Os pais dos alunos das escolas públicas versus os colégios privados.
Os clubes de futebol e os seus adeptos enraivecidos. Os activistas dos direitos das minorias, dos animais e dos oprimidos. As feministas. Os machistas. Os ambientalistas.
Os bairristas que rivalizam entre si, esquecendo-se que somos todos um país e não um conjunto de cidades. Os religiosos fervorosos de Belas versus o Projecto Casa Assombrada. Os intolerantes à intolerância. As redes sociais estão a ferro e fogo.
Paf! Voam dentes pelo ar, queimam-se soutiens e reputações, saltam os olhos das órbitas, a saliva ácida escorre nos cantos das bocas que cospem impropérios e maldições e as mesas são socadas com revolta.
Não somos mais um nobre povo de brandos costumes. Esta nostálgica característica ficou adormecida nos livros de História que repousam empoeirados nas bibliotecas, tornou-se uma memória longínqua e difusa, quase fantasiosa.
Não somos mais um nobre povo de brandos costumes. Esta nostálgica característica ficou adormecida nos livros de História que repousam empoeirados nas bibliotecas, tornou-se uma memória longínqua e difusa, quase fantasiosa.
Talvez as pessoas tenham perdido a capacidade de amar, de desculpar e de pedir desculpas, de compreender os pontos de vista dos outros. Talvez não tenham tempo para isso; porque está trânsito; porque chegam tarde a casa; porque estão cansados e com carências vitamínicas; porque os vizinhos têm a música alta e já não suportam mais o ritmo infernal da kizomba; porque estão com alergia ao pólen, de narinas entupidas, ranho a ameaçar sair e os nervos à flor da pele. Apetece gritar, apetece mandar tudo e todos para o raio que os parta.
Esta semana, a carta 5 de Paus chama-nos a atenção para as batalhas, conflitos e rivalidades, e a forma como tudo isso nos absorve a energia e o romantismo, deixando-nos cansados e intratáveis.
Esta semana, a carta 5 de Paus chama-nos a atenção para as batalhas, conflitos e rivalidades, e a forma como tudo isso nos absorve a energia e o romantismo, deixando-nos cansados e intratáveis.
“Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Nesta casa que habitamos, estamos a alimentar-nos de migalhas. Erguem-se as vozes acusadoras, a culpa é dos governos! - dirão. Seja. Os governos - que, a propósito, fomos nós que escolhemos - podem ser os responsáveis pelo estado de crise económica - pela falta de pão para o corpo. Mas o pão para a alma, ninguém pode procurar por nós. Erguem-se novamente as vozes acusadoras, mas eu não acredito em religiões! Não precisamos de religião para alimentar a alma. Precisamos, sim, de alegria, amor, perdão para aqueles que o merecem e paixões.
Cada um que procure a sua forma de lá chegar, sem se contentar com migalhas, sem atacar os outros e sem aceitar que os outros o desrespeitem. Porque se observarmos com algum distanciamento emocional, veremos que é exactamente isso que temos andado a fazer. Quem sabe se, de alma alimentada e com uma maior verticalidade espinal, não recuperaremos a nobreza de alma, a coesão, a paz e até mesmo a economia. Ainda acredito nisso.
Hazel
Hazel
Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 09 Junho
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