Uma breve e inocente crónica sobre os prazeres da jardinagem.
FUI VIRGEM DE PODA durante muitos anos —, até há bem pouco tempo.
Fiquei de tal modo surpreendida quando descobri os deleites da poda que agora a poda não me sai da cabeça. Dedico-me à poda de duas semanas em duas semanas. Parece pouco, mas afianço-vos: quando limpo o suor da testa no fim da poda, nem quero pensar em poda tão cedo.
Sempre achei que a poda seria algo que se fizesse devagarinho, com delicadeza, parando de vez em quando para mudar de posição, ora de pé, ora de joelhos, ora apoiado só nos dedinhos-dos-pés.
Foi com esta ideia ingénua e romântica que me preparei para a minha primeira poda. Prendi o cabelo, respirei fundo e decidi começar de pé. Logo passaria para outras posições consoante fosse ficando cansada ou me achasse já satisfeita.
Confiante, agarrei o instrumento com ambas as mãos — porque era grande — e movi-o delicadamente. Mas nada aconteceu.
Querem lá ver que o instrumento está estragado?, pensei.
Afinal não estava. Eu é que tinha falta de jeito para a poda, pois nunca tinha experimentado.
Segurei-o com mais força, percebendo com espanto que afinal a poda nada tem de idílico ou de relaxante. Vá-se lá saber, a poda é uma actividade bruta. Requer destreza, preceito, agressividade. Para uma poda bem feita é preciso fazer movimentos firmes e secos. Diria mais, violentos, como se estivéssemos com ganas de amputar um membro a alguém.
Quando a poda acabou, fiquei cheia de marcas no corpo. Valha-me Deus. Que poda. Foi então que esta vossa escriba tomou conhecimento de quatro grandes verdades sobre a jardinagem:
Verdade número 1: As buganvílias têm picos;
Verdade número 2: As buganvílias crescem que se farta;
Verdade número 3: As buganvílias grandes têm que ser podadas de duas em duas semanas;
Verdade número 4: O fado das tesouras de poda é que não podem ser manuseadas com mãos de fada. As maganas só podam se forem abertas-e-fechadas violentamente, como se quiséssemos matar alguém.
Se o leitor sentir os ânimos frouxos, falta de entusiasmo pela vida, ou moleza generalizada, poderá colher grandes benefícios se se dedicar à poda.
Quem de tudo isto achar uma alarvice, que faça também a fineza de dirigir-se à poda e por lá permanecer.
E o mui nobre e condescendente leitor que abana a cabeça em apoquentamento,"Hazel, que vem a ser isto? Não podes escrever sobre a poda!"? A poda é o alegre e viçoso destino para onde recomendo que se desloque sem mais delongas.
Aquele que se ocupa da poda manual, sem assistência de equipamentos eléctricos, certamente estará solidário comigo. E se não estiver, que se dedique mais à poda para saber aquilo que a poda é.
No fundo, vão todos à poda. E eu vou também. Mas agora só daqui a duas semanas.
No fim da poda,
Hazel
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