O Defunto


Ai! Então, não é que encontrei um defunto a viver no meu roupeiro?
Tinha-o lá guardado há tanto tempo que me esqueci dele.
Lá estava, bem direitinho, como compete aos defuntos, com o usual saco de plástico preto a envolvê-lo. Não podia ser; resolvi ressuscitá-lo.

Abri com cuidado o fecho éclair do saco preto, e encontrei o defunto em perfeito estado de conservação. Nem um odor sinistro que acusasse o seu estado de abandono prolongado.

O defunto era um casaco preto e longo que certa vez comprei para usar em dias de festa.
Homessa, mas que me teria passado pela cabeça? "Dias de festa" - imagine-se.

Então, não é verdade que todos os dias são dias de festa?
E que todos os dias celebramos mais um dia de vida?
Que a grande festa está em ter dias para contar, em vivê-los, assim... viver, mesmo?

É.

Estamos à espera de quê, enquanto as traças dançam o tango nos buracos dos nossos mais adorados e preciosos atavios? Não há mais roupas de festa aqui em casa. Finito! Acabou. Qual "dias de festa", qual quê.

Se me virem a fazer compras no supermercado com um vestido de veludo ou uma tiara de princesa, não me chamem excêntrica. Ora, chamem-me... festiva.

A grande festa da vida merece ser celebrada todos os dias, a cada nascer do Sol.
(mesmo em dias nublados)

A celebrar a vida,

Dia 34

"Cuidado com aquilo que desejas."
Tanto desejei tornar-me uma madrugadora, que aqui estou a testemunhar o renascimento do Deus-Sol, após uma noite em que só dormi 2 ou 3 horas.
Oh minha Deusa, também não pedi tanto...

Dia 33

Viver magicamente é isto. Virar-me para o mar, juntar as mãos sobre o peito, inclinar-me para a frente, e agradecer à Fonte Divina, a Iemanjá, e ao profundo Oceano pelas revelações e bênçãos que me foram concedidas hoje.

O meu profundo e sentido agradecimento.
Que eu tenha sempre a Justiça de um lado e o Amor do outro.

E só depois de ter regressado de fora do tempo para o tempo contado pelo calendário, é que vi que hoje é dia 2 de Fevereiro, um dia consagrado a Iemanjá. Viver magicamente.