Cisne Negro


Na torre do lago mora um cisne negro com mais de 100 anos.
Já vivia naquele lago quando todas as pessoas que existem hoje no mundo nasceram.
Nos dias cinzentos, desliza silenciosamente sobre a água.
Espera por alguém.
Dizem que na Lua Azul levanta vôo, assumindo a forma de mulher com um vestido preto.
Quem tiver a audácia de a observar... não sei o que lhe acontece.
Na próxima Lua Azul conto-vos. Ou não.

Hazel

Dia 278

Levo uma almofada, coloco-a no chão sobre as raízes, e encosto-me ao tronco da árvore.
Fecho os olhos. Sinto-me una com ela. 
Os meus cabelos são as folhas nos ramos mais altos que alcançam o céu.
O musgo cobre-me de verde o corpo nu e os meus pés são o prolongamento das raízes.
Sou Terra e sou Madeira.
Sou sólida, silenciosa e densa.
Tenho a força do Universo em mim.

[Eu não ando nua aí pelas florestas, hã? 
Vejam lá. Isto é só um exercício mental.]

Dia 277

Às vezes, gostava de ser um passarinho
Quando quisesse, ficava sozinho
Sem ter que dar explicações
Das minhas opções e decisões.

Voava bem alto, furava as nuvens cinzentas
E aquecia as asas nas tardes solarentas.

Não sei fazer poemas com a métrica certa
Mas é divertido na mesma, se tivermos a mente aberta

Se fosse pássaro, seria maroto e travesso
Àqueles que me lançassem palavras feias de arremesso
Gostava de poder dizer sem que mal vos pareça
Que lhes c***** em cima da cabeça.

Ai, que disse um palavrão no meu blog, quem diria
Perdoar-me-ão tal ousadia?
Pronto. Voltei atrás e coloquei asteriscos
Que é melhor não correr riscos.

Dia 276

Foram precisos 34 ciclos de estações do ano para me decidir sobre qual é a minha favorita.
É o Outono. Por causa de Mabon e de Samhain.
Pela forma como as árvores libertam as folhas secas lembrando-nos que chegou o momento de nos libertarmos também do que morreu dentro de nós.

Pelos pijamas de flanela e o leite com chocolate antes de dormir.
Pelas abóboras e pelo Sol mais amarelo que no resto do ano. Pelos casacos de malha.
Pelo mergulhar nas trevas invernosas, que trazem a promessa do retorno da Luz.
Pelas castanhas assadas, a batata doce e as romãs que ganham a cor rubra.

Pelas noites frescas e a manta que se põe aos pés da cama para o caso de ser precisa.
Pelas janelas embaciadas, que convidam a desenhar símbolos mágicos com o dedo.
Pelo musgo que recomeça a crescer nos troncos das árvores.

Pelo cheiro a chuva, mesmo que não tenha chovido, quando saímos de casa no início do dia.
Pela introspecção. Pela esperança. Pela paciência, que havíamos perdido com os calores secos e ansiosos do Verão, mas recuperamos quando chega a frescura do Outono. 

Dia 275

É o melhor que consigo arranjar no século XXI.
Pelo menos, tem a vantagem de se poder limpar inteirinho só com um pano de pó.