Conversar com árvores

sábado, dezembro 13, 2014


Foi num Equinócio de Outono que me tornei amiga de uma árvore. Numa pequena mata com várias árvores e arbustos, encontrei uma área onde o chão está coberto por um grande quadrado de cimento, talvez despejado dos restos de uma obra. O cimento rachou e, de dentro da fenda, nasceu um loureiro.

Solitário e inacessível como um náufrago que habita uma ilha de cimento, observa ao longe a dança entrelaçada de todas as outras árvores ao compasso do vento.

Suspendi-me no tempo, em contemplação, sob o Sol profético de Setembro, encantada na beleza e no verde perfume das suas folhas. Sussurravam ecos do êxtase pítico, evolados pelos fumos apolíneos de Delphi.

Que intrigante ironia das tramas do destino, a do tenaz loureiro emergir das profundezas da terra justamente na fenda do cimento, assim como a Sacerdotisa mediava no Oráculo, sentada na trípode sobre a fenda de onde a serpente exalava os vapores sagrados.

O loureiro olhou-me de volta com os seus olhos verdes de clorofila e reconhecemo-nos um no outro. Disse-me para jamais esquecer que uma árvore nasce de uma semente e cria as suas próprias raízes, onde se deve apoiar, erguendo-se alta e plena de si. É esse o caminho do Sol, apontaram os seus ramos, que se trilha com perseverança, graça e verticalidade. Uma árvore nunca desiste. Tudo vê, tudo ouve, tudo sabe — e nada a perturba.

Com a permissão de Dafne e Apolo, trouxe alguns dos seus ramos para casa. Ocasionalmente, queimo uma folha, em honra da sábia serpente que ascende em espirais de fumo até àquele lugar por onde viajam na carruagem de Apolo os que conversam com árvores e ainda crêem que os Deuses vivem.

Sob os ramos do loureiro,

Hazel

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