Uma Questão de Atitude

quarta-feira, março 16, 2016

A auto-confiança é uma peça de roupa absolutamente impecável, sem vinco nem mácula, que assenta como uma luva sobre a nudez humana. 

É de tal forma valiosa, que todas as lojas de roupa oferecem a ilusão de proporcioná-la. As marcas mais caras elevam a fasquia - quanto mais inflaccionado o artigo, maior a imagem de poder e segurança em si próprio que o seu portador irá transmitir. 
As pessoas não têm feito outra coisa nas últimas décadas, senão comprar auto-confiança com prazo de validade - que dura até ao fim da estação, quando as roupas passam de moda. 

Para que sejamos felizes, amados e bem-sucedidos, temos de ser confiantes. 
É um ingrediente essencial. Na sua falta, prevalece uma fragilidade que nos isola e faz sentir incapazes. Se avaliarmos com um distanciamento quase estrelar, todo este jogo de espelhos em torno da imagem cria a ilusão de auto-confiança ao mesmo tempo que no-la retira e mantém reféns de uma aprovação que achamos precisar.

Mas, afinal, o que é a auto-confiança? Consiste em confiar em nós mesmos, não nas roupas que usamos, ou no carro que temos. Confiar no interior, sem depender do exterior. Teoricamente, deveria ser assim. Na prática, não é. Na essência, continua a ser.

Isto remete-me a uma entrevista de emprego a que assisti certa vez, numa multinacional igual a tantas outras. O jovem entrevistado apareceu de calções com padrão colorido havaiano, t-shirt e chinelos de enfiar no dedo. Enquanto dissertava sobre as suas anteriores experiências profissionais, de perna esquerda traçada sobre a direita, brincava distraidamente enfiando o dedo indicador entre os dedos do pé.

É interessante recordar o contraste entre o rapaz que trazia as pernas cheias de areia da praia e os funcionários da empresa, que caminhavam de forma muito séria e profissional, desprovidos de expressão corporal, como autómatos. Todos usavam o mesmo corte de cabelo, curto, higiénico e discreto, e os mesmos sóbrios fatos de executivo que, na casual friday, davam lugar a uma camisa de corte perfeito e calças de modelo chinos.

Acreditavam-se tão seguros de si que, nos seus olhares jocosos para com o jovem entrevistado, se revelava o quão escravizados estavam pelas normas instituídas. O rapaz nunca se apercebeu. Ou, se se apercebeu, não se incomodou. Ele vestia a verdadeira roupa da auto-confiança. - E ficou com o emprego.

O Rei de Paus, esta semana, desafia-nos a ser quem somos, sem precisar da aprovação de ninguém. A irmos mais longe, desbravando caminho para além das multidões despersonalizadas, manifestando a nossa unicidade. A transformar chumbo em ouro, sendo alquimistas de nós mesmos, pois somos feitos de luz - e nascemos para brilhar.


Hazel
Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 17 Março

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