Poema: Fantasma


Foi lançada hoje a Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea “Entre o Sono e o Sonho” - Volume X, da Chiado Books, onde consta este meu poema:

Fantasma

Liquefaz-se o vestido em
ondas
Água doce, limos verdes
Escorrem em regato
Pelos degraus
do Cais.

Elevo-me
nua
Magra como um pássaro
Branca gaivota.

Vai-e-vem o Tejo
Lambe os pés frios.

Entre as duas colunas
Navios-fantasma
trespassam a névoa
Com perfume de especiarias.

Nas pontas dos cabelos
Agitados pelo vento
Acenam lenços de mulheres
Humedecidos
pelas lágrimas.

Desabotoo o peito
Dele tiro o coração
Cai no convés de um navio
Entre redes, cordas
remos partidos.

Levem-no para longe
Tragam outro novo.

Os velhos marinheiros
tomam-me por sereia
Tapam os ouvidos.

Fiquei de peito vazio.

Hazel

Foto: Hazel, por José António Cavaco