A Vida que não foi Vivida

sábado, março 25, 2023


QUANDO FOR IDOSA, e tiver os cabelos cheios de neve, o rosto marcado de Inverno e as mamas caídas como dois saquinhos de chá colados nas paredes da chaleira, espero não sofrer pela vida que não vivi. 

Pelos palavrões escabrosos que não disse, os momentos ranhosos que perdi a chorar, as fases em que me traí e não acreditei em mim para acreditar nos outros. 

Pelas vezes que me contive de dizer o que pensava, ou de brincar, para não parecer mal; não dancei ou não cantei para não ser ridicularizada. Rais'parta.

Por tantas ocasiões que me apeteceu ouvir música alto mas baixei o volume para não dar nas vistas, e que me encolhi fazendo-me pequenina. 

Pelas memórias que mastiguei como uma pastilha elástica mal-saborosa que quis cuspir para longe mas não desaparecia da minha boca. 

Pelas ocasiões em que me deixei rebaixar por alguém. Em que me doeu o coração e me enfiei na cama sem saber o que fazer com ele, e me permiti ser criticada, aumentando ainda mais a dor que sentia, em que desejei a morte quando na verdade só queria viver. Viver, porra. Viver a sério. Viver. Viver.

Espero não aprender a viver só quando já não houver vida para ser vivida.

Cada vez com mais cabelos brancos (e à procura do manual-d'instruções-disto-tudo),

Hazel
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Foto: Hazel, por José Cavaco

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