Andei a arrumar as gavetas e encontrei um papel dobrado. Abri-o.
Tenho este hábito de escrever coisas, guardá-las e depois encontrá-las mais tarde.
Quase sempre, deito-as no lixo. Mas este, resolvi transcrever para aqui.
Foi escrito há vários meses atrás:
Um pé no Paraíso, outro no Inferno.
Uma mão a tocar a Luz e a outra as Trevas.
Não estou em sítio algum.
Sou uma árvore arrancada da terra pelo furacão, que rebola pelo deserto sem direcção.
Sou o raio de Sol que atravessa as folhas das árvores e surge entrecortado aos olhos de quem passa. O copo de água entornada.
As mãos ossudas, frias e trémulas da Senhora da Solidão alcançam o meu ombro.
Estou aqui, diz-me. Chegou, desta vez sem gritar, através das frestas das janelas mal fechadas, e eu agradeci a gentileza de me deixar habituar gradualmente ao seu gelo.
Sem sustos.
Já somos velhas amigas. Deito a cabeça no seu colo, que se assemelha a um poço negro e sem fundo, e deixo-a embalar-me. Canta-me em voz cavernosa, enquanto as portas abrem e fecham numa sinfonia de rangidos, para acompanhar a sinistra melodia.
Fecho os olhos e deixo-me escorregar para o poço negro e sem fundo.
Algo me agarra por um braço e prende os cabelos. Não consigo descer mais. Estou a meio do poço. Tacteio as paredes à minha volta. São lodosas e frias. Tento gritar mas a voz não sai. Abro os olhos e vejo-a. Afinal, ainda estou no seu colo. Foi só um pesadelo.
A Senhora da Solidão, que nunca dorme, adormeceu.
Comentários
Gosto muiiito de ti...torço muiiito por ti...por ti e teu filho.
Deusa
vasinhos coloridos
Beijinhos flor.
Flores e Luz.
Adoro-te bruxinha!
´Paloma.
Estarei sempre mandando boas vibrações a vc Hazel...Força e Luz!!!
Me sinto assim também...
Michelle Aksan