Para lá desta porta mora uma serpente verde que se confunde com as raízes das árvores. Fria, porém, lasciva e perigosa, observa pelo buraco da fechadura que só abre com a sua língua bifurcada, os intrusos que ousam aproximar-se.
Uivam os lobos que a serpente verde é uma mulher de cabelos ondulados e olhos profundos que vive no coração da serra com uma outra serpente, de cor vermelha.
As duas alimentam-se uma da outra. Os seus corpos sinuosos elevam-se e entrelaçam-se formando uma dupla espiral de fogo num êxtase sublime que faz jorrar a lava das profundezas da Terra até uma constelação longínqua num outro sistema solar, unindo assim vários mundos. Ambas têm o mesmo fogo ardente no centro dos olhos, que acende velas e inflama o vinho antigo, evaporando-lhe o álcool e apurando o aroma das especiarias.
Bruxas e bruxos ao longo dos séculos têm mexido caldeirões para tentar chegar à fórmula desta união, juntando ingredientes mágicos como pó de amor, a vibração da nota mais aguda do teclado de um piano, fumo de incenso de sândalo, brilho de estrelas...
Nunca acertaram. Porque a mistura perfeita apenas os Deuses conseguem produzir.
(Projecto 365)
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