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Encontrar o Silêncio

Há demasiado barulho no mundo. Demasiados objectos, demasiadas emoções, demasiados odores, sabores, texturas. Demasiado tudo.

Escrevi demasiadas vezes a palavra "demasiado", mas nada descreve tão bem o que é demasiado quanto a palavra demasiado.

Poderia gritar, mandar o mundo calar-se. Mas só iria aumentar o barulho. E quando gritamos com o mundo, o mundo grita-nos de volta. Com a força de um Titã. 

O barulho empurra-nos, agarra-nos, distrai-nos. Pode até esmagar-nos. Esquecemo-nos de quem somos, do que estamos a fazer, de para onde planeámos ir em primeiro lugar.

Não. Não é o mundo que tem de se calar e fazer Silêncio. Sou eu. Sento-me de olhos fechados a observar a minha própria respiração, a velocidade com que o ar entra e sai pelas narinas, saboreando cada partícula de oxigénio. Observo cada músculo do meu corpo a partir de dentro. Eis a serenidade que se faz anunciar sem pressa.

O silêncio é uma esfera de luz dourada que irradiamos a partir do nosso centro e nos envolve, tornando-nos imperturbáveis ainda que rodeados por uma multidão de vozes graves, estridentes, roucas, cavernosas. Deslizamos imaculados como um cisne branco num lago negro. 

Podemos estar horas a falar e, ainda assim, conservar o silêncio dentro de nós. 
Por vezes, olhamos para dentro e sorrimos para o silêncio como para um velho e sábio amigo que sempre nos espera pacientemente num cadeirão macio junto a uma janela onde bate o Sol.

O silêncio é limpo, puro, pleno de luz. Poderia dizer-se que o silêncio é triste, mas eu acho que é desprovido de emoções, ou não seria silêncio pleno.

Como um copo de água da nascente que vem das profundezas silenciosas da terra e nos escorrega pela garganta até ao interior do nosso corpo. Leve, cristalina e sem sabor, mas que nos sacia a sede num dia seco de Verão, hidratando todos os nossos órgãos e fazendo o sangue circular com maior pureza pelos vasos sanguíneos, como a seiva que viaja numa folha verde de uma planta acabada de regar.

Tão simplesmente, em silêncio.

Cronista, Viajante no Tempo, Terapeuta, Taróloga, Tradutora, Professora.

Comentários

Francys Oliva disse…
Eu não sei o que é o silencio, porque o meu faz muito barulho.