Hoje o tempo encontra-se tão musgoso quanto os muros centenários de Sintra.
A chuva cai sem pressa, teimosa e lânguida, enquanto a humidade se alastra pelas paredes e tectos transbordantes de água e sedentos de Sol. Deixou de se ouvir o canto dos pássaros, agora recolhidos sabe-se-lá-onde. Parece que vai chover para sempre.
A chuva ensina-nos a ser pacientes. A saber esperar, mesmo sem saber o que esperamos. A ajustar-nos a algo que ainda desconhecemos. A nada ansiar. A ocupar exactamente o espaço que ocupamos no mundo, nem um milímetro para a frente, nem para trás. No centro de gravidade.
Estamos na estação do silêncio. Da quietude e do olhar no vazio, esse lugar onde repousamos a alma das inquietações que não têm razão de ser, como são todas as inquietações.
Oiço a voz do Inverno no vento que viaja como dragão uivante através dos ramos das árvores e nas gotas de água espertas e brincalhonas que batem contra os vidros das janelas. Escuto a sabedoria da velha mulher de cabelos de teia-de-aranha e mãos calejadas, com a paciência das sementes que aguardam no interior da terra.
Nunca pensei dizê-lo, mas encontro-me a gostar do Inverno. Talvez por ter deixado de tentar estender os últimos raios de Sol até não conseguir mais, numa luta onde os dias escuros sempre fazem cheque-mate.
Aprendi a amar o vazio, o silêncio, a espera e até mesmo o frio. E por amá-los, encontrei a plenitude no primeiro, a sabedoria no segundo, a serenidade no terceiro e a força no último.
De cabelos molhados pela chuva,
Hazel
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