Fantasma
Liquefaz-se o vestido em
ondas
Água doce, limos verdes
Escorrem em regato
Pelos degraus
do Cais.
Elevo-me
nua
Magra como um pássaro
Branca gaivota.
Vai-e-vem o Tejo
Lambe os pés frios.
Entre as duas colunas
Navios-fantasma
trespassam a névoa
Com perfume de especiarias.
Nas pontas dos cabelos
Agitados pelo vento
Acenam lenços de mulheres
Humedecidos
pelas lágrimas.
Desabotoo o peito
Dele tiro o coração
Cai no convés de um navio
Entre redes, cordas
remos partidos.
Levem-no para longe
Tragam outro novo.
Os velhos marinheiros
tomam-me por sereia
Tapam os ouvidos.
Fiquei de peito vazio.
Hazel
Foto: Hazel, por José António Cavaco
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