O Taj Mahal, Vrindavan e os Indianos a Roubar Fotos com as Mulheres dos Outros

ACORDÁMOS DE MADRUGADA para nos anteciparmos ao trânsito frenético e imprevisível de Delhi. Balvinder Singh, o nosso driver de turbante sikh, levou-nos até Vrindavan, uma cidade religiosa.
 



POR SER UMA CIDADE SAGRADA, os autocarros não podem entrar e isso significa que, de um momento para o outro, saltámos para um tuk-tuk e serpenteámos como uns foragidos, por entre táxis, vacas e bancas de vendas até ao templo.

Os cânticos devocionais, o aroma de incenso e a luz que reflecte em todas as superfícies transportam-nos para uma dimensão onírica de cor, leveza e alegria. O chão aquecido pelo Sol indiano sob os nossos pés descalços convidava-nos a ficar. Em boa verdade, poderíamos ter lá ficado meses. Ou anos. 

Contudo, não pudemos demorar-nos. A aventura prossegue, rumo ao Taj Mahal, na cidade de Agra, uma das Sete Maravilhas do Mundo. Perfeito, simétrico, diáfano, mágico, uma visão verdadeiramente sobrenatural retirada de um conto-de-fadas. 

Mas, justo será dizê-lo, quando entramos — que sinistro e inesperado arrepio no pescoço —, quebra-se o encantamento. No seu interior, reina uma atmosfera penumbral de silêncio lúgubre, triste e frio em volta do túmulo do Imperador Shah Jahan e da sua mulher Mumtaz. 

Os indianos estão sempre a pedir para tirar fotos com os estrangeiros. Mulheres, homens, crianças e agregados familiares inteiros ficam radiantes por aparecer connosco numa foto. 

Descobri também que os homens indianos que pedem para tirar fotos com os casais estrangeiros, colocam-se estrategicamente ao lado da mulher e depois cortam o homem da foto para aparecer só ele (o indiano) e a mulher, e assim dizem aos amigos que é a sua namorada estrangeira. A sério!

 
De pinta vermelha na testa,

Hazel
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"No problem"



PARAGEM SEGUINTE: Nova Delhi, Índia.

Todos sãos e salvos. Depois de feito o check-in no Hotel, recebemos as boas-vindas do nosso amigo, o monge budista tibetano Tensy, que trouxe oferendas e bençãos para todos.


Acompanhou-nos no autocarro para uma tour no trânsito caótico e insano de Delhi. Os carros têm todo um aparato decorativo no tablier que parece a sala de uma tia velha, daquelas que têm naperons, jarras com flores, sofás com padrões florais antigos e bibelots com imagens dos santos da sua devoção — neste caso, Ganeshas ou outras divindades exóticas.

Não se usa piscas, e os semáforos, faixas ou sinais de trânsito não interessam. É cada um por si no meio da cacofonia de buzinadelas, vacas que andam no meio dos carros e pessoas que, benza-os Shiva, caminham no meio da estrada como se possuíssem o dom da eternidade.

Enquanto isso, Tensy entoa mantras para vida longa, saúde e felicidade no autocarro. Uma bela metáfora para a vida, que é cheia de contrastes.

Horas mais tarde, no Templo Akshardham, o meu companheiro-de-viagem-e-de-vida e guia do grupo, que conseguiu um novo Visto em tempo-relâmpago e já chegado à Índia, encontrou-nos.

Tudo corre sempre bem. Como dizem aqui na Índia, no problem, no problem.
No problem, really.

Hazel
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“Sou a vossa guia e estou perdida. Sigam-me. É por aqui.”



DENTRO DE POUCOS MINUTOS vou levantar vôo. Vou, é como quem diz, vai o avião. Do meu lado direito está uma chinesa com máscara anti-Corona-vírus-e-outras-calamidades-microbiológicas. Do lado esquerdo, o lugar está vazio.

Por razões inesperadas, imprevisíveis e inexplicáveis, mal poderia imaginar, quando acordei hoje de uma noite mal dormida onde sonhei que me encontrava perdida algures no planisfério, que iria, literalmente de um momento para o outro, ser a guia de um grupo de quinze pessoas que me espera do outro lado do mundo. 

Estou, assim, a viajar sozinha. 

Dentro de muitas horas, esperam-me as tais quinze pessoas para quem serei o único guia num país que não conheço, com um roteiro de viagem explicado à pressa por telefone minutos antes de embarcar. 

Era mesmo esta a cura que eu precisava para a minha ansiedade, benzam-me os Deuses. Ninguém pode saber que estou em pânico. Muito menos eu. Especialmente eu. Não se passa nada.

A próxima paragem será no Dubai e esta é a primeira página do diário de uma aventura ao total desconhecido, que partilharei convosco diariamente.

Até já!

Hazel
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O Exercício da Indiferença



Tento esconder o ramo que se assoma de dentro da manga do casaco, empurrando-o de forma desajeitada antes que alguém veja. Espero que ninguém tenha reparado. 

Um restolhar igual ao que se escuta quando caminhamos pelos bosques no Outono persegue-me enquanto fujo do café, trapalhona e à pressa, deixando um rasto denunciador de folhas secas caídas pelo chão. 

Não contem a ninguém, por tudo o que há de mais sagrado, mas o que se passa é que me nasceu uma árvore. Não num vaso, nem numa floreira — , mas em mim

Começou por um raminho tímido e tenro que me brotou mesmo no centro do coração, espreitando à volta como quem não entende que estranhas voltas deram os ventos para levarem a semente que lhe deu origem a tão profundo solo. 

Os meus olhos escancararam-se de espanto. E agora, que fazer? 
Abri a gaveta da cozinha e peguei numa tesoura decidida a cortá-lo e guardar só para mim este segredo absurdo até ao último dos meus dias. 

Quando a lâmina encostou no ramo, perdi a coragem. Um ramo tão pequenino, quase sem raiz, que mal poderia trazer ao mundo. Que culpa teve por nascer logo no meu coração. Acarinhei a pequenina árvore como um bebé. Tomei-a como minha. 

A sede tornou-se mais intensa no correr dos dias. Uma sede específica que não poderia ser saciada com água-da-torneira. Tinha que vir das nascentes. Ou da chuva. Água viva, fresca, que se move continuamente nos influxos da Natureza. 

As raízes começaram a mergulhar-me pernas abaixo até aos pés. A árvore foi crescendo, com os ramos a serpentearem-me em torno das costas, a espreitar atrevidos de dentro do decote e a revelarem-se de baixo das saias como uma embaraçosa cauda com folhas. 

Tenho pássaros e ninhos nos ramos que me enchem os cabelos. Dois frutos suspendem-se em brincos nas orelhas. Pelos meus olhos espreita a alma da árvore. Viro-me para o Sol, danço ao vento e no silêncio da meia-noite consigo ouvir a seiva correr-me nas veias como um rio, e pulsar como o bater do coração.

Esta árvore que um dia quis cortar por não saber o que fazer com ela, tornou-se maior que eu. São muitos os dias que passo abrigada sob os seus ramos a escutar as lições que me vai ensinando na mansidão do seu silêncio verde. 

Com ela aprendi o Exercício da Indiferença

Nada externo pode perturbar uma árvore. Não existe sequer a diferença entre o bom e o mau, pois ambos são indiferentes, logo, iguais.

Quando vieram as tempestades, levaram-me as folhas, mas sobraram os ramos.
Quando quebraram os ramos, restou o tronco.
Quando o tronco ardeu, ficaram as raízes.
Quando as raízes secaram por falta de água, permaneceram as sementes dos frutos — e delas nasceu novamente a árvore, que anda comigo escondida por baixo da roupa, sob a pele, para todo o lado onde vou.

Uma árvore é-o de dentro para fora. Logo, através da ligação com o interior, o cerne, o exterior é todo ele um reflexo de paz. 

Note-se que Indiferença não é ausência de compaixão. Pelo contrário. Significa que, haja o que houver, continua a existir sombra fresca, oxigénio, pássaros e ninhos, folhas, flores e frutos, e as sementes que caem no solo e permitem o constante ciclo morte - renascimento - vida - dádiva - morte - renascimento. 

A Indiferença é a janela da Paz que permite que a dádiva da vida seja contínua. É o equilíbrio entre o movimento e as forças, uma dimensão sem começo nem fim, que transcende as leis do espaço-tempo. O caminho para alcançá-la é a renúncia ao atrito, e a percepção da unidade com a realidade interna. 

Plácido como a árvore, o arcano A Temperança leva-nos à arte da auto-observação amadurecida no silêncio e à compreensão dos mistérios interiores para sublimar intempéries passadas, com a limpeza de uma boa chuvada: sem dor nem trauma. 

Sob os ramos,

Hazel
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Foto: Fernando Gonçalves / Modelo: Hazel Evangelista 

Siga aquele Táxi


"Vai ficar com medo de sofrer para o resto da vida? Então, mas não é o medo de sofrer também uma forma de sofrimento?"

Nisto, o condutor do táxi Mercedes interrompeu-se e guinou para a direita desviando-se do carro cinzento-tédio que apareceu inesperadamente pela esquerda sem respeitar prioridades.

A expressão pacífica e enigmática de sábio-das-montanhas diluiu-se à medida que o seu rosto se agudizou em tensão perante o quase-embate.

São dezasseis euros. As notas e moedas deslizam em silêncio para a mão áspera do taxista conhecido por adivinhar o futuro dos passageiros.

A porta abriu-se com um rangido e todo o céu parece também apartar-se enquanto as nuvens se afastam.

As botas castanhas caminham para fora do veículo, reflectidas nos pequenos lagos espelhados de água da chuva e colocam-se em bicos-de-pés, acercadas pelos ténis verde-musgo, num abraço daqueles em que os corações encostam directamente um no outro.

— Correu bem a viagem? Deixa, que eu levo a tua mala.

Se foram felizes para sempre não sabemos. Mas tiveram a coragem de tentar.

O arcano Sete de Paus confronta-nos com as sombras dos medos que-não-têm-razão-de-ser, para nos ensinar que sofrer de medo é uma forma de antecipar um sofrimento que pode nunca acontecer. É viver uma realidade paralela, pessimista e ilusória.

Corra o risco. O que há a perder, senão o sofrimento que já tem por medo de sofrer?

Hazel
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