Pureza e Sabão-Azul-e-Branco


É NECESSÁRIO PUREZA. Céu limpo e a certeza no amanhã azul e leve. Oxigénio. Ar puro. O canto das aves. O sorriso dos bebés. A inocência. A fé. O sagrado. A paz. Harmonia. O vento fresco e lúcido da manhã. Delicadeza. Calmaria. Serenidade.

O ritmo cadenciado das marés. O borbulhar da água salgada. O embalo dos braços da mãe. Silêncio. Luz. As estrelas, os sonhos e os desejos lançados num dente de leão. A pena que flutua no ar. Floresta virgem. Gotas de orvalho. A doçura das fadas. Pés descalços na terra aquecida pelo Sol. 

A simplicidade do copo de água que sacia a sede. Descansar. Regenerar. Equilíbrio nos pratos da balança. Espigas de trigo douradas nos campos. Um raio de Sol por entre as folhas. O nascer do dia. O regresso das andorinhas.

Levitar. Imaginar. Sorrir. Crescer. Viver. Chegar a casa. O sono solto. Roupa acabada de lavar. Todas as cores do céu. O reflexo do arco-íris numa poça de água. Chuva doce pela madrugada. Os cabelos livres. Coração limpo. Ramos de alecrim perfumado. A justa medida. O deslizar da caneta no papel. 

Saquinhos de alfazema nas gavetas. Paredes caiadas de branco. A sineta das bicicletas. Banquinhos de jardim. Crianças a caminho da escola. Avós que contam histórias. A eterna infância. Aprender. Perceber. Criar. Pomares repletos de maçãs. 

A linha do horizonte. Mapas de tesouro. Caminhar. Saber. Escrever poesia. Água da fonte. Conchas da praia. Sabonetes. Bondade. Floreiras penduradas nas varandas. Estender os braços. Mergulhar e voar. Ser. Existir. Inteiro. 

Tudo isto é extremamente necessário.

Hazel
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Procuram-se Rebeldes em 2021


APESAR DOS AUGÚRIOS dos profetas-do-fim-dos-tempos que nos despertam aquele irresistível medo fascinado (ou fascínio amedrontado) capaz de fazer eriçar os pelinhos nos braços e no pescoço, terei de vos desiludir: 

Ainda não será em 2021 o fim da Humanidade. 

Se falhasse esta previsão também não estaria cá para ouvir reclamações, podeis afirmar, e com razão. Mas a verdade é que ainda vamos ter que nos aturar uns aos outros por muito tempo. E que bom é. 

Quem está vivo, a lidar com os problemas que tem, e a antecipar os que não tem através da fina arte masoquista da preocupação, está cheio de sorte.

O virar de página nos nossos calendários trar-nos-á, contudo, um ano de contra-sensos:

Estaremos gratos por estar vivos, mas em vez de sentirmos alívio pela superação da pandemia e das crises pessoais e colectivas, estar vivo parece ser causa da fonte de preocupações que nos provoca medo de viver.

PREVALECERÁ O MEDO (do COVID e de outras variações que surgirão entretanto), o medo de tomar decisões, o medo de gastar dinheiro que poderá mais tarde fazer falta, o medo de viajar, o medo do desconhecido, o medo do medo. 

O estado de sobressalto que transportamos de 2020 programou-nos a estar à espera do pior. Como se, se o pior viesse, fosse até um alívio para todos. E nenhum de nós vislumbra que o pior que nos pode acontecer é passar pela vida e não viver.

Teremos várias dimensões de realidade a operar em simultâneo; uma, aquilo que julgamos ser a verdade, porém, é-nos “instalado” através dos meios de comunicação social. Outra, aquilo que será o impacto directo e indirecto da nossa forma condicionada de ver e de agir. Outra ainda, as várias dinâmicas que realmente estarão a ocorrer.

AFASTADOS UNS DOS OUTROS por um longo período de tempo, desconfiados até de um espirro inofensivo como no tempo da Peste, com o vazio trazido pela perda de identidade individual e colectiva devido ao rosto tapado e inexpressivo, estaremos perante uma fase de quebra generalizada na confiança em nós mesmos, na vida, no futuro.

Haverá, assim, um enfraquecimento no questionamento das informações que nos são transmitidas. Seja por excesso de repetição, por pressão social, devido ao isolamento que marcou 2020, ou pelo impacto na economia e consequente sentimento de vulnerabilidade. Os rebeldes estarão cada vez mais ordeiros, o que é uma perda irreparável para a Humanidade, que sempre avançou graças aos que não se conformaram.

Teremos todas as condições reunidas para a vida avançar, mas aperceber-nos-emos realmente disso? Nada nos faltará em 2021 a não ser a ousadia de agarrar a vida pelos colarinhos, de arriscar a pele.

Como se tivéssemos acabado de sair de uma guerra, iremos avaliar cada passo antes de avançar, sempre na zona de segurança porque-nunca-se-sabe. A Humanidade estará meio morta mesmo estando viva, com a Natureza a espreitar-nos à janela, e hesitante em tomar parte no milagre que está a acontecer.

Claro que todos corremos o risco de morrer de COVID. Ou de qualquer outra maleita, acidente, catástrofe natural, de velhice ou por causas misteriosas. O que deveria servir de incentivo para abraçar a magia que é estarmos vivos parece ser, na verdade, um impedimento à vida. 

E não viver por medo de morrer é uma negação da própria vida.

O MEDO, QUANDO DOMINA, recria a paralisia da morte. É um travão da vida — mas não do tempo. O tempo, esse vilão sem coração, não espera que ganhemos coragem ou que prestemos atenção à sua passagem. Nem o Sol, nem a Lua, a chuva, as estações do ano, as andorinhas que voltam na Primavera e que partem após o fim do Estio. Tudo está como deve estar, a decorrer normalmente, e assim continuará, quer tomemos ou não parte da vida e dos seus ciclos.

2021 será um ano maravilhoso, cheio de novas oportunidades. Felizes os que não tiverem perdido a ousadia de viver, os rebeldes, os que arriscarem novos caminhos. 

A normalidade nunca será reposta — e ainda bem. Pois estar dentro do que é “normal” é seguir uma norma que outros definiram, encaixando-nos, formatados, normalizados, resignados, numa forma que moldaram para nós. É não questionar, e abdicar do infinito mundo de possibilidades que se encontra disponível para além das fronteiras da ‘normalidade’.

O primeiro semestre será ainda um período de recuperação do trauma deixado pela mudança de paradigma no ano 2020. Vamos precisar de tempo para voltar a confiar na vida, em nós mesmos, uns nos outros, e no desconhecido que nos espera. Mas muitos vão conseguir.

O uso de máscara será gradualmente facultativo e as novas vacinas irão dar que falar. O regresso dos eventos com público, como concertos, espectáculos e outros similares, retornará aos poucos, mas com menor afluência de pessoas. O medo demorará a desaparecer totalmente, até porque já faz parte da Humanidade desde, pelo menos, o Paleolítico Inferior.

O segundo semestre será mais leve e, ainda que a medida de tempo seja igual, os seis meses que encerrarão 2021 fluirão com maior celeridade que os primeiros. Não porque os ponteiros dos relógios avancem mais depressa, mas porque estaremos finalmente a começar a confiar na vida. 

Quem viver, verá.

Hazel
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Foto por: José Cavaco

Janela Aberta para o Mundo


DA MINHA BOCA abriu-se uma janela. As portadas de madeira pintadas de branco encostam-se-me ao de leve nas maçãs do rosto. Vejo o céu azul lá fora, de um azul tão livre, tão limpo como o mar das ilhas gregas onde as sereias namoram com os pescadores nas tardes de Sol sem fim. As cortinas serpenteiam ao vento em asas de gaivota. 

Pousam os pardais nas portadas brancas e o seu chilrear entra sem pedir licença, transformando-se em crianças pequeninas e curiosas que exploram todos os lugares recônditos e secretos dentro da minha boca à procura de tesouros. Na sua inocência, não sabem que trazem aquilo que buscam —, a vida

Batem as portas das gaiolas contra as paredes e alarga-se a janela que se me abriu na boca, rasgando paredes, tecidos, pele, carne, veias, mordaças, amarras. E voam em liberdade aves-do-paraíso de-todas-as-cores-que-o-mundo-já-viu e de muitas outras que ainda não foram inventadas. 

Os cadernos que repousavam nas gavetas voam janela-fora como pássaros de asas abertas, que o vento folheia, lendo em assobios as histórias que lá escrevi. Rasgam-se as páginas e espalham-se em sementes pelos campos. As minhas palavras despontam em papoilas e malmequeres, em árvores de fruto, em flores de jasmim e ervas aromáticas e plantas medicinais. 

VOAM de dentro da garganta as gaiolas agora vazias. Voa a poeira, o cotão, os fantasmas, as almas penadas, os demónios, os medos, os pesadelos. Liquefazem-se numa chuvada que sacia a sede da terra, que nutre e movimenta todos os influxos da Natureza e dos seres humanos.

Pela janela da minha boca entram as vozes frescas das pessoas que conversam na rua, o choro dos bebés acabados de nascer, o barulho dos carros, a sineta da bicicleta. 

O Sol doce transborda por todas as divisões numa torrente de luz dourada, de sumo de laranjas quentes amadurecidas no mês de Agosto e manteiga derretida em torradas fumegantes feitas pelas mãos das avós. 

Expiro o cheiro do mofo e das roupas velhas guardadas em baús esquecidos. Estilhaça-se o silêncio, seca a humidade nas paredes, que se pintam agora de cores novas e limpas. Acendem-se luzes. Ouve-se música. 

E a janela torna-se maior que a minha boca. 

Estende-se por todo rosto. Toda a cabeça. Chega-me aos braços, às mãos, às pontas dos dedos. Desce-me pelo peito, pelas pernas, os pés. Elevo os braços, toda eu sou janela. Atravesso-a. Atravesso-me a mim mesma. 

Sou maior que a janela. Não, sou mais pequena que a janela. Também não, sou só a luz que entra na janela. Só a luz. Só a luz. Só a luz.

O arcano O Mundo dá-nos as boas-vindas a um inimaginável mundo novo, um novo paradigma, contudo parido por nós, dado-à-luz, depois de todas as aprendizagens concluídas, e introduz-nos agora num novo capítulo, mais pleno e sábio, com novos mistérios, novas etapas. 

Tudo o que vemos no exterior, começa sempre no nosso interior. Nos olhos, na percepção. Vejamos, pois, o dealbar dos tempos que se seguem com os olhos mais limpos e sábios que nos for possível. Este é o novo mundo.

De janelas abertas,

Hazel

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Foto: Hazel, por Manuel Cardoso


Feliz Solstício de Inverno!



Solstício, do latim 'sol' + 'sistere' (que não se mexe).
Significa que o Sol está na maior distância angular em relação ao plano equatorial.

Hoje é o dia mais pequeno, com menor tempo de luz, e a noite mais longa e escura do ano. A partir de agora, os dias começam a aumentar, marcando simbolicamente o triunfo da Luz sobre a Escuridão. Do Conhecimento sobre a Ignorância. Da Esperança sobre o Medo.

A semente de luz que cresce a cada dia na Terra-mãe como uma gestante aguarda o crescimento do seu bebé, está na origem do que conhecemos actualmente como “Natal”.

Nas tradições pagãs, o Solstício de Inverno é conhecido como Alban Arthan pelos seguidores do Druidismo e por Yule no Wicca.

Momento de limpeza e renovação, reunião, partilha de afecto, aprendizagem, olhar para o futuro, celebrar e reafirmar a continuidade da vida.

Sob os ramos do pinheiro,

Hazel

Tia Alegria

QUANDO NASCI, tive a sorte de receber de presente, tal como nos contos-de-fadas, uma tia e madrinha que tinha dezassete anos e nunca parava de sorrir. Não é a única tia que tenho. Mas é a única que sempre tratei por tu, a mais próxima e a mais especial.

A tia Antónia foi, na minha infância, uma fada-madrinha da Disney que se transformava em criança, fazia coisas impossíveis acontecerem e reunia paciência para mim quando mais ninguém tinha. 

Nos Carnavais, era ela que desencantava vestidos para me mascarar de diferentes personagens. Mas foi esta a foto que escolhi, também tirada nessa época, onde me vestiram um fato-de-treino vermelho — eram os anos oitenta! —, com o braço da minha tia pousado no meu ombro e a sua mão a segurar a minha, memória que fez desse dia um dos mais importantes da minha meninice. 

Com uma personalidade intensa e única, é uma influência marcante nas vidas de todos os que a conhecem. 

Esta tia mágica, com um eterno sorriso de criança travessa que rouba um doce às descaradas e nos olha em ar de satisfação e de atrevimento, foi a minha heroína de infância, de adolescência e da idade adulta.

SEMPRE TEVE AS PORTAS DE CASA ABERTAS, como uma extensão do seu coração, a mesa cheia de amigos e espaço para quem mais viesse. Fala muito e nunca pensa antes de falar, porque tem o coração na cabeça, e o cérebro no peito. 

Faz-nos rir e faz-nos chorar. Emociona-nos e arrelia-nos. Desconcerta-nos e ampara-nos. Diz o que sente sem filtros, sem medo, sem pudor, sem cerimónias.

E nós aprendemos a amá-la assim, a respeitá-la com esta simplicidade e frontalidade que só as crianças têm, de dizerem o que sentem sem pensar. Tantas vezes gostaríamos de ter sido como ela, e não conseguimos por falta de coragem. 

Sempre que a minha tia chega, começa uma festa. O tédio, a acomodação e a monotonia não têm lugar ao pé dela, que transborda vida, que ama a vida mais do qualquer pessoa que eu tenha alguma vez conhecido.

A tia Antónia sempre me fez rir. Levava-me muitas vezes com ela para a ajudar no Colégio quando eu era adolescente. Conduzia depressa e eu ria-me quando a ouvia dizer “anda lá, cona mole” a quem lhe atrapalhava o caminho quando ia atrasada, depois de deixar os primos gémeos e um stock de cassettes VHS com desenhos-animados na minha mãe. 

TEVE UMA COBRA DE ESTIMAÇÃO à entrada de casa para assustar as visitas. Quando era criança, escondia-se tardes inteiras dentro do guarda-vestidos a rir baixinho enquanto todos andavam à sua procura. Ainda tem voz de menina.

Gosta de se vestir de freira e de pregar partidas. Nos anos oitenta punha cerveja no cabelo para ficar mais bonito. Anda sempre com um saco de agulhas e linhas e em todos os lugares onde vai faz tricot numa velocidade inacreditável e sem precisar de olhar. 

Diz piadas escabrosas relacionadas com sexo nos momentos mais impróprios e embaraçosos. Gosta de dormir. Tem pavor de gafanhotos. Adora o marido. 
Conhece toda a gente. É sempre o centro das atenções, a alma da festa. 

Prefere a passagem de ano ao Natal. Tem uma cana de pesca, e pesca dentro de água só com a cabeça de fora. Dançou a vida inteira no rancho folclórico. 

SE AMO RIR e divertir-me, e aprendi a renascer de cada golpe que a vida me traz, muito devo a esta mulher com alma de criança rebelde, que agarrou a vida, e nunca teve vergonha de chorar porque jamais desistiu de nada; que subiu montanhas, desceu e tornou a subir — e conseguiu a proeza de fazer de toda essa caminhada uma celebração.

Se hoje escrevo para jornais e revistas, muito devo a esta tia, que um dia levou para casa dos meus pais a sua máquina de escrever e a deixou por lá ficar durante anos para que eu a usasse.

NASCEU DE BEM COM A VIDA e ensinou-me o que é a alegria, de tal forma que no meu dicionário 'Antónia' é sinónimo de 'Alegria'. E é isto que ela deixa por onde passa. Por isso, reparo que todas as pessoas, quando se referem a ela, sorriem. 

Eu não teria sido a mesma pessoa se não te tivesse tido na minha vida.
Obrigada, tia Alegria. Feliz aniversário!

Hazel