Encontrar o Silêncio

domingo, agosto 17, 2014

Há demasiado barulho no mundo. Demasiados objectos, demasiadas emoções, demasiados odores, sabores, texturas. Demasiado tudo.

Escrevi demasiadas vezes a palavra "demasiado", mas nada descreve tão bem o que é demasiado quanto a palavra demasiado.

Poderia gritar, mandar o mundo calar-se. Mas só iria aumentar o barulho. E quando gritamos com o mundo, o mundo grita-nos de volta. Com a força de um Titã. 

O barulho empurra-nos, agarra-nos, distrai-nos. Pode até esmagar-nos. Esquecemo-nos de quem somos, do que estamos a fazer, de para onde planeámos ir em primeiro lugar.

Não. Não é o mundo que tem de se calar e fazer Silêncio. Sou eu. Sento-me de olhos fechados a observar a minha própria respiração, a velocidade com que o ar entra e sai pelas narinas, saboreando cada partícula de oxigénio. Observo cada músculo do meu corpo a partir de dentro. Eis a serenidade que se faz anunciar sem pressa.

O silêncio é uma esfera de luz dourada que irradiamos a partir do nosso centro e nos envolve, tornando-nos imperturbáveis ainda que rodeados por uma multidão de vozes graves, estridentes, roucas, cavernosas. Deslizamos imaculados como um cisne branco num lago negro. 

Podemos estar horas a falar e, ainda assim, conservar o silêncio dentro de nós. 
Por vezes, olhamos para dentro e sorrimos para o silêncio como para um velho e sábio amigo que sempre nos espera pacientemente num cadeirão macio junto a uma janela onde bate o Sol.

O silêncio é limpo, puro, pleno de luz. Poderia dizer-se que o silêncio é triste, mas eu acho que é desprovido de emoções, ou não seria silêncio pleno.

Como um copo de água da nascente que vem das profundezas silenciosas da terra e nos escorrega pela garganta até ao interior do nosso corpo. Leve, cristalina e sem sabor, mas que nos sacia a sede num dia seco de Verão, hidratando todos os nossos órgãos e fazendo o sangue circular com maior pureza pelos vasos sanguíneos, como a seiva que viaja numa folha verde de uma planta acabada de regar.

Tão simplesmente, em silêncio.

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