Faróis de Nevoeiro : Atravessar a Metade Escura do Ano.

sexta-feira, outubro 30, 2015


Nos tempos antigos, dividia-se o ano em duas metades: a metade clara e a metade escura. Duas partes opostas que os Deuses costuraram usando a linha do Equador.

Na metade clara do ano, tudo é luz, expressão e expansão. O horizonte sem fim, sob o vôo planado das aves migratórias que estendem as asas aquecidas pelo Sol, é tão nítido e límpido quanto a certeza no amanhã. Como é fácil sonhar e alimentar a esperança quando conseguimos ver o que está mais à frente.

As tardes caleidoscópicas do Verão seduzem-nos com a ilusão da eternidade, mas a espada de vento frio do cavaleiro-negro-Inverno acaba por roubar-nos o calor e a luz. Perde-se a clareza do horizonte oculto pela névoa, para que o procuremos — assim como tudo o resto — dentro de nós.

Quando não vemos o que está à frente, receamos. Duvidamos. E está bem assim.
É preciso recear e duvidar, para desafiar as certezas. E é preciso ter certezas para confrontá-las com a dúvida e o receio. Algures no meio da viagem, estará a linha do Equador, o meio do espelho.

Mergulhamos no lago sombrio da metade escura do ano, onde a luz fraqueja e as águas gelam. O silêncio das pedras, outrora aquecidas pelo Sol de Verão, dá lugar ao lamento do frio que se agasalha com um manto de musgo verde.

Não há como fugir à sombra para viver num eterno Verão. Se assim fosse, o ciclo de renovação da Natureza cessaria. Deixaria de existir a morte que antecede o renascimento. E morrer não é fácil. Dói muito.

Acabamos por sucumbir para tão logo renascer na divina fracção de segundo em que compreendemos que lágrimas são a chuva do Inverno da alma que vem para regar a terra, escorrendo através das folhas secas das certezas caídas, e alimentando as árvores que se elevam numa nudez tão crua e delicada como aquela em que nos encontramos perante o espelho de nós mesmos.

Retornaremos à luz após atravessarmos o vale das sombras. Os atalhos, horizontes e candeias perdem-se ao longe no nevoeiro como ecos difusos do pensamento. Nesta estação dada à introspecção, preservemos, assim como a semente que aguarda nas profundezas da terra, o silêncio e a paciência, e confiemos na alquimia que transforma o quase-nada a que nos rendemos na promessa do que está para vir com o regresso da metade clara do ano.

Na linha do Equador,

Hazel
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