NOS VELHOS TEMPOS dividia-se o ano em duas metades: a metade clara e a metade escura. Duas partes opostas que os deuses costuraram usando a linha do Equador.
Na metade clara do ano, tudo é luz, expressão e expansão. O horizonte sem fim, sob o vôo planado das aves migratórias que estendem as asas aquecidas pelo Sol é tão nítido e límpido quanto a certeza no amanhã.
As tardes caleidoscópicas do Estio seduzem-nos com a ilusão da eternidade. E todos os anos a espada de vento frio do cavaleiro-negro-Inverno acaba por roubar-nos o calor e a luz. Perde-se a clareza do horizonte oculto pela névoa, para que o procuremos — assim como tudo o resto — dentro de nós.
Quando não vemos o que está à frente, receamos. Duvidamos. E está bem assim.
É preciso recear e duvidar, para desafiar as certezas. E é preciso ter certezas para confrontá-las com a dúvida e o receio. Algures no meio da viagem, estará a linha do Equador, o meio do espelho.
Mergulhamos no lago sombrio da metade escura do ano, onde a luz fraqueja e as águas gelam. O silêncio das pedras, outrora aquecidas pelo Sol de Verão, dá lugar ao lamento do frio que se agasalha com um manto de musgo verde.
Não há como fugir à sombra para viver um eterno Verão. Se assim fosse, o ciclo de renovação da Natureza cessaria. Deixaria de existir a morte que antecede o renascimento. E morrer não é fácil. Dói muito.
Acabamos por sucumbir para tão logo renascer na divina fracção de segundo em que compreendemos que as lágrimas são a chuva do Inverno da alma que vem para regar a terra, escorrendo através das folhas secas das certezas caídas, e alimentando as árvores que se elevam numa nudez tão crua e delicada como aquela em que nos encontramos perante o espelho de nós mesmos.
Retornaremos à luz após atravessarmos o vale das sombras. Os atalhos, horizontes e candeias perdem-se ao longe no nevoeiro como ecos difusos do pensamento.
Na segunda metade do ano, consagrada à introspecção, preservemos, assim como a semente que aguarda nas profundezas da terra, o silêncio e a paciência, e confiemos na alquimia que transforma o quase-nada a que nos rendemos na promessa do que está para vir com o retorno da metade clara do ano.
Na linha do Equador,
Hazel
Na linha do Equador,
Hazel
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