“Vamos à vida, que a morte é certa!”

quinta-feira, maio 26, 2016



Seria mais correcto - e belo, até - dizer-se que fulano assistiu a 41 voltas da Terra dadas em torno do Sol, em lugar de se dizer que tem 41 anos. Da mesma forma que poderia combinar-se um jantar na semana seguinte para “daqui a 7 voltas da Terra sobre si mesma” - porque o tempo, na realidade, não existe. É uma ilusão universalmente partilhada que se tornou uma verdade quase palpável.

A invenção a que chamamos “tempo” foi criada para medir a velocidade de deslocação da Terra em relação ao Sol. Nós somos energia em movimento num planeta cigano que não pára num só lugar, mas vive em rotação e translacção permanentes, porque é assim a sua natureza - e contrariá-la seria morrer.

No entanto, fazemo-lo tantas vezes a nós mesmos ao longo da vida. Abandonamo-nos a essa espécie de morte durante dias a fio, ou semanas. Meses. Anos, até.

Há pouco tempo, conversei com uma senhora encantadora que estava morta há mais de 40 anos. Contava-me que antigamente é que era feliz. Viajava muito, lia, a vida era mais fácil, as pessoas eram mais chegadas na terra onde morava, gostava do emprego que tinha. Mas tudo foi definhando aos poucos. Vive morta entre os fantasmas das memórias, as fotos antigas vistas e revistas inúmeras vezes, os bibelots lascados, e o olhar vazio suspenso numa partícula de pó que se desloca no ar tão lentamente quanto a sua existência. Os filhos, cada um seguiu a sua vida. Só sai de casa para ir ao médico.

Os ponteiros dos relógios que ainda trabalham, marcam o compasso com indolência, como uma mensagem subtil de que o tempo - esse tal que não existe - continua a avançar, mesmo tendo ela desistido de si mesma; estando morta apesar de continuar viva.

Com todas as diferenças que nos distinguem uns dos outros, todos habitamos o mesmo pedaço de Terra suspenso no cosmos e rodeado de estrelas brilhantes. Partilhamos a deslocação, o movimento e a velocidade desta gigantesca nave espacial, embora sejamos tripulantes distraídos que se esqueceram do seu papel.

Esta semana, o arcano maior O Carro incita-nos a avançar, a mover-nos, a aproveitar as oportunidades que nos são proporcionadas, por vezes, sob a aparência de um desafio difícil de superar e a tomá-lo como um ponto de apoio para a nossa alavanca de Arquimedes, elevando-nos acima da apatia e da inércia, e assumindo o controlo da nossa rota solar.

Assim como o planeta não pára nem por um segundo de rodar, nem mesmo quando acontecem as mais tenebrosas catástrofes, também nós temos o dever de prosseguir o movimento e de lutar por aquilo que nos inspira e realiza, com confiança e coragem para mudar o que já se encontra a definhar dentro de nós. O caminho certo a seguir será sempre aquele que nos faz sentir vivos e pulsantes, fortes no corpo, na mente e no espírito!

Hazel

Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 26 Maio
Foto: Pinterest

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1 COMENTÁRIOS

  1. Gostei muito!...
    Obrigada Hazel! A ver se dou mais velocidade ao meu carro, para não perder o andamento do tempo (que não existe!) ;)
    Beijnhos

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