Feliz Solstício de Inverno!



Solstício, do latim 'sol' + 'sistere' (que não se mexe).
Significa que o Sol está na maior distância angular em relação ao plano equatorial.

Hoje é o dia mais pequeno, com menor tempo de luz, e a noite mais longa e escura do ano. A partir de agora, os dias começam a aumentar, marcando simbolicamente o triunfo da Luz sobre a Escuridão. Do Conhecimento sobre a Ignorância. Da Esperança sobre o Medo.

A semente de luz que cresce a cada dia na Terra-mãe como uma gestante aguarda o crescimento do seu bebé, está na origem do que conhecemos actualmente como “Natal”.

Nas tradições pagãs, o Solstício de Inverno é conhecido como Alban Arthan pelos seguidores do Druidismo e por Yule no Wicca.

Momento de limpeza e renovação, reunião, partilha de afecto, aprendizagem, olhar para o futuro, celebrar e reafirmar a continuidade da vida.

Sob os ramos do pinheiro,

Hazel

Tia Alegria

QUANDO NASCI, tive a sorte de receber de presente, tal como nos contos-de-fadas, uma tia e madrinha que tinha dezassete anos e nunca parava de sorrir. Não é a única tia que tenho. Mas é a única que sempre tratei por tu, a mais próxima e a mais especial.

A tia Antónia foi, na minha infância, uma fada-madrinha da Disney que se transformava em criança, fazia coisas impossíveis acontecerem e reunia paciência para mim quando mais ninguém tinha. 

Nos Carnavais, era ela que desencantava vestidos para me mascarar de diferentes personagens. Mas foi esta a foto que escolhi, também tirada nessa época, onde me vestiram um fato-de-treino vermelho — eram os anos oitenta! —, com o braço da minha tia pousado no meu ombro e a sua mão a segurar a minha, memória que fez desse dia um dos mais importantes da minha meninice. 

Com uma personalidade intensa e única, é uma influência marcante nas vidas de todos os que a conhecem. 

Esta tia mágica, com um eterno sorriso de criança travessa que rouba um doce às descaradas e nos olha em ar de satisfação e de atrevimento, foi a minha heroína de infância, de adolescência e da idade adulta.

SEMPRE TEVE AS PORTAS DE CASA ABERTAS, como uma extensão do seu coração, a mesa cheia de amigos e espaço para quem mais viesse. Fala muito e nunca pensa antes de falar, porque tem o coração na cabeça, e o cérebro no peito. 

Faz-nos rir e faz-nos chorar. Emociona-nos e arrelia-nos. Desconcerta-nos e ampara-nos. Diz o que sente sem filtros, sem medo, sem pudor, sem cerimónias.

E nós aprendemos a amá-la assim, a respeitá-la com esta simplicidade e frontalidade que só as crianças têm, de dizerem o que sentem sem pensar. Tantas vezes gostaríamos de ter sido como ela, e não conseguimos por falta de coragem. 

Sempre que a minha tia chega, começa uma festa. O tédio, a acomodação e a monotonia não têm lugar ao pé dela, que transborda vida, que ama a vida mais do qualquer pessoa que eu tenha alguma vez conhecido.

A tia Antónia sempre me fez rir. Levava-me muitas vezes com ela para a ajudar no Colégio quando eu era adolescente. Conduzia depressa e eu ria-me quando a ouvia dizer “anda lá, cona mole” a quem lhe atrapalhava o caminho quando ia atrasada, depois de deixar os primos gémeos e um stock de cassettes VHS com desenhos-animados na minha mãe. 

TEVE UMA COBRA DE ESTIMAÇÃO à entrada de casa para assustar as visitas. Quando era criança, escondia-se tardes inteiras dentro do guarda-vestidos a rir baixinho enquanto todos andavam à sua procura. Ainda tem voz de menina.

Gosta de se vestir de freira e de pregar partidas. Nos anos oitenta punha cerveja no cabelo para ficar mais bonito. Anda sempre com um saco de agulhas e linhas e em todos os lugares onde vai faz tricot numa velocidade inacreditável e sem precisar de olhar. 

Diz piadas escabrosas relacionadas com sexo nos momentos mais impróprios e embaraçosos. Gosta de dormir. Tem pavor de gafanhotos. Adora o marido. 
Conhece toda a gente. É sempre o centro das atenções, a alma da festa. 

Prefere a passagem de ano ao Natal. Tem uma cana de pesca, e pesca dentro de água só com a cabeça de fora. Dançou a vida inteira no rancho folclórico. 

SE AMO RIR e divertir-me, e aprendi a renascer de cada golpe que a vida me traz, muito devo a esta mulher com alma de criança rebelde, que agarrou a vida, e nunca teve vergonha de chorar porque jamais desistiu de nada; que subiu montanhas, desceu e tornou a subir — e conseguiu a proeza de fazer de toda essa caminhada uma celebração.

Se hoje escrevo para jornais e revistas, muito devo a esta tia, que um dia levou para casa dos meus pais a sua máquina de escrever e a deixou por lá ficar durante anos para que eu a usasse.

NASCEU DE BEM COM A VIDA e ensinou-me o que é a alegria, de tal forma que no meu dicionário 'Antónia' é sinónimo de 'Alegria'. E é isto que ela deixa por onde passa. Por isso, reparo que todas as pessoas, quando se referem a ela, sorriem. 

Eu não teria sido a mesma pessoa se não te tivesse tido na minha vida.
Obrigada, tia Alegria. Feliz aniversário!

Hazel

Destaque na Revista Fotomanya


Hazel Evangelista, nascida a cinco de Maio de mil-nove-e-sete-sete em Oeiras. Contas feitas, tenho apenas dezasseis anos ― que ninguém diga o contrário. 
As minhas raízes estendem-se pelo Alentejo e Espanha do lado materno e pela Parede na contraparte paterna.

[Destaque publicado na edição de Junho de 2019 na Revista Fotomanya. 
Mea culpa por não ter partilhado mais cedo com os leitores da Casa Claridade.]

Quando era pequena, abria o guarda-vestidos e as gavetas da minha avó, compunha conjuntos de roupas e fazia ― com grande convicção ― desfiles de moda imaginários pela casa. Por baixo dos vestidos e combinações de renda, usava um dos seus soutiens com uma laranja de cada lado.

Fiz a primeira sessão de fotografia com fins profissionais aos dezoito anos, mas os meus pais, que eram muito conservadores em relação a este universo, não me autorizaram a prosseguir. Acabei por não voltar a pensar no assunto até por volta dos trinta e tal anos, quando fui agenciada pela Elite Lisbon.

Já era, nessa fase, cronista na minha página Casa Claridade e no Jornal O Ribatejo. 
A minha paixão são as histórias, pela ausência de limites que existe na criação. 
Tudo pode acontecer; uma página por escrever é uma tela em branco onde determino quem são as personagens e o narrador, escolho as palavras e expressões, decido quando fazer um parágrafo para o leitor repousar entre as ideias que vou pincelando, esqueço-me de mim e do mundo.

Sob os véus imaginários de Sheherazade n’“As Mil e Uma Noites”, escrevi, ao longo dos últimos doze anos mais de mil textos. A frequência da escrita tem abrandado, no entanto as histórias continuam a ser contadas através da Fotografia. Em cada foto nasce uma personagem diferente, a que me entrego como uma folha branca recebe a tinta da caneta.

Não é a profissão que temos que nos deve definir, pois tudo é mutável e impermanente. Inquieta com a perspectiva de me ver reduzida, catalogada e limitada a um estereótipo, acumulo várias actividades diferentes que encaixam umas nas outras: para além das que já referi, professora e terapeuta de Reiki, bem como de Regressão, taróloga, tradutora, revisora e mais algumas ocupações que vos iriam despertar bocejos de tédio.

Não tenho ambição ou objectivo algum em particular no que se refere ao meu trabalho como modelo; apenas o de continuar a contar histórias e viver este privilégio de ser muitas-mulheres-numa-só. 

Apesar disso, confidencio-vos, com um misto de acanhamento e de marotice, que quando tomo duche e os pensamentos divagam, entro naquela realidade paralela onde a Oprah Winfrey é minha amiga e está a entrevistar-me; o Bryan Ferry quer-me no próximo videoclipe; a marca Giorgio Armani convida-me para ser a modelo do anúncio do último perfume; e entretanto já me comprometi com o Pedro Almodovar para a mais recente película. Estão, assim, justificados os meus longos duches. 

Afinal, o que é a fotografia artística, senão a composição de uma realidade para deleite dos sentidos e da mente?

O destaque completo pode ser consultado directamente aqui: Revista Fotomanya.

Hazel

A Barriga da Serpente


Está escuro aqui em baixo. O ar tem um odor acre e insinuantemente venenoso. Circula nas minhas narinas como a aragem inofensiva do fim de tarde nas janelas esquecidas.

Aconchegada no interior da terra, desloco-me devagar, abro caminho por entre a teia de raízes repletas de bichos da terra que caminham com agilidade em incontáveis patinhas minúsculas pelo meu corpo.

As raízes convergem para um bolbo. O subsolo é, até onde consigo vislumbrar, um reino penumbral de silêncio, frescura e sossego.

A planta está a testar-me, mostrando de onde vem, como nasceu. Sem resistência, repúdio ou medo, observo com respeito e humildade. Fundo-me nela, torno-me também planta.

Tudo se dissolve e transforma.

O eco distante dos ícaros indica a direcção. Não distingo se sou eu que percorro o caminho, ou se é o caminho que me percorre a mim.

Uma auto-estrada de padrões longitudinais castanhos e esverdeados abre e desenrola-se formando um universo feito de pele de serpente. Mergulhada nesta dimensão, a temperatura corporal desce, toda a camada superficial da pele exsuda humidade. O meu corpo metamorfoseia-se numa estrutura fria, reptilínea.

Queres aprender com as serpentes? — sussurra, cuidadosa e inocente, quase infantil, uma pequenina serpente que se aproxima.

Sim — respondo.

— Virá uma grande serpente para te ensinar. Vais aprender com o veneno da serpente. Não deves ter medo dela, nem do veneno. O veneno irá ensinar. Confia no professor. Não esqueças. Confia... 

Após sibilar esta advertência, a delicada serpente desaparece deixando-me mergulhada nas trevas. Aguardo curiosa, mas nada vejo. Tento perceber onde estou.

Há um movimento subtil a embalar-me. 

Descubro-me dentro da grande serpente. As suas entranhas latejam, movem-se à minha volta. Viaja comigo dentro da barriga, aninhando-me num útero alongado onde a luz filtrada revela o veludo vermelho-escuro das paredes húmidas em sucos íntimos.

— O medo é uma resistência à aprendizagem — declara, numa voz que reconheço de imediato: a voz dos meus pensamentos. A minha voz mental — Não se interrompe o professor com perguntas. Observa o que ele te mostra. As perguntas são uma árvore. O professor está a mostrar a floresta inteira.

Dentro da serpente apenas vejo as suas entranhas, e nas suas entranhas posso ver tudo, em qualquer lugar físico ou temporal. Aceder aos arquivos do mundo. Ao Todo.

Poderia colocar as questões que quisesse, mas fazer perguntas é uma necessidade de controlo e condiciona os ensinamentos. Tudo é irrelevante. É preferível observar sem nada esperar, com a humildade da serpente que rasteja.

A serpente dobra-se sobre si mesma, dobrando, assim, o tempo. Une passado e futuro. Molda a linha contínua do tempo numa circunferência. Não há princípio nem fim. Mostra-me que a partir deste círculo acedo ao futuro através de sonhos e pressentimentos enviados pelo meu eu de adiante.

Cada mulher é uma serpente, recordo-o agora. Esta força primordial tem estado comigo desde sempre, mas esteve sempre esquecida.

Pego num caderno e tento anotar 
esta torrente de ensinamentos. 

A caligrafia afasta-se do papel, flutua e move-se numa coreografia cheia de floreados e arabescos executada por formigas de tinta preta que dançam suspensas no ar.

Sento-me para beber um pouco de água e tudo se transmuta. Torno-me enorme, uma montanha com árvores, plantas, nuvens, céu. Toda eu serenidade, frescura, vastidão, profundidade. Feminina, fecunda, em constante dádiva.

A interligação de passado, presente e futuro é a serpente que, na sua imortalidade e na capacidade de gerar vida, acede a todas as dimensões temporais devorando-se a si mesma sem se extinguir. A partir do seu interior, onde viajo, e através da minha natureza feminina, acedo aos presságios, sibilos do futuro.

Deito-me e fecho os olhos para descansar, com a sensação de não ter terminado a viagem. Entro novamente na frequência límpida e silenciosa dos ensinamentos da planta.

Um ovo. Estou dentro dele. Os músculos adutores comprimem-no, empurram com delicadeza, expelem-me de dentro da serpente. A casca abre.

Lambuzada pelos sucos do nascimento, deparo-me comigo, acabada de regressar, recém-renascida, dentro de um ninho de pássaros.

Sob os vapores do veneno da serpente,

Hazel
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Ilustração: Kellepics, licença CC0

Rishikesh, a cidade dos gurus

Rishikesh, situada mesmo na base dos Himalayas, no Norte da Índia, é uma cidade Hindu sagrada com particularidades únicas e onde nos habituamos a um estado de surpresa permanente.

A nascente do Rio Ganges é muito perto daqui e as suas águas verde-esmeralda são ainda cristalinas e seguras para tomar banho, desde que com as devidas precauções — agarrar em cordas de protecção, manter-se sempre junto à margem e nunca tentar nadar — para não ser levado pela perigosa e fortíssima corrente.

Acreditam os Hindus que quem se banhar nas águas sagradas do Ganges limpa todos os seus pecados.

Vendedor ambulante que deambula junto ao Ganges. 

A alimentação é, por imposição legal e religiosa, completamente vegetariana. 
O consumo de animais e de álcool é proibido e não se encontra nos restaurantes. 

As especiarias estão sempre presentes na gastronomia de sabores intensos e estimulantes.








Ponte de Laxman Jhula, sobre o Rio Ganges.

Nas duas pontes oscilantes — mas seguras — sobre o Rio Ganges em Rishikesh, passam pessoas, vacas, burros e macacos, tudo-ao-mesmo-tempo. Para os Hindus, todos os animais são sagrados e circulam livremente, como se fossem humanos.

Os macacos, larápios velhacos, estão sempre atentos a uma oportunidade para furtar comida, óculos-escuros, máquinas fotográficas ou qualquer objecto pequeno que seja transportado de forma distraída.

Limpadores de Ouvidos (Hã?).

Estes dois amigos com bolas de algodão entaladas em cima das orelhas e maletas pretas, são "Limpadores de Ouvidos". Como o nome indica, limpam os ouvidos de quem quiser — sem garantia de não causar surdez permanente. Aqui está a solução para nunca mais ouvir conversas inconvenientes, estes senhores resolvem.

Vendedor de livros no mercado. 

Na Índia, falam-se vinte e três línguas e mais alguns dialectos não reconhecidos oficialmente. As duas línguas principais são o hindi e o inglês. 

Sumo de cana-de-açúcar com lima e hortelã espremido no momento. 

O mais delicioso e revigorante sumo que existe no mundo. Vale bem a pena arriscar uma hepatite B num copo mal lavado para degustar esta iguaria. Viver, por si, já é um risco. Por isso, eu alinhei em beber — e sobrevivi para contar a história.

Cortejo de Krishna.

Não existem passeios para os peões e todos circulam misturados: carros, pessoas, animais, carroças, motas e barcos. Todos sobrevivem, segundo parece. Tudo flui, de alguma forma misteriosa que não é para ser compreendida, mas para ser aceite.


As lojas de saris. 

Valha-me Maa Durga, a beleza e a exuberância das roupas femininas levam a mais espartana e indiferente mulher a perder-se em suspiros e devaneios mentais onde se imagina como personagem nos contos "As Mil e Uma Noites". 

Está claro que eu quis comprar todos os saris. Acabei por não comprar nenhum e agora vou arrepender-me para sempre. Buá!

Os colares de flores.

As flores são abundantes e de cores vibrantes, vendidas em colares para as celebrações Hindus junto ao Ganges.

Namasté.

As saudações mais usadas nesta região são "Namasté", "Areom" ou a colocação da mão sobre o peito enquanto sorrimos. 

As mulheres em Rishikesh.

Muitas mulheres indianas, nesta região, são mendigas ou trabalham na construção civil e a carregar pedras enormes sobre a cabeça. As condições em que vivem são extremamente duras para a sua constituição física frágil.

Nas lojas, casas de câmbio, cafés e restaurantes, táxis e tuk-tuks, quase só trabalham homens.

Os Sadhus.

Os gurus, líderes religiosos de barba e cabelos compridos, olhar compassivo e discurso lento e bem articulado, são prolíferos aqui. 

Em cada rua, tropeçamos num Sadhu, estes sábios prontos a revelar-nos os mais recônditos segredos da existência humana a troco de algumas rupias. 

As crianças.

As crianças que têm a sorte de poder estudar são alegres, simpáticas, felizes. 
Um privilégio que não está acessível a todas as famílias nesta região, pois muitas começam a trabalhar ou a viver como mendigos logo que aprendem a andar. 

A Índia é um país de contrastes: cheiro de incenso em todas as ruas, cores vibrantes, flores coloridas, vegetação luxuriante, animais em liberdade, misticismo, celebrações a acontecer diariamente, onde todos sorriem para todos e tudo sempre tem alguma solução improvisada. Como nos filmes de Bollywood, o impossível é sempre possível. 

Existe também a poluição, o lixo nas ruas, a exploração infantil e juvenil, os falsos gurus, os trapaceiros e o barulho a que nos habituamos e que nunca pára. 
O preconceito, o valor que atribuímos às aparências, a repulsa pela sujidade, o medo das doenças, a incapacidade de aceitar a desordem, o barulho e a imundície são colocados à prova diariamente.

Ama-se e odeia-se, na medida daquilo que nos encanta ou incomoda. Depende de onde o nosso olhar pousa e o coração repousa. Depende de quem somos, no fundo.

Contudo — por mim falo —, vence o Amor.
Espero voltar em breve.

O nosso regresso a Portugal esteve em risco; horas depois do avião aterrar, fecharam as fronteiras.
Felizmente, tudo correu bem e Portugal nunca me pareceu tão limpo, asséptico, ordenado e silencioso.

Termina aqui o Diário de Viagem. Muitas graças por me terem acompanhado.

Em quarentena,

Hazel
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Dharamsala, a cidade fora do tempo






Dharamsala, no Norte da Índia, é conhecida por ser a cidade onde reside o Dalai Lama. Mais especificamente, na pequena povoação chamada McLeod Ganj, nas encostas dos Himalayas.

É, dir-se-ia, um país dentro de outro país. A Índia desaparece neste pedaço do mapa, para que o Tibete se materialize aqui, totalmente intacto nos valores humanos, na compaixão, na inocência, na introspecção, na bonomia monástica.

Neste canto esquecido do mundo, o ar limpo e frio com aroma a gelo recém derretido e incenso de sândalo queima-nos as narinas que se dilatam nas muitas subidas íngremes, ladeadas pelas bandeiras de oração tibetanas que ondulam ao vento.

O tempo não existe. O passo lento e contemplativo dos monges pelas ruas; os cães que abocanham com satisfação um pedaço de comida acabado de oferecer; as saias compridas e sóbrias das mulheres tibetanas; os voluntariosos engraxadores de rua; o músico tragicómico que toca guitarra com bonecos presos por fios aos dedos. Tudo está cristalizado nesta dimensão paralela, repetindo-se em lemniscata.

Vemos o movimento dos ponteiros dos relógios, mas garanto que é uma ilusão.

As mais profundas aprendizagens espirituais foram, sem dúvida, pelo exemplo de dignidade e infinita bondade do povo tibetano, nesta povoação misteriosa que nos acolhe dando-nos a sensação de regressar a casa, mesmo que tenhamos nascido do outro lado do mundo.

Se alguém procurar a paz e não a conseguir encontrar dentro de si, talvez a possa redescobrir aqui, nas Rodas de Oração Tibetanas, nos cânticos dos monges e das monjas, no piar dos falcões em vôo planado entre as montanhas, no silêncio dos anciãos.

Numa tentativa utópica de trazer um pouco da paz tibetana engarrafada para mais tarde voltar a ela e partilhá-la com quem também faz deste estado a sua busca existencial, deixo alguns vídeos de momentos inesquecíveis:


Cabana na floresta a caminho da cascata, onde era preparado um chai (chá com especiarias) para dois forasteiros que foram recebidos com naturalidade e displicência, como parte da família.


Rodas de Oração Tibetanas, no Templo do Dalai Lama. Devem ser rodadas no sentido horário. As Rodas de Oração exercem um efeito envolvente e hipnótico naqueles que mergulham por inteiro no seu movimento circular.


Cerimónia religiosa de monjas budistas tibetanas.

Na paz dos monges,

Hazel
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Happy Holi!




H
oje é o segundo dia da celebração do Holi, o festival Hindu das cores e da alegria.
O Holi Fest, como é conhecido, acontece anualmente por toda a Índia na Lua Cheia que ocorre entre o fim de Fevereiro e a primeira quinzena de Março.



Na noite anterior, queimam-se troncos de madeira empilhados verticalmente no centro das praças. Hoje o ritmo alegre da música Punjabi invade as ruas e enfeitiça-nos os sentidos. É impossível não nos deixarmos contagiar com tanta euforia, amor e união entre pessoas.



Ninguém escapa às cores vibrantes e perfumadas que nos são lançadas e espalhadas no rosto, cabelo e no corpo. O comércio encerra para que todos possam festejar, em absoluta igualdade e fraternidade.


O Holi Fest representa a celebração da chegada da Primavera e o triunfo da Luz sobre as Trevas, do Bem sobre o Mal. Todos os ressentimentos são limpos e a emoção que impera é de amor, sendo por isso também conhecido como o Festival do Amor.

Foi, sem dúvida, a celebração mais feliz e contagiante onde alguma vez estive. Com mil cores!

De alma garrida,

Hazel
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Gurdwara, o Templo dos Sikhs

A palavra “Sikh” significa “discípulo”. O Sikhismo é uma religião monoteísta.
Tradicionalmente, os homens não cortam o cabelo, que está sempre envolvido dentro de um turbante, nem a barba.


Para visitar o Templo Sikh tem de se cumprir algumas regras: cobrir a cabeça e os ombros, descalçar e passar por uma área com repuxos que lavam os pés. Os casais não podem beijar-se nem dar as mãos.

Uma parte muito importante do Templo Sikh é a enorme cozinha, onde todos trabalham voluntariamente. A compra dos ingredientes provém de donativos.



Na sala onde se partilham as refeições, que são gratuitas, todos se sentam no chão em estado de igualdade: ricos e pobres, analfabetos e cultos, mulheres e homens, novos e velhos.






Circula-se sempre no sentido horário e a música devocional, que é uma importante parte do culto, é uma constante agradável e hipnótica.

Não existem sacerdotes, como em outras religiões, mas existe alguém que vai gerindo as cerimónias e o Templo. As mulheres também podem oficiar cerimónias.

O celibato não é praticado. Nesta religião, a estrutura tradicional de família é fortemente apoiada. Os homens praticantes da religião Sikh adoptam o apelido Singh e as mulheres adoptam o apelido Kaur.

As bases desta filosofia foram influenciadas por homens santos dos ramos místicos Bhakti, do Hinduísmo, do Islão e Sufi.

De lenço na cabeça,

Hazel
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Aarti, a Cerimónia do Fogo na margem do Rio Ganges


Pela hora do pôr-do-Sol, o misticismo e o exotismo enfeitiçam-nos os sentidos, enquanto nos sentamos rendidos na margem do Rio Ganges para integrar o Aarti.

Aarti é uma cerimónia devocional Hindu onde se oferece luz às divindades e se fazem pedidos que são lançados ao rio. Acredita-se que os movimentos circulares realizados com o fogo trazem boa-aventurança e sorte, e que a luz afasta as trevas.

As oferendas incluem flores coloridas (representam o elemento Terra), água que é aspergida (elemento Água), uma lamparina com ghee ou óleo (elemento Fogo), leques de penas de pavão (elemento Ar), e incenso, que simboliza um estado de espírito puro.






Na margem do Rio Ganges,

Hazel
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De Pernas para o Ar, a Cerimónia do Fogo e o Deus-Macaco


Os dias têm sido intensos, perfumados, divertidos, exóticos.


Acordei às sete – que são duas da manhã em Portugal – para a aula de Yoga matinal e entoação de mantras, desta vez em Rishikesh, junto ao Rio Ganges.

Os horários e ritmos estão virados de pernas para o ar, mostrando uma perspectiva diferente da realidade externa e interna quando nos rendemos, em aceitação, sem medos ou preconceitos.

Depois da vivência profunda e compassiva com o Budismo Tibetano, deixámo-nos inebriar pelas cores vibrantes e pelo exotismo do Hinduísmo.

A Cerimónia Hindu do fogo, com oferendas de flores, água, incenso e arroz, foi um dos mais belos e cinematográficos momentos desta aventura.


Hoje o almoço foi servido segundo os costumes tradicionais, em pratos de folhas de bananeira. Todos os animais são considerados sagrados. Assim, toda a nossa alimentação é vegetariana.


Até os velhacos dos macacos que estão sempre à espera de oportunidade para roubar o que conseguirem apanhar são sagrados na Índia. Quando penso que já vi de tudo, aparece Hanuman, o Deus-Macaco, uma divindade muito cultuada nesta região.

A pentear macacos,

Hazel
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