Estávamos perto da meia-noite e o nevoeiro era tão espesso que parecia algodão.
As estradas estavam vazias, e o carro, de quatro-piscas ligados, acelerava a fundo rumo ao Hospital, sem que conseguíssemos ver mais de 2 metros à frente do carro.
O meu maior receio era que batêssemos em alguma coisa e eu não conseguíssemos chegar a tempo.
Mas conseguimos chegar sãos e salvos. Algum tempo depois, vi-me despojada das minhas roupas e com uma camisa de dormir de Hospital vestida.
As dores intensificaram-se. Não adiantava chorar nem gritar. Nem reprimir, nem... o que me restava mais? Estava enlouquecida, reduzida a um animal selvagem que sofria brutalmente, e agarrei nos meus cabelos e puxei com força. Eu até devia meter medo...
Passei a noite inteira assim, enquanto ouvia todos os palavrões possíveis e imaginários berrados a plenos pulmões por outras mães. Eu não piei. Mas sofri. Muito.
Finalmente chegou o anestesista, e eu estava disposta a ajoelhar-me e implorar para que me tirasse as dores que me trespassaram a noite inteira. Não foi preciso tanto, felizmente!
O efeito da anestesia fez com que eu olhasse para o relógio pendurado na parede, e deixasse de saber dizer que horas eram. Mas as dores tinham desaparecido.
Quando chegou a hora, a enfermeira ajudou-me a levantar da cama para ir para a sala de partos. Sim, eu ia ter um filho. O meu primeiro filho.
Caminhei de mão dada com ela, completamente atordoada pela anestesia, de cabelos esgrouviados e com o rabo de fora (camisas de dormir de Hospital...).
Minutos depois, ele nasceu.
Espantosamente grande e quente. Com caracóis.
Era o maior bebé que lá estava (foram muitos pacotes de bolacha Maria).
Passei lá 4 noites, em que não dormi com medo que mo levassem, ansiando pela tranquilidade e silêncio da minha casa.
Quando regressei, já não me lembrava de nada. Nem da minha morada e creio que já nem do meu nome completo. Deixei de ter nome, e passei a ser apenas... mãe.
Registo aqui estas memórias, para que não se desvaneçam com o passar dos anos.
Feliz aniversário, filho!
Eras um bebé grande, forte e tranquilo. Tinhas sempre as mãozinhas frias.
Gostavas de ouvir mantras tibetanos. Estavas sempre atento a tudo. Bebias muito leite.
Tinhas medo de barulhos fortes. Cheiravas a caramelo e a flores.
Foste muito desejado e amado (e continuas a ser). Obrigada, filho, por tanto que me deste!
Feliz dia 14 de Janeiro!
[Um agradecimento especial à enfermeira Susana Barbosa, pela forma tão humana e carinhosa como me tratou depois do parto. Nunca se sabe, pode ser que esta informação lhe chegue!]
As estradas estavam vazias, e o carro, de quatro-piscas ligados, acelerava a fundo rumo ao Hospital, sem que conseguíssemos ver mais de 2 metros à frente do carro.
O meu maior receio era que batêssemos em alguma coisa e eu não conseguíssemos chegar a tempo.
Mas conseguimos chegar sãos e salvos. Algum tempo depois, vi-me despojada das minhas roupas e com uma camisa de dormir de Hospital vestida.
As dores intensificaram-se. Não adiantava chorar nem gritar. Nem reprimir, nem... o que me restava mais? Estava enlouquecida, reduzida a um animal selvagem que sofria brutalmente, e agarrei nos meus cabelos e puxei com força. Eu até devia meter medo...
Passei a noite inteira assim, enquanto ouvia todos os palavrões possíveis e imaginários berrados a plenos pulmões por outras mães. Eu não piei. Mas sofri. Muito.
Finalmente chegou o anestesista, e eu estava disposta a ajoelhar-me e implorar para que me tirasse as dores que me trespassaram a noite inteira. Não foi preciso tanto, felizmente!
O efeito da anestesia fez com que eu olhasse para o relógio pendurado na parede, e deixasse de saber dizer que horas eram. Mas as dores tinham desaparecido.
Quando chegou a hora, a enfermeira ajudou-me a levantar da cama para ir para a sala de partos. Sim, eu ia ter um filho. O meu primeiro filho.
Caminhei de mão dada com ela, completamente atordoada pela anestesia, de cabelos esgrouviados e com o rabo de fora (camisas de dormir de Hospital...).
Minutos depois, ele nasceu.
Espantosamente grande e quente. Com caracóis.
Era o maior bebé que lá estava (foram muitos pacotes de bolacha Maria).
Passei lá 4 noites, em que não dormi com medo que mo levassem, ansiando pela tranquilidade e silêncio da minha casa.
Quando regressei, já não me lembrava de nada. Nem da minha morada e creio que já nem do meu nome completo. Deixei de ter nome, e passei a ser apenas... mãe.
Registo aqui estas memórias, para que não se desvaneçam com o passar dos anos.
Feliz aniversário, filho!
Eras um bebé grande, forte e tranquilo. Tinhas sempre as mãozinhas frias.
Gostavas de ouvir mantras tibetanos. Estavas sempre atento a tudo. Bebias muito leite.
Tinhas medo de barulhos fortes. Cheiravas a caramelo e a flores.
Foste muito desejado e amado (e continuas a ser). Obrigada, filho, por tanto que me deste!
Feliz dia 14 de Janeiro!
[Um agradecimento especial à enfermeira Susana Barbosa, pela forma tão humana e carinhosa como me tratou depois do parto. Nunca se sabe, pode ser que esta informação lhe chegue!]