Quando nascemos, não trazemos um mapa no bolso que nos indique a direcção certa a seguir na vida. Nem tão-pouco vimos com bolsos onde guardar o pretenso mapa, porque não trazemos roupa. Na prática, não trazemos nada para este mundo.
Vivemos uma vida inteira na ilusão de que possuímos alguma coisa. Que temos uma conta bancária, uma casa, um nome próprio, o cabelo embaraçado, uma família, uma profissão, as nossas mágoas, as nossas vaidades, planos para o futuro, os sapatos com a sola gasta, as nossas crenças, as janelas por lavar...
E todos nos apontam um caminho, tentando criar o tal mapa que não trazemos à nascença: "Faz isto, faz aquilo, fizeste mal, devias ter feito assim".
Muitos, deixam que sejam os outros a traçar o mapa das suas vidas.
Que, tantas vezes, não vai muito além do caminho de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Outros, mais ousados, recusam os mapas que lhes tentam entregar, e vão à aventura, estrada fora, sem destino, correndo todos os riscos que se possa imaginar. Ninguém os entende. Serão loucos?
Na sua loucura, talvez sejam mais sensatos do que os sensatos que não saem da segurança do sofá que já faz uma cova no sítio onde se sentam.
Afinal, no fim da caminhada, quando morremos, desfaz-se a ilusão da posse.
Não temos nada. Nem a nós mesmos. Nunca tivemos.
É por isso que não trazemos mapa à nascença.
Mas, já que aqui viemos, que façamos uma caminhada o mais bela e prazerosa possível.
Reflexão do dia.
Foto: Da janela da minha casa, ontem às 20:00.
Comentários
Obrigada!
Michelle Aksan
Beijinhos