Tenho um caderno velho que me acompanha sempre. É o meu caderno das ideias.
Escrevo muito lá, mas a maior parte dos meus gatafunhos nunca chega a sair do papel. Alguns, estão há anos entregues ao esquecimento, entalados entre a página anterior e a seguinte à espera de um dia ganharem vida ao serem lidos em voz alta.
No outro dia, levei o caderno para a praia, não fosse dar-se o caso de me surgir uma ideia luminosa como as tardes de Agosto e precisasse urgentemente de anotá-la antes que alguma nuvem trapaceira a levasse. Escrevinhei umas frases soltas, que me iam nascendo saltitantes e aleatórias como as pulgas-da-areia.
As ideias acabaram por fugir com a corrente para longe, e eu resolvi mergulhar no fundo do mar e reler os apontamentos que estavam para trás no meu caderno. Foi quando encontrei algo que um dia escrevi para mim, com o objectivo de ser uma espécie de mensagem numa garrafa, enviada pelos mares do tempo para o meu próprio futuro, caso um dia precisasse de um mapa de tesouro que me trouxesse de volta a mim mesma.
Dizia assim, a minha mensagem na garrafa:
O meu vazio é a minha sombra. Às vezes, tenho de me encontrar com ele.
Faz parte de mim também. Neste vazio, onde tudo cabe, posso ser tudo o que eu quiser. Posso fazer tudo o que eu quiser. Porque sou livre. Enfim, livre!
E, para ser feliz, preciso de salpicar este vazio com umas pitadas ocasionais de:
uma dose de aventura
mistério
riso
alegria
entusiasmo
comida saborosa
vinho tinto
cheiro de terra, árvores e plantas
vento morno
dançar
sonhar
verde, muito verde!
Sol
alongamentos
estudo e descobertas
viajar
Não precisa ser tudo ao mesmo tempo. Nem sei se aguentaria tanta felicidade. Pode ser um destes ingredientes de cada vez.
Quando estiver triste e me esquecer, basta-me vir aqui, e reler a minha mensagem na garrafa.
A velejar ao sabor do vento,
Hazel
Comentários