O chá é bebido com ritual e elegância, dedos mindinhos espetados, lábios discretamente pintados que se esticam com languidez e encostam na loiça branca, olhares afectados, conversas vazias. É então que o paquiderme caminha pesadamente entre sofás de veludo e mesinhas repletas de peças de bricabraque, derrubando tudo à sua passagem. Dirige-se exactamente para a mesa de jantar, onde se senta, estilhaçando todo o serviço de chá, que havia sido uma herança valiosíssima. Até que enfim - acabou.
O chá era horrendo, as cadeiras demasiado rectas e desconfortáveis, já não se aguentava mais. Uns, choram o prejuízo material. Outros, recuperam a compostura e vertem mais um pouco de chá para a única chávena sobrevivente, insistindo na negação das evidências. Outros ainda, têm a coragem de enfrentar a realidade e procuram discernir o motivo e o propósito de todo aquele despropósito. Estes últimos, são os que montam o elefante e batem em retirada, libertando-se de todo o enfado de uma vida de fingimentos, obrigações e insatisfação.
Abençoadas sejam as frustrações por que passamos, que nos fazem duvidar de nós mesmos, das escolhas que fizemos e das que não conseguimos fazer porque nos acobardámos. Abençoadas as arreliações que nos desgastam, fazem cabelos brancos, fervilham o ácido no estômago e descompassam o coração.
O chá era horrendo, as cadeiras demasiado rectas e desconfortáveis, já não se aguentava mais. Uns, choram o prejuízo material. Outros, recuperam a compostura e vertem mais um pouco de chá para a única chávena sobrevivente, insistindo na negação das evidências. Outros ainda, têm a coragem de enfrentar a realidade e procuram discernir o motivo e o propósito de todo aquele despropósito. Estes últimos, são os que montam o elefante e batem em retirada, libertando-se de todo o enfado de uma vida de fingimentos, obrigações e insatisfação.
Abençoadas sejam as frustrações por que passamos, que nos fazem duvidar de nós mesmos, das escolhas que fizemos e das que não conseguimos fazer porque nos acobardámos. Abençoadas as arreliações que nos desgastam, fazem cabelos brancos, fervilham o ácido no estômago e descompassam o coração.
Somos feitos de luz, mas também somos feitos de toda esta matéria densa e corrosiva. E, em certos momentos-chave, não nos resta senão permitir que as sombras se elevem à superfície e encontrem a luz, a feiúra e a beleza fundidas numa só, as entranhas que nos saem pelos olhos e escorrem em lágrimas de tensão liberta. É então que tomamos consciência que nos bastamos a nós mesmos e estamos preparados para arriscar o que quer que seja que virá depois.
Esta semana, a carta O Julgamento inspira-nos a sentir gratidão por todas as experiências negativas por que já passámos, pois foram justamente essas que nos desafiaram a querer mais, e nos salvaram de um dia virmos a tornar-nos alguém que já não espera mais da vida.
Esta semana, a carta O Julgamento inspira-nos a sentir gratidão por todas as experiências negativas por que já passámos, pois foram justamente essas que nos desafiaram a querer mais, e nos salvaram de um dia virmos a tornar-nos alguém que já não espera mais da vida.
Estejamos atentos e sejamos bondosos para com os elefantes nos cantos das salas onde nos sentamos, pois são eles que transportam a segunda oportunidade que precisamos para nos agarrarmos a quem somos... e libertarmo-nos daquilo que não queremos ser.
Hazel
Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 25 Fevereiro
Comentários
Se tenho alguma coisa a apontar é a sequência de imagens muito escassa. Talvez o tempo de preparar a objectiva, entre o chapinhar e a toalha enrolada se tenha perdido parte da sequência. Logo há que ficar pronta a disparar a máquina em prováveis acontecimentos futuros.