Esta dor que hoje me tem apoquentado a zona fronteiriça entre o fundo das costas e o começo das nádegas concebe previsões meteorológicas com maior exactidão que o ido Anthímio de Azevedo. Amanhã vai estar fresco, algumas nuvens e o Sol vai andar acabrunhado, diz-me.
Tenho conversado com ela; todas as dores vêm para ensinar e quanto mais depressa aprender a lição, mais asinha a mestra parte em busca de novo pupilo. É uma dor velha, muito idosa, que veio visitar-me por um dia — amanhã diz que já se vai embora.
Ofereceu-se para me ensinar a fazer crochet, renda-de-bilros e bordado em ponto-cruz. Declinei cordialmente o obséquio, não fosse ela tornar-se hóspede permanente.
Vencida e de malas aviadas para partir pela calada da noite, enquanto durmo o sono dos justos de pijama-às-riscas e cabelo entrançado, a velha dor deixou-me de presente a sabedoria dos ditados populares, essas verdades-indiscutíveis-e-cientificamente-provadas que tenho dado por mim a dizer aos mais novos.
Foi neste momento que me descobri velha como uma relíquia empoeirada de museu, hortaliça murcha, par de botas fedorentas que já palmilharam meio mundo e sabem todos os atalhos, caminhos e azinhagas.
Como sou uma boa velhaca, descobri que este mal é contagioso: começa-se a memorizar provérbios e depois passamo-los aos outros sem apelo nem agravo. Como a maleita proverbial tem andado em recessão (quem é que os cita hoje em dia?), resolvi disseminá-la em grande escala. Ora tomem disto:
— Depois do Natal, dá o dia um saltinho de pardal.
— Calças brancas em Janeiro, sinal de pouco dinheiro.
— No mês de Janeiro sobe ao outeiro para ver o nevoeiro.
— Janeiro fora, cresce o dia uma hora.
— Fevereiro engana a velha ao soalheiro.
— Em Fevereiro, salto de carneiro.
— Fevereiro quente traz o diabo no ventre.
— Março, marçagão, de manhã é Inverno e à tarde Verão.
— Em Março sobe ao outeiro, se vires verdejar, põe-te a chorar, se vires nevar, põe-te a cantar.
— Páscoa em Março, ou fome ou mortaço.
— Março, marçagão, de manhã cara de gato, à tarde cara de cão.
— Abril, águas mil, coadas por um mandil.
— Em Março tanto durmo como faço.
— Abril frio e molhado, enche a tulha e farta o gado.
— Uma água de Maio e três de Abril, valem por mil.
— Em Maio, cereja ao borralho.
— Água de Maio, pão para todo o ano.
— Em Maio, canta o gaio.
— Maio claro e ventoso, faz o ano rendoso.
— O que Janeiro deixa nado, Maio deixa espigado.
— Agosto, mês de desgosto.
— Não há Sábado sem sol, Domingo sem missa nem Segunda sem preguiça.
— A velha que bem governou, o melhor tição para Maio o deixou.
— Em Agosto todo o fruto tem o seu gosto.
— Uma andorinha não faz o Verão.
— Em Agosto frio no rosto.
— Em Dezembro descansar para em Janeiro trabalhar.
O arcano A Sacerdotisa inspira-nos a virar as páginas do tempo, a fazer uso da sabedoria que adquirimos e a nutri-la discreta e incessantemente, numa gestação silenciosa. Sabemos sempre a resposta que precisamos, mesmo quando achamos que não. Basta escutar o que as nossas dores têm para ensinar.
Hazel
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Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, edição 1682
Foto: geralt, licença CC0
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