Não sei se mais alguém terá alguma vez reparado, mas há certas canções infantis de antigamente cujas letras parecem ter sido escritas por psicopatas. Se julgam que me refiro ao "Atirei o pau ao gato", estão enganados. Essa foi escrita por alguém que espanca animais. São di…

Abriu há alguns meses uma churrasqueira ali na rua de cima. Desde então, deixei de sentir o perfume doce e limpo da chuva e o odor verde das árvores. A todas as horas do dia, um intenso e persistente cheiro a frango assado espalha-se no ar, assim como um pum que se julgava inócuo e …

Escrito dentro do comboio algures entre o Algarve e Lisboa. Gosto de viajar sozinha, sem que o meu silêncio seja invadido por palavras supérfluas. Viajar é como viver um caso de amor. Ou de prazer egoísta. Deixar-me seduzir sem oferecer resistência pelo calor de uma nova terra, o…

Todas as mulheres são sereias que navegam na inconstância das marés ao longo de cada lunação. Umas vezes, mantêm-se à superfície, beijadas pelo Sol morno e atrevido. Outras, mergulham nas profundezas obscuras onde se debatem com limos fantasmagóricos que lhes agarram as pernas, e esb…

F oi num Equinócio de Outono que me tornei amiga de uma árvore. Numa pequena mata com várias árvores e arbustos, encontrei uma área onde o chão está coberto por um grande quadrado de cimento, talvez despejado dos restos de uma obra. O cimento rachou e, de dentro da fenda, nasceu um lo…