A Aldeia das Crianças Tibetanas



NOS ANOS SESSENTA, a irmã do Dalai Lama mandou construir esta escola para as crianças que fogem para a Índia, pelas montanhas, separadas das suas famílias que morreram ou ficaram cativas devido à invasão do Tibete pela China. 

Nesta localidade, o governo é independente e foi cedido pela Índia aos tibetanos. Como se fosse um país dentro de outro país.

ESTAS CRIANÇAS, que perderam tudo, as que sobreviveram às condições duras do percurso montanhoso até aqui, foram — e são — recolhidas em famílias adoptivas ou na escola, onde são educadas e protegidas.

O sistema hierárquico é completamente diferente do que conhecemos no Ocidente. São as crianças que cuidam da escola-residência, sendo-lhes atribuídas tarefas de acordo com a idade. 

Para além de aprenderem a falar e escrever tibetano, inglês, hindi e as outras disciplinas que fazem parte do programa académico, fazem limpezas, cozinham, lavam roupa e cuidam de tudo o resto, com a orientação das "mães” que trabalham na instituição. 

São, assim, preparadas para serem auto-suficientes quando crescerem e integrarem-se na comunidade indiana, ou, se preferirem, podem optar por ficar como residentes permanentes na Aldeia e serem professores/orientadores das gerações seguintes.

As crianças são responsáveis por todas as tarefas domésticas da aldeia






Dormitório
ESTÃO DE FÉRIAS nesta época do ano, mas visitámos os dormitórios, a cozinha, a sala onde vêem televisão e pudemos ver, entre a floresta, as casas onde decorrem as aulas. As condições são muito humildes, mas sem dúvida que existe genuíno amor na formação destas crianças.

Ver esta realidade com os próprios olhos foi duro, e só aqui e agora, no silêncio da escrita, me atrevo a confessá-lo. Os olhos da mulher tibetana que relatava a história das crianças, não tinham uma sombra de mágoa, de ressentimento, de tristeza. 

No seu olhar, vi apenas o sentido de missão, a aceitação, o amor incondicional, o respeito. Nunca proferiu uma palavra negativa sobre a invasão do Tibete pela China. Não havia raiva. Apenas paz. Que dignidade, e que humildade. 

Enquanto traduzi para o nosso grupo de viajantes o que a "mãe" tibetana me relatava, engoli em seco o nó que se me formou na garganta. Seria uma falta de respeito ceder às emoções perante a nobreza que este povo demonstra. 

A divisa da escola: "COME TO LEARN GO TO SERVE"
O povo tibetano não tem absolutamente nenhum sentimento de revolta em relação ao que o governo chinês destruiu. A sua postura é de verdadeira compaixão e honra. Os tibetanos convidam os chineses a fazer visitas e mesmo palestras sobre Ciências nas suas instalações. 

Que poderosa lição de perdão, de diplomacia, de bondade e resistência através do Amor.  Nós, os ocidentais, temos, deveras, ainda muito a aprender.

Qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode tornar-se padrinho/madrinha de uma criança tibetana, comunicar com a instituição, ou fazer algum donativo, através do site da escola: www.tcv.org.in

“Come to learn, go to serve.”

Hazel
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McLeod Ganj, Monges Tibetanos e os Picos dos Himalayas

OS DIAS NA ÍNDIA PARECEM ter a duração de setenta e duas horas. Por volta das seis da manhã, apanhámos um vôo interno para Dharamsala, uma cidade rodeada de floresta à beira dos picos dos Himalayas, também conhecida como “Little Lhasa”, onde reside o Dalai Lama.

Esperava-nos um avião muito pequeno e antigo que parecia uma lata-de-salsichas. Podia imaginar a sua manutenção realizada horas antes, com marteladas e uns arames a prender tudo, sob a graça e protecção de Buddha. 

O vôo foi seguro e tranquilo — nem precisámos de usar o pára-quedas  😅 — e o aeroporto, deserto, acolhedor, inundado de luz dourada e silêncio místico, dá-nos as boas-vindas.

Estamos agora em McLeod Ganj, uma localidade pequena onde se respira paz e ar limpo. Aqui reside uma vasta comunidade tibetana. Os monges estão por todo o lado, assim como as bandeiras com orações tibetanas, tuk-tuks, macacos velhacos que roubam telemóveis, música Punjabi, vacas, motas e cenouras vermelhas.

Continuamos na Índia, mas é como se estivéssemos num país diferente: o Tibete.
A cultura, gastronomia, arquitectura e arte do Tibete predominam. A saudação também é diferente, em tibetano: "Tashi Delek!"

Sinto-me acolhida como se tivesse chegado a casa. A tranquilidade e o exotismo desta região alteram-me a percepção da realidade numa espécie de feitiço que confunde os sentidos. 

Os sons, os cheiros, as expressões, os hábitos, a temperatura, os sabores, tudo nos transporta para outra dimensão. Como se aqui fosse a realidade e tudo antes tivesse sido uma ilusão. Tudo mesmo. Como se tivesse passado para o outro lado do espelho. Que estarei para aqui a escrever?  




Alguns vídeos:



A degustar um chai nos picos dos Himalayas,

Hazel
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O Taj Mahal, Vrindavan e os Indianos a Roubar Fotos com as Mulheres dos Outros

ACORDÁMOS DE MADRUGADA para nos anteciparmos ao trânsito frenético e imprevisível de Delhi. Balvinder Singh, o nosso driver de turbante sikh, levou-nos até Vrindavan, uma cidade religiosa.
 



POR SER UMA CIDADE SAGRADA, os autocarros não podem entrar e isso significa que, de um momento para o outro, saltámos para um tuk-tuk e serpenteámos como uns foragidos, por entre táxis, vacas e bancas de vendas até ao templo.

Os cânticos devocionais, o aroma de incenso e a luz que reflecte em todas as superfícies transportam-nos para uma dimensão onírica de cor, leveza e alegria. O chão aquecido pelo Sol indiano sob os nossos pés descalços convidava-nos a ficar. Em boa verdade, poderíamos ter lá ficado meses. Ou anos. 

Contudo, não pudemos demorar-nos. A aventura prossegue, rumo ao Taj Mahal, na cidade de Agra, uma das Sete Maravilhas do Mundo. Perfeito, simétrico, diáfano, mágico, uma visão verdadeiramente sobrenatural retirada de um conto-de-fadas. 

Mas, justo será dizê-lo, quando entramos — que sinistro e inesperado arrepio no pescoço —, quebra-se o encantamento. No seu interior, reina uma atmosfera penumbral de silêncio lúgubre, triste e frio em volta do túmulo do Imperador Shah Jahan e da sua mulher Mumtaz. 

Os indianos estão sempre a pedir para tirar fotos com os estrangeiros. Mulheres, homens, crianças e agregados familiares inteiros ficam radiantes por aparecer connosco numa foto. 

Descobri também que os homens indianos que pedem para tirar fotos com os casais estrangeiros, colocam-se estrategicamente ao lado da mulher e depois cortam o homem da foto para aparecer só ele (o indiano) e a mulher, e assim dizem aos amigos que é a sua namorada estrangeira. A sério!

 
De pinta vermelha na testa,

Hazel
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"No problem"



PARAGEM SEGUINTE: Nova Delhi, Índia.

Todos sãos e salvos. Depois de feito o check-in no Hotel, recebemos as boas-vindas do nosso amigo, o monge budista tibetano Tensy, que trouxe oferendas e bençãos para todos.


Acompanhou-nos no autocarro para uma tour no trânsito caótico e insano de Delhi. Os carros têm todo um aparato decorativo no tablier que parece a sala de uma tia velha, daquelas que têm naperons, jarras com flores, sofás com padrões florais antigos e bibelots com imagens dos santos da sua devoção — neste caso, Ganeshas ou outras divindades exóticas.

Não se usa piscas, e os semáforos, faixas ou sinais de trânsito não interessam. É cada um por si no meio da cacofonia de buzinadelas, vacas que andam no meio dos carros e pessoas que, benza-os Shiva, caminham no meio da estrada como se possuíssem o dom da eternidade.

Enquanto isso, Tensy entoa mantras para vida longa, saúde e felicidade no autocarro. Uma bela metáfora para a vida, que é cheia de contrastes.

Horas mais tarde, no Templo Akshardham, o meu companheiro-de-viagem-e-de-vida e guia do grupo, que conseguiu um novo Visto em tempo-relâmpago e já chegado à Índia, encontrou-nos.

Tudo corre sempre bem. Como dizem aqui na Índia, no problem, no problem.
No problem, really.

Hazel
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“Sou a vossa guia e estou perdida. Sigam-me. É por aqui.”



DENTRO DE POUCOS MINUTOS vou levantar vôo. Vou, é como quem diz, vai o avião. Do meu lado direito está uma chinesa com máscara anti-Corona-vírus-e-outras-calamidades-microbiológicas. Do lado esquerdo, o lugar está vazio.

Por razões inesperadas, imprevisíveis e inexplicáveis, mal poderia imaginar, quando acordei hoje de uma noite mal dormida onde sonhei que me encontrava perdida algures no planisfério, que iria, literalmente de um momento para o outro, ser a guia de um grupo de quinze pessoas que me espera do outro lado do mundo. 

Estou, assim, a viajar sozinha. 

Dentro de muitas horas, esperam-me as tais quinze pessoas para quem serei o único guia num país que não conheço, com um roteiro de viagem explicado à pressa por telefone minutos antes de embarcar. 

Era mesmo esta a cura que eu precisava para a minha ansiedade, benzam-me os Deuses. Ninguém pode saber que estou em pânico. Muito menos eu. Especialmente eu. Não se passa nada.

A próxima paragem será no Dubai e esta é a primeira página do diário de uma aventura ao total desconhecido, que partilharei convosco diariamente.

Até já!

Hazel
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