Destaque na Revista Fotomanya


Hazel Evangelista, nascida a cinco de Maio de mil-nove-e-sete-sete em Oeiras. Contas feitas, tenho apenas dezasseis anos ― que ninguém diga o contrário. 
As minhas raízes estendem-se pelo Alentejo e Espanha do lado materno e pela Parede na contraparte paterna.

[Destaque publicado na edição de Junho de 2019 na Revista Fotomanya. 
Mea culpa por não ter partilhado mais cedo com os leitores da Casa Claridade.]

Quando era pequena, abria o guarda-vestidos e as gavetas da minha avó, compunha conjuntos de roupas e fazia ― com grande convicção ― desfiles de moda imaginários pela casa. Por baixo dos vestidos e combinações de renda, usava um dos seus soutiens com uma laranja de cada lado.

Fiz a primeira sessão de fotografia com fins profissionais aos dezoito anos, mas os meus pais, que eram muito conservadores em relação a este universo, não me autorizaram a prosseguir. Acabei por não voltar a pensar no assunto até por volta dos trinta e tal anos, quando fui agenciada pela Elite Lisbon.

Já era, nessa fase, cronista na minha página Casa Claridade e no Jornal O Ribatejo. 
A minha paixão são as histórias, pela ausência de limites que existe na criação. 
Tudo pode acontecer; uma página por escrever é uma tela em branco onde determino quem são as personagens e o narrador, escolho as palavras e expressões, decido quando fazer um parágrafo para o leitor repousar entre as ideias que vou pincelando, esqueço-me de mim e do mundo.

Sob os véus imaginários de Sheherazade n’“As Mil e Uma Noites”, escrevi, ao longo dos últimos doze anos mais de mil textos. A frequência da escrita tem abrandado, no entanto as histórias continuam a ser contadas através da Fotografia. Em cada foto nasce uma personagem diferente, a que me entrego como uma folha branca recebe a tinta da caneta.

Não é a profissão que temos que nos deve definir, pois tudo é mutável e impermanente. Inquieta com a perspectiva de me ver reduzida, catalogada e limitada a um estereótipo, acumulo várias actividades diferentes que encaixam umas nas outras: para além das que já referi, professora e terapeuta de Reiki, bem como de Regressão, taróloga, tradutora, revisora e mais algumas ocupações que vos iriam despertar bocejos de tédio.

Não tenho ambição ou objectivo algum em particular no que se refere ao meu trabalho como modelo; apenas o de continuar a contar histórias e viver este privilégio de ser muitas-mulheres-numa-só. 

Apesar disso, confidencio-vos, com um misto de acanhamento e de marotice, que quando tomo duche e os pensamentos divagam, entro naquela realidade paralela onde a Oprah Winfrey é minha amiga e está a entrevistar-me; o Bryan Ferry quer-me no próximo videoclipe; a marca Giorgio Armani convida-me para ser a modelo do anúncio do último perfume; e entretanto já me comprometi com o Pedro Almodovar para a mais recente película. Estão, assim, justificados os meus longos duches. 

Afinal, o que é a fotografia artística, senão a composição de uma realidade para deleite dos sentidos e da mente?

O destaque completo pode ser consultado directamente aqui: Revista Fotomanya.

Hazel

A Aldeia das Crianças Tibetanas



NOS ANOS SESSENTA, a irmã do Dalai Lama mandou construir esta escola para as crianças que fogem para a Índia, pelas montanhas, separadas das suas famílias que morreram ou ficaram cativas devido à invasão do Tibete pela China. 

Nesta localidade, o governo é independente e foi cedido pela Índia aos tibetanos. Como se fosse um país dentro de outro país.

ESTAS CRIANÇAS, que perderam tudo, as que sobreviveram às condições duras do percurso montanhoso até aqui, foram — e são — recolhidas em famílias adoptivas ou na escola, onde são educadas e protegidas.

O sistema hierárquico é completamente diferente do que conhecemos no Ocidente. São as crianças que cuidam da escola-residência, sendo-lhes atribuídas tarefas de acordo com a idade. 

Para além de aprenderem a falar e escrever tibetano, inglês, hindi e as outras disciplinas que fazem parte do programa académico, fazem limpezas, cozinham, lavam roupa e cuidam de tudo o resto, com a orientação das "mães” que trabalham na instituição. 

São, assim, preparadas para serem auto-suficientes quando crescerem e integrarem-se na comunidade indiana, ou, se preferirem, podem optar por ficar como residentes permanentes na Aldeia e serem professores/orientadores das gerações seguintes.

As crianças são responsáveis por todas as tarefas domésticas da aldeia






Dormitório
ESTÃO DE FÉRIAS nesta época do ano, mas visitámos os dormitórios, a cozinha, a sala onde vêem televisão e pudemos ver, entre a floresta, as casas onde decorrem as aulas. As condições são muito humildes, mas sem dúvida que existe genuíno amor na formação destas crianças.

Ver esta realidade com os próprios olhos foi duro, e só aqui e agora, no silêncio da escrita, me atrevo a confessá-lo. Os olhos da mulher tibetana que relatava a história das crianças, não tinham uma sombra de mágoa, de ressentimento, de tristeza. 

No seu olhar, vi apenas o sentido de missão, a aceitação, o amor incondicional, o respeito. Nunca proferiu uma palavra negativa sobre a invasão do Tibete pela China. Não havia raiva. Apenas paz. Que dignidade, e que humildade. 

Enquanto traduzi para o nosso grupo de viajantes o que a "mãe" tibetana me relatava, engoli em seco o nó que se me formou na garganta. Seria uma falta de respeito ceder às emoções perante a nobreza que este povo demonstra. 

A divisa da escola: "COME TO LEARN GO TO SERVE"
O povo tibetano não tem absolutamente nenhum sentimento de revolta em relação ao que o governo chinês destruiu. A sua postura é de verdadeira compaixão e honra. Os tibetanos convidam os chineses a fazer visitas e mesmo palestras sobre Ciências nas suas instalações. 

Que poderosa lição de perdão, de diplomacia, de bondade e resistência através do Amor.  Nós, os ocidentais, temos, deveras, ainda muito a aprender.

Qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode tornar-se padrinho/madrinha de uma criança tibetana, comunicar com a instituição, ou fazer algum donativo, através do site da escola: www.tcv.org.in

“Come to learn, go to serve.”

Hazel
Consultas em Cascais, Oeiras e online
Tarot | Reiki | Reprogramação Emocional | Terapia Multidimensional | Regressão

Festival de Balonismo em Coruche


O 1º Festival Internacional de Balonismo irá realizar-se de 28 de Março a 2 de Abril em Coruche, a cerca de 45 minutos de Lisboa, e contará com mais de trinta balões de ar quente vindos de vários países do mundo, alguns com formas especiais, como o pelicano que virá do Brasil, ou a coruja de Las Vegas, EUA. 

Durante seis dias, os visitantes deste festival de entrada gratuita poderão observar a vila ribatejana a partir do céu, assistir ao Night Glow, um espectáculo de luz e som onde os balões irão sincronizar os seus queimadores com o ritmo da música; haverá artesanato e actividades para toda a família e a presença de restaurantes tradicionais da vila e street food, à volta da Praça de Touros.

Este evento, onde a sustentabilidade é um factor de relevância, irá contribuir para a plantação de árvores de espécies autóctones na Herdade dos Concelhos, no município, que serão colocadas na terra durante o mês de Outubro. Quem comprar uma árvore terá acesso a uma viagem de vôo livre em balão de ar quente. Parte do valor das vendas reverterá a favor da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza.

A segurança e a qualidade dos vôos são uma prioridade para a Windpassenger, empresa com mais de 30 anos de experiência na prática de balonismo, que possui todos os certificados, seguros e licenças da EASA (European Aviation Safety Agency), sob a direcção de operações do piloto responsável pelos vôos, Guido Van Der Velden dos Santos. Este evento é patrocinado pela Rubis Gás, Câmara Municipal de Coruche e Paladin.

O custo de cada árvore/viagem de vôo livre será 159€. Os vôos estáticos serão gratuitos.
As reservas podem ser feitas através do site do Festival Internacional de Balonismo.

 De olhos postos no céu, Guido Van Der Velden dos Santos, o piloto responsável pelos vôos.




NOTA DE AGRADECIMENTO:
As fotos que não contêm a marca d'água da Casa Claridade são da autoria de Joana Batista - Viajar em Família, a quem agradeço por ter registado a maravilhosa experiência de voar de balão!

Com a cabeça no ar,

Hazel

O misterioso livreiro-alfarrabista de Cascais

Enquanto outros jovens da sua idade iam jogar futebol, Jorge tornou-se, aos 19 anos, presença assídua nos leilões de arte e antiguidades, em contraste com os frequentadores habituais, de faixa etária bastante mais avançada. Foi assim que tudo começou.

Conheci a Livraria Alquimia na internet. Compram e vendem livros raros, antigos e contemporâneos. Não estão abertos ao público. As visitas são feitas por marcação, apenas acessível a amigos e amigos-de-amigos. Entre uma enorme diversidade de temas, possuem uma quantidade saborosa de livros sobre ocultismo, o que aguçou a curiosidade e imaginação desta vossa escriba que, além de ser apreciadora de livros e antiguidades, viu o filme "A Nona Porta" mais de vinte vezes.

O responsável pela página online, Jorge Telles Menezes, com quem comuniquei por escrito, explicou-me como funciona a invulgar livraria: 

"É um Showroom onde recebo clientes por marcação, normalmente para amigos e amigos de amigos. Fica em Cascais. Este tipo de sistema é bom, visto que posso dedicar um bocado só a determinado cliente, é um atendimento personalizado para cada pessoa. Sou contra as grandes livrarias onde se vende tudo igual, pensando no lucro imediato. Cada cliente é uma pessoa única, temos de o conhecer bem, de falar com ele, de aprender com essa pessoa, pois não é só chegar comprar e até uma próxima. Pode parecer um exagero, mas acaba por ser isso que torna a profissão de Livreiro tão especial e gratificante."

Esta vossa escriba tinha de ir ver com os próprios olhos que local é este, que mistérios oculta, e quem é a enigmática pessoa por trás disto tudo.

Alguns dos livros mais raros encontram-se expostos neste armário centenário

A extrema educação e polidez com que Jorge Telles Menezes respondeu às minhas indagações levou-me a crer que iria encontrar um cavalheiro cerimonioso com mais de setenta anos, de cartola alta, capa preta empoeirada, monóculo e bengala, saído de um romance de Eça de Queiroz.


Contudo, para minha surpresa, quem abriu a porta para me receber foi um jovem de camisa de linho branca, calças de ganga e cabelo puxado para trás atado com um elástico. Informal, contudo sóbrio. Profissional, afável e astuto. Reservado e muito cuidadoso na escolha das palavras, mas de sorriso aberto e voz bem timbrada.


Quando começou este negócio, há mais de 6 anos, Jorge era, provavelmente, o mais jovem livreiro-alfarrabista português, o que lhe valeu alguns momentos agridoces com negociantes mais velhos, ardilosos e pouco escrupulosos, que se aproveitaram para ludibriá-lo. Acidentes de percurso que trouxeram lições rapidamente assimiladas.

Actualmente, com 33 anos de idade e dedicado a tempo inteiro a este negócio, Jorge conhece todos os seus livros em detalhe por dentro e por fora, sendo um anfitrião que nos guia com uma sabedoria exímia em viagem pelas páginas que deslizam como seda sob os seus dedos.


No seu acervo, tem milhares de livros raros, muito raros, antigos - a maior parte desde o século XIX  - e contemporâneos.


Nasceu e cresceu em Campo de Ourique, Lisboa, numa casa muito antiga de 15 assoalhadas onde repousavam quadros de outros tempos e peças de mobiliário centenárias, que foram prevalecendo ao longo de várias gerações.

Pensava vir um dia a tornar-se veterinário, devido ao seu grande amor por cães, contudo, foi aos 19 anos, quando reparou num dos vários convites para leilões de arte que chegavam a casa dos seus pais e ficavam abandonados sobre uma cómoda sem que ninguém lhes desse importância, que o seu percurso de vida ficaria definido para sempre.

O livro mais antigo que detém de momento, sobre Medicina, do ano 1751
Começou a coleccionar livros de arte de forma mais consistente quando entrou na Universidade, onde tirou o curso de História da Arte e, por se ter tornado um conhecedor dos melhores locais para encontrar livros raros, começou nessa época a fazer as primeiras vendas - aos colegas.


A relação entre Jorge, o mais jovem de 3 irmãos, e os livros já vem de tenra idade. Com apenas 1 ano, não se contentava com os livros infantis, preferindo explorar os livros dos crescidos, entretendo-se a folhear e observá-los, mesmo sem ainda saber ler.


Teve durante algum tempo uma loja aberta ao público com um sócio em Lisboa, mas decidiu reformular o negócio, optando por se dedicar apenas a este espaço privado que criou em Cascais, onde está rodeado de livros sobre ocultismo, literatura, poesia, artes, romance, literatura erótica, teosofia, mitologia, auto-ajuda, hinduísmo, fotografia e outros.


Os livros vêm de diversas proveniências; colecções privadas, leilões, outros livreiros-alfarrabistas, heranças. Confessa que no início lhe era emocionalmente difícil dizer adeus a um livro, mas aos poucos acabou por se habituar a deixá-los partir.


O tema mais procurado pelos seus clientes é o esoterismo, sendo as suas faixas etárias maioritariamente a partir dos 30 anos até aos 60-70.


Está a realizar uma formação de instrutor de Yôga pelo Método DeRose Cascais.
É vegetariano, tem um cão e conta-me que nunca se encaixou nas regras estabelecidas pelo sistema de ensino, sempre pensou "fora da caixa".

Os livros não se limitam a este showroom, mas estão espalhados por toda a sua casa.
Lê sempre vários ao mesmo tempo; actualmente, Vítor Adrião e Helena Blavatsky são alguns dos autores que se encontram na sua mesa de leitura. Escreve prosa poética e gosta de declamar poesia.

Não se considera um solitário, mas existe uma misteriosa alma de eremita neste jovem sábio que não gosta de ser fotografado e que, após nos termos despedido, regressa ao seu universo feito de páginas antigas e de livros que sussurram, parecendo transportar consigo toda a paz que existe no mundo.

Obrigada por teres feito um parágrafo para me receber, Jorge.

Hazel

Uma lisboeta pela primeira vez no Porto

Ah, Porto, Porto. Já todos os portugueses te conheciam menos eu. Esperei tanto tempo pelo privilégio de te visitar pela primeira vez. Uma eternidade que só uma cidade eterna como tu poderá perdoar. E que cidade. Rendo-me perante ti.

Torre dos Clérigos
As tuas ruas limpas, espaçosas e diáfanas exalam amor a cada passo que damos.
Quem mora no Porto ama o Porto. E eu também fiquei a amar. Notei com admiração o respeito pela arte, pelos edifícios e monumentos.

Nos meus olhos, trago os teus horizontes onde a história vive intocada, e a foz do Douro, onde poderia abandonar-me aos prazeres da contemplação por horas perdidas - não fosse a minha ânsia de percorrer as tuas ruas e descobrir todos os teus encantos.

Estava Sol e calor. O trânsito era intenso, mas não selvático. Havia música nas ruas. Jovens que se sentavam com um bloco de papel no colo a desenhar a beleza que nos rodeava. Sangria cor de rubi em copos generosos. Muitas lojas de comércio tradicional.

Jardins românticos com bancos de madeira. Os barcos a deslizar nas águas do Rio Douro que ao longe brilhavam como um espelho da cor do vinho do Porto.
Sorrisos sinceros e calorosos. Os nomes das ruas inscritos em tabuletas pitorescas.

Bandos de pássaros que dançavam em espirais sobre as copas das árvores verdejantes e os edifícios antigos compondo um cenário perfeito - numa cidade perfeita.

Marionete e livros antigos à entrada do Mercado do Bolhão

Mercado do Bolhão

Olha a fruta boaaaa!

Artesanato no Mercado do Bolhão. Que pena não ter comprado nada!
Existe uma coesão entre as pessoas que não há em mais parte alguma deste nosso pequeno e rectangular país. As pessoas do Porto são dotadas de um verdadeiro calor humano, de emoções intensas e profundas, um sentido de humor e uma generosidade ímpares. Só no Porto se pode dizer tantos palavrões sem parecer mal, porque no Porto todas as palavras são igualmente dignas e amadas. Existe uma verdade, uma sinceridade nas gentes do Porto que talvez nem os próprios se apercebam possuir.

Livraria Lello
A Livraria Lello, classificada como uma das mais belas do mundo, é tão linda quanto as pessoas dizem. Um universo de magia e beleza, onde uma escadaria hipnótica serviu de inspiração para as descrições de Hogwarts pela autora de Harry Potter, J.K. Rowling, enquanto viveu na Invicta.

Aquelas portas de vidro antigas



Comprei um livro sobre Fadas!

A escadaria que nos recebe como uma língua vermelha que se estende até ao chão de madeira
A Francesinha
Em Roma, sê romano. Ninguém pode ir ao Porto sem provar a famosa "francesinha", um prato típico da Invicta, que consiste em duas fatias de pão com bifes, fiambre, queijo e um molho único (tem mais ingredientes, mas como desconheço a receita, só estou a referir aqueles que identifiquei). 

Quem diria que um singelo e pouco expressivo quadrado a flutuar em molho espesso poderia oferecer tamanho festim para o palato. Delicioso!

Hotel dos Aliados
Escadaria do Hotel dos Aliados
Quarto 503. Simples, prático e confortável. O shampôo cheirava a rosas doces.

Café no Majestic
Só conhecia o Majestic através desta música do Pedro Abrunhosa.
É um local emblemático do Porto, muito pomposo, antiquíssimo, belíssimo e caríssimo. Tudo lá termina em "íssimo" (por isso, só bebi café!).

Rua das Flores
Na Rua das Flores, a arte, o sentido de humor, a cor, a alegria - e as flores - moram em todos os cantinhos. Tocava António Variações num dos bares!

Interior da Estação de S. Bento
Finalmente, as estações de S. Bento e Campanhã, que conheci a vida inteira apenas no jogo do Monopólio (!), se tornaram reais para mim. O mesmo se aplica à Rua de Santa Catarina (do conjunto de ruas vermelhas no Monopólio), Sá da Bandeira (laranja!), Aliados (acho que é das amarelas), Praça da Liberdade (verde), Rua das Flores, e várias outras.

Estação de Campanhã

Sinto-me profundamente grata por ter sido tão bem recebida na Invicta. Mesmo sendo eu uma forasteira - uma "moura" de Lisboa - nunca me senti como tal. O Porto pegou em mim ao colo e amou-me com paixão. E eu retribuí.

As gaivotas no céu nocturno da Praça da Liberdade no Porto (vídeo)

Quando afirmam "o Porto é uma nação", têm toda a razão. É mesmo uma nação.
Não sendo uma pessoa citadina, se tivesse de morar dentro de uma cidade, seria feliz no Porto e de bom grado tomaria a pronúncia nortenha como minha.

O meu agradecimento ao J. P. Alves de Sousa, por me ter mostrado esta bela cidade.

Obrigada, Porto. Mal posso esperar por regressar.

Com um pouco de pronúncia do Norte,

Hazel

Uma noite de loucos no Hospital Júlio de Matos

Neste último Sábado à noite, estive no Hospital Júlio de Matos.
Fui de livre e espontânea vontade, sem vestir um casaco branco, sabem, daqueles em que nos podemos abraçar a nós mesmos, e que são moda nos hospitais psiquiátricos. haha!

E, olhem, deixem que vos diga: foi uma estadia de loucos...

Tudo começou quando enviei uma foto de um antigo guarda-jóias meu que, caso fosse aceite, passaria a fazer parte de um dos cenários vintage da peça de teatro com o nome "E morreram felizes para sempre".

Em troca, se a candidatura fosse aprovada, eu receberia bilhetes VIP para assistir à mesma peça. Eles aceitaram!

Às 22:00, dei por mim, e mais umas vinte pessoas, fechados numa sala pequena, velha, mal iluminada e cheia de tubos de ensaio, no antigo hospital psiquiátrico.

Foram-nos entregues máscaras cirúrgicas e explicadas as regras. É proibido retirar a máscara durante a peça inteira, falar, andar de mãos dadas, tirar fotografias, filmar e mexer nos actores. Casacos e malas devem ficar no bengaleiro. Todos vão de mãos a abanar, retirados da sua zona de conforto.

É permitido circular livremente, mexer nos cenários, abrir gavetas, armários, portas, baús, livros, ler relatórios médicos, e bisbilhotar tudo o que quisermos. Tudo mesmo.

Todos os convencionalismos ficaram lá fora. A maçaneta da porta mexe-se sozinha, causando um silêncio perturbador na sala onde esperamos o início da peça, sem percebermos de imediato que ela já tinha começado, como uma charada perfeita.

A abertura violenta da porta que dá acesso ao interior escuro do hospital, faz-nos ter mais adrenalina do que sangue a percorrer as veias. De máscaras cirúrgicas colocadas, todos perdem as máscaras sociais e observam sem pudores o que se está a passar a um milímetro da própria pele arrepiada de emoção, abrem e remexem em gavetas, ou sentam-se numa poltrona de veludo vermelho-sangue dentro de um quarto impregnado de perfume de lavanda onde um casal se veste para ir a uma festa. Os cenários estão repletos de pistas.

Nesta viagem no tempo, somos transportados para o ano de 1949, em que o Dr. Egas Moniz recebe o Prémio Nobel da Medicina pela sua maquiavélica invenção da lobotomia.

Algumas das pessoas que estavam a assistir foram levadas para salas fechadas com personagens, ou puxadas para o meio da cena, tornando-se parte activa nela (esta vossa escriba, infelizmente, não teve essa sorte!).

A curiosidade é-nos constantemente espicaçada (cheguei a ver um rapaz rastejar por uma passagem secreta dentro de um roupeiro que o levava para outra sala), levando-nos a perseguir as personagens ao longo de cenas recheadas de mistério, loucura, erotismo, pancadaria, dança, sentido de humor e uma dose constante de ironia. Nenhuma palavra é dita pelos actores durante a peça. E, no entanto, conseguimos acompanhar tudo.

Sentimo-nos como fantasmas que descem as escadarias a correr e caminham a passo apressado através dos corredores escuros e cheios de nevoeiro do "hospital dos malucos" - como é vulgarmente conhecido - a meio da noite.

Várias histórias interligadas desenrolam-se em simultâneo nos diferentes cenários, levando-nos a observar diversos pontos de vista para cada situação. Que belíssima metáfora.

Os actores desta peça de teatro imersível tiveram um desempenho irrepreensível.

Os cenários são riquíssimos, mexendo-nos com os sentidos. Diferentes cheiros em cada sala, cortinas de veludo, toucadores, livros velhos, perfumes antigos, um esqueleto, um picador de gelo (para as lobotomias!), chávenas que abanam sozinhas sobre cómodas, candeeiros com abat-jours de franjas...

Regressamos para casa no fim da peça a reviver mentalmente tudo o que se passou, como se o nevoeiro dos corredores do hospital, de alguma forma mágica, nos acompanhasse, e passamos dias a fio a tirar conclusões atrás de conclusões. Talvez tenhamos sido sujeitos a uma lobotomia, mas sem o picador de gelo, e bem-sucedida...

Agradeço à Produção pela oferta dos bilhetes e pela experiência vivida, e regressarei em Setembro, para continuar a charada.

Na plena posse das minhas faculdades,
Hazel

Pelas ruas do meu bairro



Ainda eu usava totós com laçarotes de cetim e meias de renda branca até aos joelhos, e já a Drogaria Costa, no Largo de S. Domingos de Rana, era antiga.

Foram muitas as vezes que ali fui, pela mão da minha mãe, para comprar uma vassoura, um escorredor, um globo de vidro para o candeeiro da sala, querosene, parafusos, ou qualquer outra utilidade doméstica.

Ali havia de tudo, e as pessoas tantas vezes chegavam a fazer fila até à rua. Nesse tempo, ainda não existiam as "lojas dos chineses", nem o Leroy Merlin.


Os anos passaram e quase todo o comércio tradicional foi, aos poucos, desaparecendo como pó numa tarde de vento quente. Excepto esta loja, a mais antiga da localidade. E, quanto a mim, a mais especial.


Hoje precisei de comprar um insecticida para os tapetes (que o meu gato tem andado pulguento!), e resolvi ir lá.

Enchi-me de coragem, venci a timidez e, depois de pagar a minha conta, pedi autorização à senhora para fotografar a sua Drogaria.

Conhecendo-a de vista praticamente desde que nasci, apercebi-me de que só hoje, pela primeira vez, perguntei o seu nome.

A Dona Irides, 76 anos, não queria ser fotografada. Esta senhora, que percebe de torneiras, parafusos, decapantes, tintas, ceras, e toda a parafernália que se possa imaginar numa drogaria, no fundo, é a alma deste lugar. É dela que provém todo o encanto, toda a magia.

Por isso, correndo o risco de ser chata, insisti. Aceitou uma fotografia acompanhada pela sua filha Paula, enquanto conversámos sobre os velhos tempos.



A Drogaria já existia antes de ter sido comprada pela Dona Irides e o seu (já falecido) marido. Desde há 40 anos que esta senhora, bem-disposta e com um sorriso, atende os pedidos de quem lá vai, tendo sempre um conselho útil a dar.


Enquanto as suas sábias mãos me mostravam como se monta uma ratoeira, explicava de que forma os ratos mais espertalhões, depois de roubarem o tentador pedaço de queijo, conseguem escapar.


A sua filha Paula, de 40 anos, a mesma idade da Drogaria Costa, contou-me que sabe tocar piano e, com a genuína doçura e ternura de uma criança, perguntou se me podia dar um beijo.
Claro que sim!



Estas paredes contam histórias de um tempo em que havia menos de tudo. Menos lojas grandes, menos canais de televisão, menos aparelhos electrónicos. Mas, em compensação, havia mais simplicidade, mais olhos-nos-olhos, mais calor humano.

A Drogaria Costa não tem página de internet. Por isso, fui lá directamente, à boa maneira tradicional. Cheguei lá, olhei nos olhos das pessoas e disse que gosto deste sítio, e que é especial para mim! Assim mesmo.




Obrigada, Dona Irides!
Obrigada, Paula!

Dentro da máquina do tempo,

Hazel