Fazer um Banho de Sereia

quarta-feira, janeiro 07, 2015


Todas as mulheres são sereias que navegam na inconstância das marés ao longo de cada lunação. Umas vezes, mantêm-se à superfície, beijadas pelo Sol morno e atrevido.

Outras, mergulham nas profundezas obscuras onde se debatem com limos fantasmagóricos que lhes agarram as pernas, e esbofeteiam peixes-espada que se metem pelo caminho na hora errada e a fazer má cara.

São tantas as vezes que nadam contra a corrente, sentindo-se exaustas, irritadas, incompreendidas, à deriva no mar das emoções. Terrível e mágico ao mesmo tempo!

Sob o olhar cúmplice da Lua que espreita pela janela através dos fios prateados da teia-de-aranha onde uma mariposa acabou de cair, a banheira enche-se de água quente, onde se dissolve um saco de tule com ervas consagradas e sal.

O mundo não existe mais. Só a água e o silêncio que se encontra quando nos deixamos escorregar e nos submergemos totalmente, deixando apenas a pontinha do nariz de fora.

Debaixo de água, ouvimos o ar entrar e sair nos nossos pulmões. Regressamos ao início, à respiração, à nossa essência. Ficamos até que a água arrefeça. Sem pensar, apenas a respirar.

Quando saímos, deixámos de ser a mulher-polvo afogueada que tenta fazer tudo ao mesmo tempo no meio de atarefados cardumes de cores psicadélicas e de gaivotas enlouquecidas, para sermos apenas e tão-simplesmente... uma sereia.

A navegar sem limos,

Hazel

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