Faça Chuva ou Faça Sol

quarta-feira, março 02, 2016



“Março, marçagão, de manhã Inverno, à tarde Verão”, diziam os antigos. O mês de Março é um mês de transição nas estações, de tempo incerto, humores flutuantes, ora esperançosos, ora macambúzios. Nas escolas, deveria haver uma disciplina dedicada apenas à contemplação da Natureza, pois as mais valiosas lições que precisamos de aprender são-nos continuamente ensinadas por esta incansável professora que não desiste de nós, por muito que reclamemos dos seus métodos de ensino.

Os ciclos da vida são iguais aos da Natureza que, tanto nos enche a casa e a alma de Sol, calor e esperança, como de vento frio que escancara atrevidamente as janelas mal trancadas e nos rouba o conforto, as certezas e o ânimo. É tudo tão maior que nós. 
E, mesmo assim, ainda acreditamos que conseguimos controlar alguma coisa.

Nós não controlamos absolutamente nada. Zero. Não controlamos a Natureza, não controlamos o trânsito (excepção concedida aos polícias-sinaleiros e, mesmo assim, há sempre o risco de alguém lhes desobedecer), não controlamos o futuro dos nossos empregos, não controlamos a velocidade da ligação à internet, não controlamos os remoinhos no nosso cabelo, não controlamos a nossa própria vida. 

Já é uma sorte tremenda se nos conseguirmos controlar a nós mesmos perante a imprevisibilidade das pessoas que, por vezes, nos pregam uma rasteira quando julgávamos que nos iam dar uma palmada amigável nas costas; ou das situações, que pareciam estar tão bem encaminhadas, mas, afinal, nos escaparam como areia da praia entre os dedos.

Esta semana, o Cavaleiro de Espadas, frio e contundente como o vento invernoso que se debate contra a chegada da Primavera, mostra-nos a necessidade de aprender a respirar no meio do caos, lidar com os imprevistos e preservar a serenidade quando todos à nossa volta parecem ter enlouquecido ou perdido a noção dos valores humanos mais básicos.

Seguindo os ensinamentos da professora Natureza, lida-se com os dissabores e os imprevistos da mesma forma que se lida com um temporal que surge repentinamente e nos interrompe um dia que prometia ser quente e ameno: sem lamentos nem zangas. 

Aceitamos a inevitabilidade do que nos rodeia e adaptamo-nos com a mesma rapidez com que fomos surpreendidos. Fácil de dizer, mas difícil de fazer, pensarão. 

Ainda assim, é mais eficaz ir buscar um chapéu de chuva do que pôr a cabeça de fora da janela e reclamar com as nuvens: “Oiçam lá, eh vocês aí em cima! Acham que isto é tempo que se apresente?” Não... Não creio.

Hazel
Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 3 Março

PODERÁ TAMBÉM GOSTAR DE LER

0 COMENTÁRIOS

Obrigada pelo seu comentário ♥