ESTA VOSSA ESCRIBA não nasceu no Alentejo. Mas a parte que vai desde as costelas flutuantes até às unhas dos pés é feita de cinquenta por centro de genes alentejanos. Um destes dias, peguei no lápis e no meu caderno de pensamentos, e comecei a reunir uma lista das palavras e expressões alentejanas com que cresci. Ai que bem que soube.
Os alentejanos de outrora chamavam tudo pelos nomes, ou então inventavam designações mais castiças. Com respeitosas desculpas por algum palavreado que poderá constranger os nobres leitores de trato mais cerimonioso, atrevo-me a partilhar este pequeno acervo de expressões coloquiais das terras do além Tejo, resgatado dos recantos mais poeirentos da minha memória, assim como algumas histórias:
Levas um par de nalgadas nã' tarda.
Foi logo a primeira expressão que me lembrei, porque levei muitas. Os alentejanos não usam a palavra "rabo". Só para os animais. Os humanos têm nalgas. Nalgadas são palmadas no rabo.
Pantomineiro (pronuncia-se pant'minêro).
Mentiroso. Aldrabão. Aquele que diz pantominices.
Estás aqui, estás a levar uma estampilha.
Bofetada. Também levei, especialmente da minha professora primária que estava na menopausa e, para aliviar os picos de fúria, fazia o gosto ao dedo a esbofetear os miúdos que se esqueciam de fazer os trabalhos de casa (eu era dolorosamente esquecida).
Caga-te, porca.
Adoro esta. Tem tanto de escabroso quanto de cómico. Não a oiço há anos.
É o equivalente ao "gaba-te, cesto", quando alguém tem a mania da superioridade e gosta de se vangloriar. Mal podem imaginar a quantidade de vezes que a digo mentalmente em resposta a gabarolices que oiço por aí. 😀
Vou à da Assunção.
Ir "à da" é ir a casa de alguém que, geralmente, nunca é muito longe. No entanto, se a casa for longe, numa outra cidade a vários quilómetros de distância, nesse caso já se dizia "vou visitar a Conceição". Atenção: dizia-se sempre "à da", e nunca "à do", a menos que se tratasse de um homem que vivesse sozinho.
Cagalosa.
Havia uma vizinha alentejana com quem eu costumava ir para a praia quando era pequena. Era uma mulher simpática, mas, benzam-na os Deuses, bruta.
Na época, eu não sabia nadar. Ela obrigava-me a ir para a água: levava-me ao colo e deixava-me cair quando vinham as ondas. Acabava por afundar-me, em pânico, com a água a entrar-me pelo nariz e pela boca. Depois lá me agarrava a rir-se muito, e dizia sempre "Ah, cagalosa!".
Cresci zangada com ela, depois desse Verão inteiro em que brincou aos afogamentos comigo e ainda tinha o desplante de me chamar cagalosa, porque sabia que isso me arreliava. Quando ele passava na rua, eu fingia que não a via e, mesmo assim, ela exclamava sempre um sonoro e denunciador "OLH'Á CAGAAALOSAAA!" (eu conseguia ouvir tudo em maiúsculas).
Não sei como sobrevivi aos anos oitenta. Ainda hoje, se ela me encontrasse, me chamaria assim. E se nos tenros anos eu me encolhia de vergonha pela embaraçosa saudação, hoje tenho saudades de ouvi-la.
Mas só da boca desta senhora. Que ninguém se atreva a chamar-me cagalosa. A ver!
Quase me esquecia de referir o significado da palavra. Um cagaloso é alguém medroso.
Anda lá que n'a morres de coice de boi.
Deixa lá que isso não te vai fazer mal (quando temos medo que um determinado alimento nos vá fazer mal).
Rodilha. Pano de limpar a loiça. Ou roupa amarrotada.
Amolar. Arreliar. Aborrecer.
Assomei-me à janela. Espreitei pela janela.
Titarada. Macacada. Confusão. Palhaçada.
Gaiato. Ou gaiata. Criança. Rapaz ou rapariga novos.
Está a dormir e a caçar ratos. A fingir que está a dormir.
Temos a porca nas ervilhas.
O equivalente a "está o caldo entornado". Ou ao igualmente ameaçador "mau, mau..."
Temos a burra nas couves. Idem anterior.
Porra madrinha, que se caga a noiva.
Equivale a "porra", mas mais refinado, como se pode v(l)er. Expressão de espanto, admiração.
Parece que saíste do cu do burro. Tens a roupa toda amarrotada.
(Eu pareço sempre saída do cu do burro, porque não passo a ferro há muitos anos.)
Foi prender o burro. Amuou, fez birra.
Está com o grão na asa. Está bêbedo.
Isso traz água no bico. Ter segundas intenções.
Testo. Tampa (da panela, por exemplo).
Chocolatêra. Cafeteira.
Aventar. Deitar fora.
Canalha. Grupo de miúdos.
Astro. O céu. Exemplo: "Hoje a astro está carregado, vem lá trovoada."
'tou cá com uma lanzêra. Estou cá com uma preguiça/moleza.
Magano. Maroto, traquinas.
Zorra. Raposa
Ametade. (pronuncia-se com os dois "ás" abertos) = Metade.
Cagando e andando (nem acredito que escrevi isto),
Hazel
Mas só da boca desta senhora. Que ninguém se atreva a chamar-me cagalosa. A ver!
Quase me esquecia de referir o significado da palavra. Um cagaloso é alguém medroso.
Deixa lá que isso não te vai fazer mal (quando temos medo que um determinado alimento nos vá fazer mal).
Rodilha. Pano de limpar a loiça. Ou roupa amarrotada.
Amolar. Arreliar. Aborrecer.
Assomei-me à janela. Espreitei pela janela.
Titarada. Macacada. Confusão. Palhaçada.
Gaiato. Ou gaiata. Criança. Rapaz ou rapariga novos.
Está a dormir e a caçar ratos. A fingir que está a dormir.
Temos a porca nas ervilhas.
O equivalente a "está o caldo entornado". Ou ao igualmente ameaçador "mau, mau..."
Temos a burra nas couves. Idem anterior.
Porra madrinha, que se caga a noiva.
Equivale a "porra", mas mais refinado, como se pode v(l)er. Expressão de espanto, admiração.
Parece que saíste do cu do burro. Tens a roupa toda amarrotada.
(Eu pareço sempre saída do cu do burro, porque não passo a ferro há muitos anos.)
Foi prender o burro. Amuou, fez birra.
Está com o grão na asa. Está bêbedo.
Isso traz água no bico. Ter segundas intenções.
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'tou cá com uma lanzêra. Estou cá com uma preguiça/moleza.
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Comentários
Chega te pra lá que me fuscas