Terapia de Reprogramação Emocional


A Reprogramação Emocional é uma técnica avançada de cura com Reiki destinada ao tratamento de traumas, fobias, baixa auto-estima, padrões de comportamento causadores de sofrimento,  limitações auto impostas decorrentes de experiências de violência física e psicológica, abusos sexuais e outros.

A memória dos acontecimentos mantém-se inalterada. Contudo, o paciente conseguirá alcançar um estado de distanciamento emocional dos mesmos. Esta mudança de paradigma permitir-lhe-á regressar à rotina diária sem a dor que outrora o acompanhava e condicionava as suas escolhas, ou com um nível de dor francamente mais reduzido, o que, em última análise, resultará numa maior qualidade de vida, segurança, liberdade e auto-confiança.

A terapia decorre num ambiente seguro e protegido. O paciente estará de olhos fechados, deitado e coberto com uma manta. 

A Terapia de Reprogramação Emocional apenas pode ser realizada presencialmente e é composta por duas sessões, para que o processo seja completo.
Valor (total 2 sessões): 100€

LOCAIS DE ATENDIMENTO:

CASCAIS - Espaço privado

OEIRAS - Espaço S
geral@lojaespaços.com / 929 274 228

MEM MARTINS - Espaço Para Si
espacoparasi12@gmail.com /  962 949 346


Hazel Evangelista
Mestrado em Reiki Essencial

Cuspir ou Engolir


«Se houver alguém que se oponha, que fale agora ou cale-se para sempre.»
A gaveta da cozinha deslizou para fora e uma mão pesada tacteou por uma faca afiada que emergiu, gélida e reluzente, reflectindo a luz mortiça da lâmpada fluorescente e uns olhos raiados de sangue. A casca do limão caiu delicadamente sobre a bancada.

O silêncio sepulcral foi interrompido pelo som da torneira a encher o fervedor de aço inoxidável. Um riscar de fósforo. Sentou-se à espera que o chá acabasse de ferver enquanto limpava demoradamente a sujidade das unhas com a ponta da faca e a imaginava a escarafunchar por entre a terceira e a quarta vértebra do sacana do Ermelindo. Teria de fazer força para perfurar a pele e de fazê-lo com agilidade suficiente para evitar que ele se conseguisse defender a tempo. O cretino havia de revirar os olhos e esticar o pernil em minutos.

Espremeu o limão como quem expele o próprio desdém e juntou o sumo ao chá acabado de ferver. Adoçou com mel, mexeu com a colher e levou a caneca aos lábios. Estendeu o jornal à frente, sobre a mesa. Na primeira página, pareceu-lhe ler o título “Engoliu uma espada e foi parar às urgências”, mas a tosse e a febre causada pela garganta inflamada turvavam-lhe a visão e o entendimento; devia ser uma espécie de alucinação. Que importa, as notícias nunca trazem nada de novo.

Fechou o jornal, engoliu o resto do chá e arrastou os chinelos até à cama. Há sapos que nem um homem com goelas de pelicano consegue engolir. Quando se obriga a isso, fica ferido por dentro, as palavras que quis dizer e não lhe saíram para não maçar os outros queimam-lhe as vísceras. Não admira que tivesse ficado com a garganta neste estado.

A noite foi um tormento de ranho, suor e pesadelos que se dissiparam com a luz limpa e fresca da manhã. A febre tinha passado, mas a tosse ainda persistia. Na mesa-de-cabeceira encontrava-se a faca, testemunha silenciosa do plano homicida da noite anterior, que agora se revelava ridículo e tresloucado.

O arcano Ás de Espadas recorda-nos que se tivermos de escolher entre ficar mal com os outros e ficar mal connosco, mais vale optar pela primeira. Afinal, somos nós que nos aturamos a nós mesmos desde o primeiro até ao último dia.

«Bom dia. Quero falar com o Ermelindo, se faz favor.
Sim, é urgente.»

As mãos seguravam o telefone firmes como as de um cirurgião. A vontade também. Teria de encontrar um novo emprego. Aliás, dois empregos, para suportar a indemnização que iria ter de pagar ao ex-sócio a quem acabara de enviar para a genitália da respectiva tia. De mãos a abanar, alma lavada e com a tosse finalmente curada, o homem que tinha engolido uma espada jurou a si mesmo que nunca mais se deixaria rebaixar por ninguém.

Hazel
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Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, edição 1647
foto: Free-Photos, licença CC0

Beldade de Labaredas Pintadas


O Tragédias olhou em frente, mordeu o lábio inferior e contraiu o esfíncter como se isso o fizesse encolher e passar despercebido ao carro da polícia parado no cruzamento com a Rua Artilharia 1. Safou-se, o marialva de cabelo lambido. Por segundos de distracção policial quase era mandado parar por circular sem farol traseiro na mota e com o escape meio solto, a dar-a-dar, montado à pressa como fazia todas as manhãs para ir trabalhar.

«Esta ninguém m'a tira», pensava enquanto dava um estalo de satisfação com a língua. Depois de, nos últimos três anos, lhe terem roubado pela calada da noite quatro motorizadas seguidas que muito suou para pagar, tomou medidas drásticas — e criativas. A última aquisição, uma Honda CG 125 vermelha, antiga mas com umas labaredas desenhadas que lhe davam estilo e personalidade, era todos os fins de dia desmontada num tempo record de dezasseis minutos. Os gaiatos da rua sentavam-se no passeio a apreciar a velocidade com que as peças saíam, de olhos brilhantes e cronómetro na mão.

A porta de casa escancarava-se como se esta acabasse de ser invadida por uma trovoada trôpega com cheiro a cerveja e uma cacofonia metálica de escape, amortecedores, espelhos, faróis, manetes de travão, selim, depósito e tudo o que conseguisse enfiar dentro da cozinha, para garantir que o pouco da beldade-com-labaredas que pernoitasse na rua não valeria aos larápios o esforço de partir correntes e cadeados, e ainda lá estaria ao raiar do dia.

Os gritos e o vernáculo desesperado do Tragédias à procura das peças eram o despertador da Rua da Bica todas as manhãs nos dias de semana; era uma cómica tragédia, porque nunca encontrava as peças todas. Desmontar era fácil, mas voltar a montar a Honda era outra conversa. «Ai homem, tu matas-me!», os chinelos da Edite, que começava o dia a correr afogueada com os faróis apertados contra o peito montanhoso para não caírem ao chão, ouviam-se apressados escada-acima-escada-abaixo no prédio.

«‘té logo!» Lá ia ele. Dobrava a esquina triunfante por ter levado a melhor aos ladrões, ainda que isso implicasse ter todos os dias o fadário de desmontar e montar a motorizada.

O arcano Sete de Espadas surge-nos como um vil malandro à espera da ocasião que o revelará patife sem coração, capaz mesmo de tentar preencher o próprio vazio com a segurança do colchão alheio, por maldade ou mesquinhez de alma empobrecida que nunca conseguirá, por isso, encontrar um vislumbre de luz.

Resta-nos, tal como o genial e persistente Tragédias, separar por peças toda a nossa estrutura, reinventar-nos, recriar-nos diariamente. Todos os dias são dias para começar de novo.

Hazel
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Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, edição 1646
foto: Free-Photos, licença CC0

Agosto, Mês de Desgosto


Um novelo de cotão, um pedaço de Chocapic, um papel de rebuçado bola-de-neve amachucado e uma lasca de coração. O meu. Homessa, o que uma pessoa descobre quando muda o sofá de lugar.

Reuni o bocado de coração aos outros que se encontravam esparsos como fragmentos de navio naufragado; debaixo da cama, dentro do copo das escovas de dentes, caídos no fundo do frigorífico. Cheguei mesmo a encontrar um pedaço do ventrículo inferior esquerdo a balançar no candeeiro da sala.

Andei a juntá-los com Paciência para ver se conseguia consertar com cola-tudo, mas ficaram a faltar bocados. Desnorteada, deitei tudo fora. Já diziam os antigos, cacos só trazem infelicidade.

De maneira que andei uma data de dias por aí sem coração. O sangue circulava por especial favor do cérebro que veio fazer as vezes do órgão cardíaco, mas que me moía o juízo com reclamações por estar a fazer o trabalho do outro.

Onde é que desencanto agora um coração novo, indaguei aos meus botões e ao fecho-éclair da saia. Apareceram corações de papel, de loiça e até de pano — que não tinham serventia. O meu teria de ter sangue, nervoso miudinho, veias, força, alma, paixão, ganas.

Agarrei no pano do pó, no espanador-de-penas-verdes e na esfregona, e pus-me a limpar o espaço desabitado junto aos pulmões. Lavei, esfreguei, tirei as teias-de-aranha abandonadas e até pendurei quadros novos.

Mas nada ali morava além do vazio silencioso e de uma dormência em sentir fosse o que fosse. Nem uma mosca se ouvia. Receei estar a tornar-me, agora sim, uma besta. A ser, pelo menos, seria uma besta limpinha e organizada. Daquelas que até dobram o pijama e o guardam debaixo do travesseiro.

Azedo e impiedoso, o arcano Três de Espadas ensina-nos que não somos um par de sapatos para ficar arrumados numa caixa. Bem sabemos que os sapatos guardados vão sempre magoar-nos os pés e mordê-los como se tivessem dentes.

Para meu espanto, no outro dia, quando encostei a cabeça no travesseiro, ouvi um barulho que se tinha tornado quase desconhecido. Alguém a martelar nas paredes?
A música dos vizinhos? Kizomba (o horror)? Um carro a buzinar? Não, não podia ser.

Ga-gum, ga-gum, ga-gum, insistia o barulho. Pelas abençoadas banhas na barriga de Afrodite, querem lá ver que. Que isto. Que isto é. Um. Coração? Dentro do travesseiro? Acendi o candeeiro da mesa-de-cabeceira de olhos arregalados.

Não, o travesseiro não tinha nada lá dentro. Ai Senhores. Deitei as mãos ao peito, os ribeiros a escorrerem-me pelos olhos, quando descubro que era cá dentro, aqui.

Páro de escrever e espeto um dedo no peito como se vós que me ledes pudésseis ver.

Um coração a bater dentro de mim. Novinho em folha, acabado de nascer.
‘que pariu! Renasceu, o safado. Renasceu. Tudo passa. Também isto passará.
E passou. Adeus, Agosto; vai, que já vais tarde.

Hazel
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Marcação: casa.claridade@gmail.com

Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, edição 1645
Foto: Gere, licença CC0

O Twist do Fundão


«Está com sorte, ainda há dois lugares livres», grasnou o senhor da bilheteira em voz laringofaríngea, «ficam é ao fundo». Entrei no autocarro já com o estômago embrulhado enquanto levava à boca um comprimido Vomidrine que engoli com um resto de água já tépida. Enfiei as malas no compartimento superior.

A placa que indicava a saída do Fundão passava ao meu lado, seguida das árvores que corriam à beira da estrada, os postes de electricidade onde os pássaros compunham pautas de música e as flores nas varandas que acenavam em despedida.

Nem dez minutos tinham passado e já estava disposta a vir a pé até Lisboa. O meu almoço subia e descia pelo esófago, qual teleférico do Parque das Nações. Ainda há quem acredite que a Terra é redonda. Pois nem redonda nem plana, ficais vós a saber. Garanto-vos que o planeta Terra é uma gigante espiral, tal como as molas das canetas de pressão, que se sobe quando se viaja ali para os lados do Fundão e desce quando regressamos a Lisboa — percurso este, acompanhado pelo estômago e seu conteúdo que dançam desencontrados em passo de twist, com luzes psicadélicas.

O motorista conduzia como um louco, ou como alguém a quem teriam sido diagnosticadas duas semanas de vida e, portanto, não havia muito a perder naqueles altos e baixos da Cova da Beira.

Tacteei nos bolsos por um singelo saco de plástico ou um portal espaço-temporal que me livrasse daquele tormento, mas apenas encontrei os bilhetes já amarrotados e um mísero lenço de assoar. Uma gota de transpiração escorria na parte de trás do pescoço.

À minha frente, pareceu-me ver os dois homens que estavam sentados — «Ai mais uma curva, agora é que é», mas sustive o vómito com um auto-controle olímpico — escorregarem pelo banco para colocar as cabeças a salvo, tão indefesas e asseadinhas, abençoados, do refluxo de pizza quatro-estações, mousse de chocolate (mal empregue) e café. Raios partam o Vomidrine, que não fez efeito.

Encolhi-me e aguentei o melhor que pude, entre solavancos e travagens indutoras de fazer o estômago vir parar-me às mãos. Havia de apresentar queixa do motorista. Aquilo não se fazia, transformar um autocarro no tambor de uma máquina de lavar roupa em centrifugação. Aliás, quando saísse, iria mandá-lo para o pénis. Até havia de lhe deixar cair a mala de viagem em cima dos pés — e não ia pedir desculpa. 

Ah grande velhaco, que lhe enfio o guarda-chuva no, olha, será que vi bem, ou é isto uma alucinação causada pelos ácidos gástricos? Lisboa. Ah Lisboa-boa. Ai, finalmente cheguei. Ai obrigada, senhor motorista, Deus-Nosso-Senhor o cubra de bênçãos. Estive quase para beijar o chão, onde entretanto já desaguava um rio de vomitado e desespero de outras duas passageiras dobradas para a frente com as mãos apoiadas no autocarro.

O arcano Dois de Ouros mostra-nos que a vida às vezes sacode-nos, tira-nos a terra, o equilíbrio — e até a lucidez. Sentimo-nos como um par de calças de pijama às voltas dentro de uma máquina de lavar com uma perna enrolada nos lençóis e a outra sugada pelas toalhas de banho. Perdemos o chão. Mas não podemos perder a cabeça.

Hazel
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Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, edição 1643
Foto: StockSnap, licença CC0