À Velocidade da Luz!


Quanto tempo demora o arco-íris a aparecer no céu quando o primeiro raio de luz incide sobre a chuva? Quanto tempo irá passar até que alguém repare nele? 
E quanto tempo até que alguém o considere um presságio de felicidade, de boa sorte? 
A resposta para todas as perguntas: um instante.

É disto que somos feitos. De instantes. A nossa própria existência surge num instante - podemos ter de esperar nove luas para nascer, mas a fecundação, no momento em que o espermatozóide penetra o óvulo, dá-se em segundos. 

Está na nossa essência a urgência, o imediato, o agora em movimento. Por esse motivo, a espera impacienta-nos, o saudosismo entristece-nos e a ansiedade mata-nos. 
Estar longe do presente é estar apartado de nós mesmos, do nosso centro, da centelha divina que nos habita.

Quando o Sol espreita através das nuvens chuvosas e forma um breve e tímido arco-íris, há sempre alguém que olha para ele e volta a acreditar no sentido da vida, na predestinação - que tudo obedece a um plano superior. 

E tudo isso passa a existir porque alguém acreditou. No mesmo instante decisivo, resolve virar para a esquerda em vez de virar para a direita como era seu velho hábito e, por fazê-lo, encontra o caminho certo, aquele onde a luz brilha com mais intensidade.

Os instantes decisivos são as intersecções na teia da vida, que nos fazem ziguezaguear por desvios inimaginados, como viajantes do cosmos que seguem o caminho luminoso das estrelas, sabendo que quem pára, fica estagnado na escuridão e no vazio, mas, para aqueles que estão dispostos a prosseguir, existem tantas possibilidades quanto há estrelas espalhadas pelo céu. E isso é maravilhoso.

Esta semana, a carta Ás de Paus cai-nos em cima como um fulgurante feixe de luz, para incentivar-nos a seguir os nossos instintos. Cada um de nós tem um mapa interno onde estão registados todos os percursos, atalhos, pontes, intersecções e desvios, a que só acede quando une o pensamento à intuição, sem que um atrapalhe, sobreponha ou anule o outro, mas numa fusão perfeita.

Estejamos atentos aos nossos ímpetos, às certezas que não sabemos explicar, mas que sentimos no âmago, à criatividade que necessita de brotar para que encontremos a nossa própria voz e expressão, ambas únicas e intransmissíveis. 

As oportunidades pairam no ar, cabe-nos captar o momento em que os finos fios de luz se cruzam, e voltamos a acreditar que, afinal, nada é aleatório no Universo, mas tudo cumpre um plano superior. Porque que ele existe, existe.

Hazel

Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 31 Março

Queda de Cabelo : medidas de emergência

No último ano, apercebi-me que o meu cabelo começou a enfraquecer e a cair com mais facilidade. E isso não é justo. Porque eu sou uma mulher natural, já dizia Aretha Franklin.

Não pinto o cabelo, nem faço alisamentos. Lavo-o apenas, e deixo-o viver em liberdade como um leão na selva. GRUAU! Mas o leão começou a miar em vez de rugir (miau?).
Por Maria Bethânia! Porquê, senhores?

Será que me faltam nutrientes porque deixei de consumir leite?
Será por causa do shampôo sólido da marca Lush, que estava a usar por ser menos químico que os de supermercado, mas fez-me ficar com caspa?
Será que é porque estou quase a roçar os 40 anos, e estão a nascer muitos cabelos brancos? Esses não são fracos, mas bem firmes e hirtos, como nylon.
Será que o meu cabelo se revoltou contra mim e decidiu desertar?

Eu-sei-lá. Esta vossa escriba, receosa de ficar depenada, resolveu tomar diversas medidas de emergência e, olhem, funcionou. A queda de cabelo PAROU. Então, resolvi partilhar todos os cuidados que tenho + os que adoptei, para o caso de haver mais alguém que possa precisar.

[Aproveito para informar que não recebi nenhum patrocínio de marca alguma para escrever este post! A minha opinião é baseada na minha experiência.]

TRAVAR A QUEDA DE CABELO - MEDIDAS DE EMERGÊNCIA!

Fazer análises ao sangue. Só para ter a certeza que está tudo bem, e que a queda de cabelo não é sintoma de outra condição que precisa de ser tratada.

Comer bastante fruta e cenouras. Tenho feito smoothies de laranja e cenoura, que me nutrem o corpo e alma. Tão simples, económico e natural. As cenouras são ricas em vitamina A, que o cabelo adora.

Beber mais água. Que mania de acharmos que conseguimos atravessar o deserto. Nós somos como plantas, não como camelos! Precisamos de muita água, e com frequência, para não murcharmos.

Tomar suplementos vitamínicos. Daqueles com as vitaminas de A a Z. Se é para tomar alguma coisa, que seja logo o alfabeto inteiro. Para compensar as faltas de nutrientes que poderia haver.

Dormir. Se até os pelinhos que nascem onde não deveriam, em zonas que depilamos - as quais não me atrevo a referir aqui - crescem com maior velocidade quando dormimos mais, o cabelo não é excepção. Dormir e relaxar!

Não lavar o cabelo com água demasiado quente. Porque é uma agressão ao couro cabeludo, e fragiliza-o.

Não pintar nem alisar o cabelo. Se a água a escaldar é uma agressão, pintar e alisar entra na categoria de actos criminosos horripilantes. O cabelo tem de ser respeitado para ser feliz e saudável. Se é liso, que seja liso. Se é ondulado, que seja ondulado. Se é castanho, que seja castanho. Mudar a sua natureza é como cortar uma árvore para construir um prédio e depois queixarmo-nos porque não temos espaços verdes.

Utilizar um shampôo adequado e um condicionador eficaz. Eu sei... Esta é uma medida quase mitológica. O que é o shampôo adequado? Que condicionador é realmente eficaz? Depois da decepção com os shampôos sólidos e os diversos condicionadores da Lush, estou a utilizar a marca Pantene. Não estou deslumbrada, maravilhada, inebriada por ter encontrado o Santo Graal capilar, mas estou satisfeita.

Pentear o cabelo com cuidado. Pentear o cabelo com muita força arranca-o, além de quebrar os fios, que perdem elasticidade. Se é para me pentear à pressa, em 2 segundos, não me penteio. - Amem-me assim!

Massajar a cabeça. As massagens na cabeça estimulam a circulação, assim como o crescimento capilar. Faço-as todos os dias.

Aparar as pontas. Sofro do síndroma de Sansão, sou muito adversa a cortar o cabelo. Mas sempre que aparo as pontas, ele embaraça-se menos e, quando o escovo, não se arrancam tantos fios. Corto o meu próprio cabelo há muito tempo, 2/3 vezes por ano.

Não abusar de gorros e chapéus. O cabelo e couro cabeludo precisam de respirar. Manter a cabeça sempre tapada não facilita o crescimento capilar.

Se alguém quiser colocar perguntas, estou ao vosso dispor para responder aquilo que souber, seja através dos comentários neste post ou por email: casaclaridade@gmail.com.

[A fotografia que ilustra este post é da autoria de Zito Colaço.]

De cabelos ao vento,

Hazel

Como Passar de Besta a Bestial


Todas as histórias são histórias de amor. Umas, de amor sentido. Outras, de amor não sentido. Porque um rio que não consegue desaguar no mar, não deixa de ser um rio. 

Quando não nos sentimos apreciados e a nossa existência se torna indiferente àqueles que valorizamos, podemos cair no precipício de questionar o nosso próprio valor e, ao fazê-lo, despedaçamo-lo - e a nós mesmos. Há partes de nós que deveriam permanecer intocáveis, fechadas a sete chaves num baú de adamantino, por uma questão de segurança. - E nós somos os seus maiores usurpadores.

A maior parte dos problemas de relacionamento, sejam estes entre amigos, vizinhos, familiares, cônjuges ou colegas de trabalho, têm a mesma raiz: o sentimento de desvalorização. Lamentamo-nos porque não nos valorizam, sem perceber que este poço sem fundo irá acompanhar-nos para onde quer que nos desloquemos, porque ele é nosso, e não dos outros, que apenas replicam a nossa relação connosco.

Mas de onde vem isto? Este buraco na alma é a dor causada pelo amor que não sentimos por nós mesmos. Desejamos que sejam os outros a amarem-nos, em proporções desmesuradas, por eles e por nós. Para que consigamos amar-nos e acreditar que temos valor, têm de ser os outros a demonstrá-lo. - É isto que pensamos sem pensar, quando nos sentimos desvalorizados.

Contudo, os outros não entendem tal necessidade. Por muito que nos amem, nunca será o suficiente para fazer mudar de opinião o nosso obstinado grupo de jurados interno, que já nos condenou ao desvalor, enviando-nos para os calabouços da auto-comiseração!

E cresce a insatisfação, o ressentimento, a frustração. Os outros fartam-se de nós. Quem pode censurá-los, se até nós já nos fartámos de nós mesmos. Estamos por nossa conta.

Ainda que tenhamos as mais refinadas e admiráveis qualidades humanas, ninguém nos amará, se não o fizermos primeiro. Em boa verdade, “não há amor como o primeiro”. Esta expressão, que tem sido pobremente interpretada desde sempre, significa que não existe amor que se possa equiparar àquele que sentimos por nós mesmos. Logo, nenhum tipo de amor externo, por mais profundo e idílico, poderá compensar tal inexistência.

A carta 5 de Ouros, esta semana, confronta-nos com as nossas fragilidades e ensina-nos que temos de ser nós a automotivar-nos, porque mais ninguém o fará. Mesmo que tenhamos de fazer das tripas coração para conseguir perdoar os outros pela sua incapacidade de nos amarem como achávamos que merecíamos. 


Porque só quando reconhecemos que, afinal, o nosso vazio era um rio de amor que não tinha para onde desaguar, conseguimos compreender que os outros nos amaram na medida exacta que precisamos para encontrarmos o amor por nós mesmos.

É tempo de partir espelhos e de ver-nos a partir de dentro, sem recear uma maldição de sete anos de azar, mas, pelo contrário, preparando-nos para muitos anos de amor pleno. 


Ensinemos o mundo a amar-nos pelo exemplo: amando-nos a nós mesmos. E se, mesmo assim, o mundo não entender de imediato a lição, não devemos, jamais, parar de ensiná-la. Tomemo-lo como missão de vida. E deixemos que aqueles que insistem no desamor tenham tempo e espaço para que também o encontrem dentro de si mesmos.

Hazel
Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 24 Março

Deixar de Beber Leite : Vantagens e Desvantagens


Há cerca de 3 anos, depois de ler alguns estudos sobre o assunto, tomei a decisão de deixar de consumir leite (seja de origem animal ou vegetal).

Na época, só encontrei estudos realizados por entidades, e não relatos de indivíduos, de pessoas reais. Assim, após este longo período de tempo, venho partilhar a minha experiência e os resultados positivos e negativos desta decisão. Talvez o meu testemunho neutro seja útil a mais alguém.

VANTAGENS
Os benefícios no aparelho digestivo foram bastantes: nunca mais tive cólicas matinais, perturbações na flora intestinal, ou enjôos após tomar o pequeno-almoço - que era algo que me acompanhava desde a infância. Ganhei algum peso, 4 ou 5 Kgs (o que, no meu caso, que sempre fui uma criatura magra, classifico como vantagem! haha!).

DESVANTAGENS
As minhas unhas passaram a crescer mais devagar (o que não me incomoda, pois sempre usei unhas rentes). O meu cabelo perdeu alguma força. Embora seja bastante longo, ficou mais fino e cai facilmente, o que me levou a tomar algumas medidas (assunto que irei desenvolver nos próximos dias - fiquem atentos!).

Alternativas para o pequeno-almoço

Cresci a beber leite todos os dias ao pequeno-almoço, como milhares de outras pessoas. Depois de deixar de consumi-lo, a minha primeira questão foi, justamente: "Então, e o que é que agora passo a beber de manhã?"

Bebo chás (diversos), como yogurte com muesli, bebo sumos, ou faço smoothies.
Muito raramente, bebo cappuccino (daqueles que se compra a mistura já feita e é só juntar água quente). Vou alternando consoante o que tenho em casa, o tempo disponível para preparação e a minha vontade.

Ninguém me pode chamar copinho-de-leite,
Hazel

Uma Questão de Atitude

A auto-confiança é uma peça de roupa absolutamente impecável, sem vinco nem mácula, que assenta como uma luva sobre a nudez humana. 

É de tal forma valiosa, que todas as lojas de roupa oferecem a ilusão de proporcioná-la. As marcas mais caras elevam a fasquia - quanto mais inflaccionado o artigo, maior a imagem de poder e segurança em si próprio que o seu portador irá transmitir. 
As pessoas não têm feito outra coisa nas últimas décadas, senão comprar auto-confiança com prazo de validade - que dura até ao fim da estação, quando as roupas passam de moda. 

Para que sejamos felizes, amados e bem-sucedidos, temos de ser confiantes. 
É um ingrediente essencial. Na sua falta, prevalece uma fragilidade que nos isola e faz sentir incapazes. Se avaliarmos com um distanciamento quase estrelar, todo este jogo de espelhos em torno da imagem cria a ilusão de auto-confiança ao mesmo tempo que no-la retira e mantém reféns de uma aprovação que achamos precisar.

Mas, afinal, o que é a auto-confiança? Consiste em confiar em nós mesmos, não nas roupas que usamos, ou no carro que temos. Confiar no interior, sem depender do exterior. Teoricamente, deveria ser assim. Na prática, não é. Na essência, continua a ser.

Isto remete-me a uma entrevista de emprego a que assisti certa vez, numa multinacional igual a tantas outras. O jovem entrevistado apareceu de calções com padrão colorido havaiano, t-shirt e chinelos de enfiar no dedo. Enquanto dissertava sobre as suas anteriores experiências profissionais, de perna esquerda traçada sobre a direita, brincava distraidamente enfiando o dedo indicador entre os dedos do pé.

É interessante recordar o contraste entre o rapaz que trazia as pernas cheias de areia da praia e os funcionários da empresa, que caminhavam de forma muito séria e profissional, desprovidos de expressão corporal, como autómatos. Todos usavam o mesmo corte de cabelo, curto, higiénico e discreto, e os mesmos sóbrios fatos de executivo que, na casual friday, davam lugar a uma camisa de corte perfeito e calças de modelo chinos.

Acreditavam-se tão seguros de si que, nos seus olhares jocosos para com o jovem entrevistado, se revelava o quão escravizados estavam pelas normas instituídas. O rapaz nunca se apercebeu. Ou, se se apercebeu, não se incomodou. Ele vestia a verdadeira roupa da auto-confiança. - E ficou com o emprego.

O Rei de Paus, esta semana, desafia-nos a ser quem somos, sem precisar da aprovação de ninguém. A irmos mais longe, desbravando caminho para além das multidões despersonalizadas, manifestando a nossa unicidade. A transformar chumbo em ouro, sendo alquimistas de nós mesmos, pois somos feitos de luz - e nascemos para brilhar.


Hazel
Crónica semanal publicada no Jornal O Ribatejo, 17 Março