Dia 212

Esta nuvem é uma ratazana gigante e raivosa que ensombra o caminho dos viajantes.
Mas já está de partida. Só falta a cauda. Soprem, para ela ir mais depressa. Ffff... ffffff....
Ao fundo, o céu alaranjado que pressagia um nascer de dia morno e luminoso.

A Casa Assombrada

Pelos muros acima, correm lagartixas apressadas, que assustam as senhoras de vestidos de rendas e folhos brancos.

Os cavalheiros, que fumam charuto reclinados nas cadeiras de baloiço, discutem em tom grave o mistério da casa assombrada.

Acham que é o espírito da tia-avó Alvina que faz ressoar pancadas nos muros durante as noites de Lua Cheia.

Ofereceram-lhe flores, rezaram missas e até houve quem fizesse promessas para que ela se fosse embora. E nada.

Mandaram vir o Padre, que encolheu os ombros e disse nada mais havia a fazer senão rezar muito pela alma extraviada.

Chamaram depois a Bruxa, que entrou discretamente pela porta das traseiras, para os vizinhos não verem. Vinha de xaile pelas costas e trazia uma mala antiga na mão direita.

"Vou precisar de passar aqui a noite para o apanhar."
Olharam todos uns para os outros num misto de desagrado e resignação.

Nessa noite, ninguém pregou olho. O fantasma, não deram por ele. E ela passou a noite seguinte. E a seguinte. E a seguinte. Ninguém queria deixar a Bruxa ir embora, por acharem que o fantasma tinha medo dela.

Os anos passaram-se, os mais velhos da família foram partindo, os mais jovens envelheceram e acabaram depois por partir também. A Bruxa ainda hoje continua a viver lá. Tem cabelos brancos e longos que se arrastam atrás de si pelo chão como um vestido de noiva, os olhos perderam a cor e a voz parece o som de ranger de portas.

O carteiro tem medo dela. Os cães uivam quando ela passa. E as pessoas benzem-se.
Dizem que tem mais de 300 anos e vai viver para sempre.

Ah, o fantasma, já me esquecia dele. Era o gato da casa, que saía nas noites de Lua Cheia para caçar ratos e fazia bater os ramos da árvore no muro quando saltava.
Quando a Bruxa foi para lá, deixou-se de caçadas e passava as noites enroscado aos seus pés, sobre a manta de lã colorida. Gatos!...



Dia 209

A Strega Mamma é uma amiga brasileira, companheira contadora de histórias e pagã que eu hei-de conhecer pessoalmente e abraçar no dia em que visitar o país-irmão.
Muito grata, Strega Mamma, do fundo do coração, pela paciência, pela amizade e pelos presentes encantadores. Dois livrinhos de histórias para o L., uma bolsa com pequeninos fantoches e um quartzo hialino, um CD com músicas infantis (nem sei quem gostou mais, se eu, se o L.), um belíssimo CD com sons de harpa e uma pena linda.
Um forte abraço de gratidão, companheira.
Em sotaque brasileiro: a gente vai se encontrar um dia, viu?

Dia 208

Disseram-me que mostro muitas vezes fotografias dos pés no Projecto 365.
Homessa. Não sei de onde foram buscar uma ideia dessas.

Dia 207

Eu, Hazel, trinta e ham-ham-ham anos, sou viciada em creme de chocolate e avelã.
Uns são viciados no jogo. Outros, no álcool. Ou no tabaco. Ou nas drogas. Eu tenho isto. 
Que me atire uma barra de chocolate quem nunca teve um viciozito, que eu agarro-a. 

Dia 204

Que sítio tão fixe. Posso escrever 'fixe'? Já escrevi.

Esta rua nocturna é de uma cidade de brincar onde as crianças têm profissões a sério.

O L., com os seus lindos seis aninhos, tirou a carta de condução e andou a conduzir carros e motas, foi bombeiro, depositou dinheiro no Banco, pintou uma casa, construiu uma parede, foi médico, trabalhou numa caixa de hipermercado, numa fábrica de cereais e numa de sumos, foi fotógrafo, viajou de avião para o México, foi à discoteca, e tudo isso num só dia.

Viva, filho!

Ah, o sítio chama-se Kidzania, e fica em Lisboa.
Senhores da Kidzania, se porventura lerem este post, saibam que aceito de bom grado convites! Vá lááááááááá..... :)

Dia 203

Quando o céu está desta cor, o mundo torna-se um lugar estranho e desconfortável.
As pessoas vagueiam pelas ruas assemelhando-se a vultos cinzentos e inexpressivos, meio perdidos, de mãos enregeladas e afundadas nos bolsos.
Vou para casa, aqueço o frio com velas e tapo o desconforto afundada no sofá sob uma manta com borbotos. Amanhã é outro dia.

Dia 202

O banho das donzelas é um ritual cheio de mistério e secretismo.
Ferve-se a água da chuva sobre as brasas e verte-se depois numa banheira. 

Espalham-se pétalas de rosas, que cobrem a superfície fumegante como um lençol colorido. 
Revelam-se as donzelas que se desnudam através da bruma vaporosa e perfumada que se eleva no ar. As roupas brancas com cheiro de alfazema aguardam por elas. 

Mas primeiro o banho. As suas vozes, que segredam por entre os cabelos molhados, confundem-se com o som da água. Do que falam elas? Não posso contar.

Dia 199

Os ventos uivam no céu negro como demónios esquivos e enraivecidos à solta.

Os redemoinhos ascendentes de ar gelado partem o tecto do mundo em fragmentos de espelho de obsidiana.

É ela. A Senhora da Solidão.
Saiu pela noite fora, dominando os céus e abrindo a boca enorme e voraz para engolir todos os que estiverem sozinhos em casa.

Não adianta trancar as janelas, pois a Senhora da Solidão, com as suas vestes andrajosas, tecidas de fio de teia-de-aranha preto, atravessa as frestas mais ínfimas, liquefazendo-se e escorregando pelas paredes. Sobe pelos pés da cama no silêncio da noite e devora-nos inteiros.

No dia seguinte, acordamos com o pescoço gelado, achando que temos de isolar as janelas porque entram estranhas correntes de ar. Mas ela consegue sempre passar.
Nem que seja pelo buraco da fechadura...

Calcopirite Irisada

Calcopirite (ou calcopirita) irisada. 

Vem das minas de cobre, e é também conhecida como pedra-pavão, devido às suas cores brilhantes e metálicas. Está associada ao Elemento Fogo. 

A calcopirite contém o poder do céu estrelado e a percepção de que cada ponto de luz distante corresponde a um Sol que brilha com esplendor. 

É utilizada em feitiços associados ao tempo; alguém em forte sintonia com ela tem o poder de criar chuva e dominar trovoadas. A meditação com a calcopirite ajuda a conectar-nos com o nosso Fogo Espiritual, para que consigamos brilhar e ser quem sempre desejámos.

A calcopirite irisada é uma pedra eficaz para lidar com medo, insegurança e as dúvidas que nos impedem de seguir caminho e sermos verdadeiramente felizes.

Fornece energia e bem-estar e é muito eficaz em momentos de convalescença.
É benéfica para os músculos, coração, pulmões e sistema nervoso. 
Curou-me uma enxaqueca terrível.

Em sintonia cristalina,

Dia 194

Água, areia e um balde da praia.
A infância e aquela sensação de que as tardes de Verão não têm fim.

Dia 192

Viva o Senhor Lixus!! Viva o Senhor Lixus! Viva o Senhor Lixus!
Who's the man? Senhor Lixus!
Livros e jogos infantis encontrados no lixo da minha rua.

Dia 190

O eléctrico de Sintra.
Apanha-se lá em cima junto ao Centro Cultural Olga Cadaval, e vai dar à Praia das Maçãs.
2€ a viagem. Leve um casaco, pois faz vento.

Dia 184

Esta Fada foi à festa da Primavera. Bebeu demasiado hidromel e caiu ébria no meio das maçarocas de milho. Lá atrás, o Duende de sapatos de veludo castanhos, espera que ela adormeça para lhe roubar um beijo. Os beijos de Fada realizam desejos. 
E o desejo secreto dele é tornar-se um Silfo, para poder voar com as Fadas.
Dorme, Fadinha, dorme... :)

Dia 182

Já não é de dia e, no entanto, ainda não é de noite.
Neste portal de tempo intermédio, tão breve e mágico, os seres que habitam planos paralelos esfumam-se subtilmente em nosso redor. Acariciam-nos ternamente ou esbofeteiam-nos irados, enquanto mexemos a sopa na panela e decidimos se preparamos a máquina de lavar com roupa branca ou roupa de cor.
Mal sonhamos com o frenesim que se passa à nossa volta durante esses escassos minutos.
E se nos apercebemos de alguma coisa... shh... fazemos de conta que não foi nada.