Dia 304


Feliz Samhain para todos vós!

As voltas vertiginosas que a roda da vida dá...
Perde-se. Ganha-se. Fecham-se portas. Abrem-se outras. Vão-se pessoas embora. Conhecemos outras. Perdemo-nos. Encontramo-nos. Choramos. Rimos. Desistimos. Recomeçamos.
(Projecto 365)

Dia 301

O caminho da vida faz-se umas vezes sozinho, outras acompanhado.
Umas vezes, em grande estilo, de sapatos de salto alto. Outras, descalço.
Umas vezes, a carregar o fardo da preocupação com o que os outros pensam.
Outras, com a leveza de deixarmos para trás a carga da opinião dos que param o seu caminho para criticar os nossos passos.
Estou a fazer o meu de chinelos de enfiar no dedo. Mas leve. :)
(Projecto 365)

Dia 300

O céu às vezes fala comigo.
Diz-me ele que a escuridão começa a dissipar-se. Ele lá sabe.

Faltam 65 dias para terminar o Projecto 365.
... e depois?

(Projecto 365)

Dia 299

Mudar de opinião. Mudar de hábitos.
Mudar. Mudar não é fácil.

As árvores não mudam, porque têm raízes. Mas nós temos pernas, por isso podemos mudar. Só que nem sempre sabemos que podemos.
Ou sabemos, mas temos medo.

E ficamos como as árvores, parados, enquanto o mundo inteiro vai mudando gradualmente em nosso redor até o acharmos um lugar estranho. Até acharmos que chegou o momento. Ei-lo.

Dia 298




- Miauzes! Mas o que é que se passa nesta casa? Estou de bigodes em pé, estou, estou.
(Projecto 365)

Dia 297

Se encostarmos o ouvido a um búzio e escutarmos com muita atenção, conseguimos ouvir o mar.

E se fecharmos os olhos e apurarmos a audição, podemos até ter a sorte de ouvir o rebentar das ondas na areia, e o bater das pedrinhas e das conchas com o vai e vem das águas.

O apito dos navios ao longe.
O grito das gaivotas quando chegam os pescadores. As tempestades. As sereias que cantam com voz aguda e hipnótica.
Homem ao mar!, mais um que se apaixonou por uma das damas de cabelos de algas.

Dizem que dentro de cada bruxa mora uma sereia que se desvenda quando ela canta no banho. São mistérios que não posso revelar...
(Projecto 365)

Dia 296

Verde.

Cor do musgo. Da relva.
Do Pisang Ambon. Do dinheiro.
Da inveja. Das lagartixas.
Da terceira luz dos semáforos.
Da esperança. Do jade.
Da ecologia. Da hortelã.
(Projecto 365)

Dia 294

No auge da beleza, o vermelho-sangue-paixão atraiu o olhar do homem do cavalo negro. Cortou-a com o punhal e levou-a consigo.
A dama, malvada e caprichosa, atirou-a pela janela, porque prefere as túlipas às rosas. O triste cavaleiro sentou-se no chão a chorar.

Havia ferido um dedo nos espinhos da rosa e agora também o seu coração rejeitado sangrava.

Um lenço branco trazido pelo vento quente caiu aos seus pés.
Usou-o para limpar as lágrimas.

Quando abriu os olhos, encontrou perante si a mais bela donzela alguma vez vista.
Devolveu-lhe o lenço e com ele entregou o seu coração.
(Projecto 365)

Dia 293

Excerto do Prefácio da 2ª edição d'"O Mistério da Estrada de Sintra".
De Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão.
Também vale aos trinta e quatro anos, sim?
(Projecto 365)

Dia 292

Nunca devemos desistir dos nossos sonhos.
Mesmo que pareçam impossíveis.

Cerca de 2 anos depois de ter escrito esta lista de desejos, constato que, de uma forma ou de outra, realizaram-se todos.

A capa de Capuchinho Vermelho com que sonhei durante anos.
Dreams come true!
(Projecto 365)

Dia 291


O mundo ganha outra dimensão, mais suave e leve, quando o enfrentamos de chinelos com pompons. Tenho dito.
(Projecto 365)

Dia 290

Não é verdade que se dissermos que não acreditamos nelas, morre uma Fada.

As Fadas não compreendem a nossa linguagem, mas ouvem a verdade que fala o nosso coração com a facilidade de quem lê um livro aberto à sua frente.

As Fadas apreciam música baixinha e suave. Gostam muito de pássaros, de objectos pequenos e da cor verde.

De plantas, lagos e de tranquilidade.

As Fadas não são tão pequenas como a Sininho nem são sexy. Nada disso.
São silenciosas, subtis, serenas, translúcidas e envoltas num halo de luz.
Não batem as asas, mas deslocam-se no ar como um cisne desliza sobre a água.
Nunca acreditei em Fadas. Até ver pela primeira vez. Grata, muito grata.
(Projecto 365)

Pirite

Pirite.

O seu reflexo protege quem a transporta dos negativismos alheios.
Melhora a auto-confiança, estimula a capacidade de materializar projectos.
Ajuda a ligar-nos à Terra. Atrai prosperidade.

Não deve ser limpa com água, por oxidar e libertar substâncias tóxicas.
Em alternativa, pode ser limpa através de defumação, reiki ou colocando-a sobre uma drusa ou geodo energizados.

Em sintonia cristalina,

Dia 288

Andei a arrumar as gavetas e encontrei um papel dobrado. Abri-o.
Tenho este hábito de escrever coisas, guardá-las e depois encontrá-las mais tarde.
Quase sempre, deito-as no lixo. Mas este, resolvi transcrever para aqui.
Foi escrito há vários meses atrás:

Um pé no Paraíso, outro no Inferno.
Uma mão a tocar a Luz e a outra as Trevas.
Não estou em sítio algum.
Sou uma árvore arrancada da terra pelo furacão, que rebola pelo deserto sem direcção.
Sou o raio de Sol que atravessa as folhas das árvores e surge entrecortado aos olhos de quem passa. O copo de água entornada.

As mãos ossudas, frias e trémulas da Senhora da Solidão alcançam o meu ombro.
Estou aqui, diz-me. Chegou, desta vez sem gritar, através das frestas das janelas mal fechadas, e eu agradeci a gentileza de me deixar habituar gradualmente ao seu gelo.
Sem sustos.

Já somos velhas amigas. Deito a cabeça no seu colo, que se assemelha a um poço negro e sem fundo, e deixo-a embalar-me. Canta-me em voz cavernosa, enquanto as portas abrem e fecham numa sinfonia de rangidos, para acompanhar a sinistra melodia.
Fecho os olhos e deixo-me escorregar para o poço negro e sem fundo.

Algo me agarra por um braço e prende os cabelos. Não consigo descer mais. Estou a meio do poço. Tacteio as paredes à minha volta. São lodosas e frias. Tento gritar mas a voz não sai. Abro os olhos e vejo-a. Afinal, ainda estou no seu colo. Foi só um pesadelo.
A Senhora da Solidão, que nunca dorme, adormeceu.

Dia 286

"O Livro das Respostas".
Fazemos uma pergunta e abrimos numa página ao acaso.
Perguntei "posso soltar um pum?". A resposta dele.

Dia 283


Ando há vários dias com este pensamento a repetir-se na minha cabeça.
Se calhar, é porque devo escrevê-lo:

Limpeza kármica. Momentos intensos e dolorosos. 
São como um corredor que temos de percorrer.
Não vemos as paredes, o começo, nem o fim. Vacilamos. Choramos. 
Pensamos em desistir de tudo, de todos, de nós mesmos. 
Mas temos de continuar a caminhar, mesmo sem saber o que nos espera no fim do corredor. Porque quando aceitarmos o caminho a percorrer, mais depressa ele chega ao fim.

Dia 282

Vem aí Samhain (a passagem de ano pagã).
Caldeirão de ferro a postos, limpo de lixos físicos e energéticos.
A TAP anunciou uma redução nos vôos nocturnos devido ao elevado número de bruxas e bruxos que vão deslocar-se de vassoura para celebrar este grande momento.
Segurem o chapéu, que eles voam rápido! :)

Cisne Negro


Na torre do lago mora um cisne negro com mais de 100 anos.
Já vivia naquele lago quando todas as pessoas que existem hoje no mundo nasceram.
Nos dias cinzentos, desliza silenciosamente sobre a água.
Espera por alguém.
Dizem que na Lua Azul levanta vôo, assumindo a forma de mulher com um vestido preto.
Quem tiver a audácia de a observar... não sei o que lhe acontece.
Na próxima Lua Azul conto-vos. Ou não.

Hazel

Dia 278

Levo uma almofada, coloco-a no chão sobre as raízes, e encosto-me ao tronco da árvore.
Fecho os olhos. Sinto-me una com ela. 
Os meus cabelos são as folhas nos ramos mais altos que alcançam o céu.
O musgo cobre-me de verde o corpo nu e os meus pés são o prolongamento das raízes.
Sou Terra e sou Madeira.
Sou sólida, silenciosa e densa.
Tenho a força do Universo em mim.

[Eu não ando nua aí pelas florestas, hã? 
Vejam lá. Isto é só um exercício mental.]

Dia 277

Às vezes, gostava de ser um passarinho
Quando quisesse, ficava sozinho
Sem ter que dar explicações
Das minhas opções e decisões.

Voava bem alto, furava as nuvens cinzentas
E aquecia as asas nas tardes solarentas.

Não sei fazer poemas com a métrica certa
Mas é divertido na mesma, se tivermos a mente aberta

Se fosse pássaro, seria maroto e travesso
Àqueles que me lançassem palavras feias de arremesso
Gostava de poder dizer sem que mal vos pareça
Que lhes c***** em cima da cabeça.

Ai, que disse um palavrão no meu blog, quem diria
Perdoar-me-ão tal ousadia?
Pronto. Voltei atrás e coloquei asteriscos
Que é melhor não correr riscos.

Dia 276

Foram precisos 34 ciclos de estações do ano para me decidir sobre qual é a minha favorita.
É o Outono. Por causa de Mabon e de Samhain.
Pela forma como as árvores libertam as folhas secas lembrando-nos que chegou o momento de nos libertarmos também do que morreu dentro de nós.

Pelos pijamas de flanela e o leite com chocolate antes de dormir.
Pelas abóboras e pelo Sol mais amarelo que no resto do ano. Pelos casacos de malha.
Pelo mergulhar nas trevas invernosas, que trazem a promessa do retorno da Luz.
Pelas castanhas assadas, a batata doce e as romãs que ganham a cor rubra.

Pelas noites frescas e a manta que se põe aos pés da cama para o caso de ser precisa.
Pelas janelas embaciadas, que convidam a desenhar símbolos mágicos com o dedo.
Pelo musgo que recomeça a crescer nos troncos das árvores.

Pelo cheiro a chuva, mesmo que não tenha chovido, quando saímos de casa no início do dia.
Pela introspecção. Pela esperança. Pela paciência, que havíamos perdido com os calores secos e ansiosos do Verão, mas recuperamos quando chega a frescura do Outono. 

Dia 275

É o melhor que consigo arranjar no século XXI.
Pelo menos, tem a vantagem de se poder limpar inteirinho só com um pano de pó.